10 0 0
                                    

Depois de um banho rápido e vestir uma roupa mais apropriada, Anne desceu as escadas novamente, desta vez pronta para atender Gabriel. Ao olhar pela janela do estúdio, ela o viu encostado numa árvore do outro lado da rua, mexendo no celular. O contraste entre ele e o ambiente ao redor era inegável. Mesmo de longe, Gabriel exalava aquela aura de galã que Anne conhecia bem, mas que preferia ignorar.

Ela abriu a porta e acenou. Gabriel olhou para cima, guardou o celular no bolso e atravessou a rua com um sorriso confiante.

— Espero que não tenha dado uma volta muito longa — disse Anne, meio brincando, enquanto ele entrava no estúdio.

— Não, deu tempo de tomar um café e responder algumas mensagens — ele riu. — Pronta para o desafio?

Anne arqueou uma sobrancelha enquanto organizava as tintas e agulhas na mesa. — Isso depende do que você quer fazer. Pode ser que eu esteja lidando com algo... simples ou com algo épico. Qual vai ser?

Gabriel se aproximou, tirando uma folha dobrada do bolso e entregando a ela. Anne desdobrou o papel com cuidado, revelando o esboço de um símbolo elegante, algo que parecia uma mistura de tradições antigas e modernas. Ela inclinou a cabeça, analisando os detalhes.

— Uau, isso é bem específico. Foi você quem desenhou? — ela perguntou, genuinamente impressionada.

Gabriel deu de ombros. — Na verdade, foi o meu antigo tatuador. A gente vinha trabalhando nesse design há meses. Quero que ele seja no meu antebraço.

Anne olhou para o braço de Gabriel, já coberto de algumas tatuagens impressionantes. Ele claramente sabia o que queria, e ela sentiu uma leve pressão em corresponder às expectativas.

— Bom, é um ótimo design. Vai dar trabalho, mas eu gosto de desafios. — Ela sorriu, acenando para ele sentar-se na cadeira.

Enquanto preparava o equipamento, Anne percebeu que Gabriel estava mais à vontade do que a maioria dos clientes que ela recebia. Ele parecia não se incomodar com o silêncio, observando o estúdio, os detalhes nas paredes decoradas com obras de arte e as plantas que preenchiam o ambiente.

— E você? Faz tempo que mora em Madrid? — ele perguntou, quebrando o silêncio.

— Faz uns três anos — ela respondeu, ajustando a máquina de tatuagem. — Vim do Brasil e decidi que queria abrir meu próprio estúdio por aqui. Deu mais certo do que eu imaginava, pra ser sincera.

Gabriel ergueu as sobrancelhas. — Isso é incrível. Você veio sozinha? Sem conhecer ninguém?

— Basicamente. Mas Madrid tem sido boa comigo. E você? Sempre por aqui ou vai para onde os filmes te levam?

Ele riu, como se a resposta fosse óbvia. — Um pouco de cada. Eu moro aqui, mas o trabalho me leva para vários lugares. Acabo ficando um pouco em cada canto. Mas Madrid é casa.

Anne assentiu, compreendendo. Ambos compartilhavam esse sentimento de estar em constante movimento, embora por razões diferentes. Era interessante ver como eles, apesar de mundos diferentes, tinham algo em comum.

— Tudo pronto — ela disse, aproximando a máquina do braço dele. — Pronto pra sentir um pouco de dor?

Gabriel olhou para o braço e depois para ela, sorrindo de canto. — Pode vir. A dor faz parte do processo, né?

Com a máquina ligada, o som familiar encheu o estúdio, e Anne começou o traço com precisão. Ela era uma profissional, mas não podia deixar de notar o quanto Gabriel estava relaxado. A maioria dos clientes estava tensa no início de uma sessão, mas ele parecia quase... confortável.

— Sabe, você parece bem tranquilo pra alguém que vai ficar horas sentado sentindo agulhas no braço — ela comentou, rindo.

— Ah, isso aqui é tranquilo. Já passei por cenas de ação muito piores. Isso aqui é fichinha — ele respondeu, tentando manter a pose de durão.

Anne riu alto. — Ah, claro. Eu esqueço que você faz parte desse mundo de glamour e ação.

Gabriel deu de ombros, o sorriso descontraído nunca saindo do rosto. — Às vezes é só isso mesmo: glamour. Mas no fundo, todo mundo é igual quando está com uma agulha na pele.

Eles riram juntos, e a sessão continuou assim, com conversas leves e descontraídas. Anne focada em seu trabalho, Gabriel entretido com as histórias que ela contava sobre sua vida no Brasil, as peripécias de abrir um estúdio sozinha e o choque cultural que enfrentou no começo.

E assim, a primeira sessão passou voando. Ambos estavam à vontade, como se já se conhecessem há muito tempo. Quando terminou o traçado inicial, Anne olhou satisfeita para o trabalho.

— Acho que por hoje terminamos. Vou te dar uns dias pra isso aqui cicatrizar antes de fazermos os detalhes finais — ela disse, limpando o braço dele.

Gabriel olhou para a tatuagem e sorriu. — Ficou incrível, Anne. Você realmente sabe o que faz.

Ela deu de ombros, com um sorriso tímido. — Só estou fazendo meu trabalho. Mas fico feliz que tenha gostado.

Quando ele se levantou para sair, olhou para Anne com uma expressão de curiosidade. — Então, você gosta de bares? A gente podia sair qualquer dia desses pra tomar alguma coisa... puramente profissional, claro.

Anne riu, balançando a cabeça. — Veremos, Guevara. Veremos.

E com isso, ele saiu do estúdio, deixando Anne com um sorriso no rosto e a sensação de que aquele encontro seria o primeiro de muitos. Mas, por enquanto, era apenas profissional.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora