Pane

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Então Charlie, finalmente acorda. Seu rosto está molhado e sua respiração, ofegante.

Aquilo o tinha assustado demais. Aquela visão... Não podia permitir que acontecesse.

Não podia permitir que acontecesse.

Olhou para seu lado e viu o rosto calmo de Alexander dormindo. Devia ser, aproximadamente, 2h da madrugada. O pálido sente uma pontada de dor de repente. O abajur voa em direção à cama vazia de Alex, se despedaçando. O menino se levanta bruscamente, fazendo o maior acordar, e correm na direção da porta do quarto, saindo logo em seguida.

- Charlie? - Sua voz ainda soa sonolenta, mas logo afasta a fadiga e nota o que aconteceu. Tenta novamente com maior entoação - Charlie?

Sem resposta. O garoto menor já devia estar longe. O loiro se levanta rapidamente e corre para o corredor além daquela porta.

Quando sai, percebe a ausência de luz. Todas as lâmpadas haviam sido explodidas. Segue o rastro de destruição até o saguão, vendo o corpo do menino correndo em desespero. Sentiu que devia ter sido alguma coisa que o tirara da cama. Algum de seus dons?

Ele corre e toca no ombro de Charlie. Quando faz isso, o garoto fita o rosto mergulhado em lágrimas do menor, que grita e volta a correr, agora na direção à cozinha do refeitório. Todas as cadeiras e mesas são puxadas, contra a vontade do pálido, em sua direção. Era um imã gigante.

Um imã que ele não estava conseguindo controlar.

Era como se o poder estivesse o atacando.

Ele entra na cozinha e fecha a porta, trancando-a logo em seguida. Ele tinha que manter distância de Alexander, para o próprio bem do maior. Talvez o loiro não entendesse mas Charlie estava o protegendo.

O protegendo de sua premonição.

Bom, as visões são sempre subjetivas, então ele podia mudar. Alterar a futura realidade.

O rosto de Charlie. Facas sendo jogadas. As costas de Alexander. Um grito.

Charlie não queria que aquilo acontecesse. Devia evitar. Devia evitar.

Deixa a porta e corre, adentrando ainda mais naquela enorme cozinha. As lâmpadas expodem a cada segundo. Tudo que se pode mover, se move. É arremessado na direção do garoto. Ele acelera o passo para não ser atingido por nada. Não consegue sentir mais nada, só dor. Somente dor.

Se sentia cansado. Aquilo que estava acontecendo, aquela falta de controle, estava absorvendo toda a sua energia. Queria cair e se deitar no chão, mas se fizesse isso, poderia atingir a si mesmo ou a Alexander.

- Charlie! - Grita Alexander, socando a porta com o punho fechado. Vendo que não estava funcionando, defere repetidos chutes ao lado da fechadura da porta - Charlie!

Ele se vira para o barulho atrás de si. Alex conseguiu arrombar a porta trancada e estava correndo em sua direção. Quando volta sua visão para a frente, algo o atinge, fazendo-o cair ao chão. Uma frigideira, presa na balcão a dez metros de distância, veio em direção ao rosto do garoto. A batida formou um pequeno corte em cima de sua sobrancelha direita, fazendo sangue escorrer.

O caos dominava o lugar. Panelas, talheres, copos. Todos sendo arremessados por telecinese. A mente de Charlie estava a mil. Como se tudo estivesse rodando. Percebe que Grace está correndo em sua direção.

Então ele olha para a sua frente. Cerca de cinco facas estão sendo fortemente puxadas de suas bases. Se forem soltas, voariam em sua direção. Mas ele achava melhor ser ferido do que ferir Alex. A dor irritante em sua cabeça continuava, ainda pior do que antes. Não sabia o que aconteceu.

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