Ontem

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- Me chamou, senhor? - Pergunta a mulher de longos e negros cachos, vestida com terno e gravata.

Theodore Vitae mandou que chamassem Maria King assim que estivesse completamente regenerada do incidente da explosão. Apenas alguns arranhões eram visíveis na pele escura da mulher. Nada grave.

- Sim, senhorita King - Ele puxa a confortável cadeira frente a mesa para ela sentar.

- Bom, já estou aqui - Ela se senta, acomodando-se melhor - Conte-me o que aconteceu. Algum problema relacionado com a mídia?

- Não, não - Ele se adianta em responder - Esses já foram devidamente resolvidos. A chamei aqui para tratar assuntos do dia do acidente com as turbinas.

A mulher assente.

- Perfeito. Sofremos muitas perdas naquela madrugada. Até mesmo estruturais. Porém, a mais importante foi a fuga do menino Rain e de Alexander.

Ela assente novamente.

- Mas algo ainda está na minha cabeça - O homem continua, agora andando livremente pela sala, dando passos lentos - Fui informado através de um dos seguranças que, de alguma forma totalmente desconhecida, eles fugiram pelo elevador executivo. Está entendendo a gravidade da situação?

Ela assente mais uma vez, temendo o rumo daquela conversa.

- Então é agora que vem a parte engraçada disso tudo - Força uma risada e King percebe - Apenas três pessoas têm o acesso ao elevador executivo. Só existem três cartões que possibilitam esse poder.

Ele puxa um cartão azulado de um dos bolsos internos do terno branco.

- O meu - E o põe de frente à secretária.

Puxa outro cartão idêntico ao primeiro, mas de outro bolso.

- O de James Hunk - Coloca-o ao lado esquerdo de onde está o primeiro.

Ele entrelaça os dedos de suas mãos e apoia seus cotovelos na mesa. A encara com um olhar interrogativo.

- E o seu - Não muda a direção do olhar em momento algum. O ato faz com que Maria sinta um certo constrangimento - Onde está o seu, senhorita King?

Ela sabe perfeitamente que está com Alexander Grace. Ela o entregou para que fugisse da Torre Sede com Charlie no dia do incidente das turbinas. Cada fato volta a sua cabeça como se tivessem acontecido ontem.

Ela não sabe, mas cada memória que lembra estava sendo absorvida pela mente aprimorada de Theodore.

- Traição é algo que destrói sistemas, senhorita King - Ele se levanta e reroma seus passos lentos - Tanto que é considerado até mesmo um pecado capital.

Ele puxa uma pistola calibre 22 do coldre escondido pelas dimensões do terno e a aponta para o corpo da secretária. Ela fica sem reação.

- Não devia ter me traído dessa forma, King - Ele fala calmamente - Você foi meu braço direito durante anos. Esteve comigo em todos os momentos. Sempre me orientando em como organizar melhor todas as áreas da empresa. Estive criando um vírus na minha própria casa e não percebi. Porém o mal só é destruído pela raiz.

Ela se levanta da cadeira de veludo.

- Não vai conseguir completar o Plano B, Vitae - Ela cospe as palavras como veneno - Você vai perder como sempre fez.

Ele puxa o gatilho.

A bala a atinge exatamente no estômago. Ela leva as mãos à barriga, mas seus joelhos despencam, a levando ao chão, soltando um baque oco.

Estava morta.

Ele olha o corpo deitado em seu porcelanato.

- Não dessa vez, vadia.

Ele anda para sua mesa e aperta um botão cinza na parte inferior da madeira, fazendo com que uma campainha tocasse. Sua função é criar uma ligação direta com seus funcionários da área de limpeza. Semelhante a um interfone.

- Quero que limpem meu escritório imediatamente - Solta o botão e segue em direção ao grande elevador executivo.

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