Gabriel sentiu o coração acelerar quando percebeu que havia aberto a porta para uma conversa mais profunda com Anne. Eles estavam parados na calçada, enquanto a noite de Madrid pulsava ao redor deles. O ar estava fresco, e as luzes da cidade brilhavam como estrelas em uma tela. Ele respirou fundo, tentando organizar os pensamentos que se aglomeravam em sua mente.— O que você gostaria de compartilhar? — Anne perguntou, inclinando a cabeça, curiosa e atenta.
Gabriel hesitou, não sabia exatamente por onde começar. Havia tantas facetas de sua vida que ele guardava para si, mas, por alguma razão, se sentia seguro o suficiente para abrir-se para ela.
— Bem, eu sinto que, na maior parte do tempo, as pessoas me veem apenas como o ator que aparece na tela. — Ele fez uma pausa, procurando as palavras certas. — Mas tem muito mais do que isso. Às vezes, é como se eu estivesse vivendo uma peça de teatro, onde todos esperam que eu desempenhe um papel específico, e eu não posso me desviar muito disso.
Anne o ouviu atentamente, seu olhar incentivando-o a continuar.
— Eu sempre fui o tipo de pessoa que se sentiu pressionada a manter uma imagem. É fácil perder a noção do que realmente importa. As pessoas não conhecem os desafios que enfrento. — Ele olhou para o chão por um momento, sentindo-se vulnerável. — E eu tenho medo de que, se as pessoas souberem quem eu realmente sou, elas não gostarão mais de mim.
— Gabriel... — Anne começou, mas ele a interrompeu, precisando desabafar.
— Não é só isso. Minha vida é cheia de eventos, festas, e muitas vezes sinto que estou cercado por pessoas que não têm interesse em mim, mas apenas no "Gabriel Guevara, o ator". Isso me deixa solitário.
Havia um peso nas palavras dele, e Anne podia sentir a carga emocional que ele carregava.
— Eu não quero que você sinta que precisa ser alguém que você não é — ela disse suavemente. — É por isso que eu gosto de passar tempo com você. Para mim, você é só Gabriel. Não o ator, não a imagem pública, mas o cara que gosta de assistir filmes e ri de piadas bobas.
Ele ergueu os olhos, surpreendido com a sinceridade dela. As palavras de Anne foram como um bálsamo, curando as feridas invisíveis que ele carregava.
— Obrigado, Anne. Eu realmente aprecio isso. — Ele sorriu, mas ainda havia uma fragilidade em seu olhar. — Eu quero que você saiba que não estou procurando uma heroína na minha vida, mas, ao mesmo tempo, me sinto bem quando estou com você. Sinto que posso ser eu mesmo.
Anne sorriu de volta, um sorriso genuíno que fez Gabriel se sentir um pouco mais à vontade.
— Eu também gosto de estar com você. E pode ter certeza que sou eu mesma também. Não tenho interesse em jogos ou em impressões falsas.
Uma onda de alívio percorreu Gabriel. Aquela conversa não estava se transformando em algo pesado; ao contrário, parecia fortalecer a amizade deles.
— Às vezes, me pergunto como seria se nós não estivéssemos em lados diferentes dessa indústria — ele disse, olhando para o céu. — Como se fôssemos apenas duas pessoas normais que se conheceram de forma aleatória.
— Eu também pensei nisso — ela concordou. — Mas eu gosto de como as coisas estão indo agora. Não precisamos apressar nada.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, absorvendo as palavras e a atmosfera ao redor. A conexão que eles estavam construindo era mais forte do que qualquer relacionamento superficial que Gabriel já tivera antes. Ele percebeu que estar aberto e vulnerável com Anne o fazia sentir-se mais leve.
— Então, o que você vai fazer agora? — ele perguntou, tentando mudar o foco da conversa para algo mais leve.
— Estava pensando em fazer um jantar simples. Posso fazer algo para você também, se quiser.
Gabriel sorriu, imaginando-se na cozinha de Anne, rindo enquanto ela tentava fazer alguma receita nova.
— Sabe, eu adoraria ajudar. Eu sou um cozinheiro razoável — ele disse, tentando parecer convencente.
Anne arqueou uma sobrancelha, cética. — Cozinheiro, é? Vamos ver se você não está exagerando.
— Prometo que não vou queimar a cozinha — ele respondeu, rindo.
— Fechado! Assim que você me chamar, estarei lá.
Enquanto se despediam, Gabriel sentiu que a amizade deles estava se aprofundando ainda mais. Ele não sabia onde isso os levaria, mas estava disposto a descobrir. O mais importante era que ele havia começado a se abrir, e com Anne, tudo parecia mais fácil.
À medida que caminhava para casa, ele se sentia mais leve, como se finalmente tivesse começado a desatar os nós que o prendiam. Ele estava animado para ver onde essa nova amizade os levaria, mas também um pouco ansioso. O que mais ele descobriria sobre si mesmo ao lado de Anne?
A noite prometia ser apenas o começo de algo que poderia mudar tudo.
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Arte na Pele - Gabriel Guevara
FanfictionApós uma desilusão amorosa Anne se muda para a Espanha para recomeçar