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Era uma tarde quente de quinta-feira quando Anne decidiu dar uma pausa em seu trabalho no estúdio e sair para caminhar. O lugar estava tranquilo, a luz suave da tarde refletindo nas paredes das lojas e restaurantes ao longo da rua. Ela gostava desses momentos de solidão, quando podia simplesmente respirar e deixar a mente fluir sem pressões ou responsabilidades. Mas, dessa vez, as coisas não seriam tão simples.

Enquanto caminhava pelas calçadas movimentadas de Madrid, com a mente vagando para os detalhes da semana, ouviu uma voz familiar.

"Anne."

Ela parou instantaneamente, o som da voz reverberando em sua mente. Um eco do passado que ela preferia manter adormecido. Ela se virou lentamente, e ali estava Thomas, o ex-namorado com quem ela havia terminado há três anos. O mesmo olhar, a mesma postura confiante, mas algo havia mudado nele. Ele parecia mais decidido, talvez até mais determinado.

"Thomas..." ela disse, com uma mistura de surpresa e apreensão. "O que você está fazendo aqui?"

Thomas se aproximou dela, seu sorriso desconcertante, como se o tempo não tivesse passado. Ele sempre soubera como fazer ela se sentir desconfortável e confortável ao mesmo tempo. Aquele sorriso ainda tinha o poder de deixá-la desconcertada, mas não de voltar atrás no que havia decidido.

"Eu moro aqui agora", ele respondeu, com um tom casual. "Estava em uma reunião perto do seu estúdio e achei que seria bom te ver."

Anne manteve a postura, embora o desconforto crescesse dentro dela. "Você não deveria estar me procurando, Thomas. Já faz três anos."

Ele deu de ombros, o olhar suave, mas a insistência em sua voz não passou despercebida. "Eu sei que você seguiu em frente, Anne. Eu também segui, mas não consigo deixar isso em aberto. Acho que ainda há algo entre nós. Eu só queria conversar."

Anne balançou a cabeça, seu rosto se fechando. Ela não queria mais aquela conversa. Não com ele, não agora. Mas antes que pudesse dar qualquer resposta, ela ouviu uma voz familiar ao longe.

"Anne."

Era Gabriel, vindo na direção deles. Ele estava em um ritmo calmo, mas quando viu Anne e Thomas juntos, o olhar de Gabriel mudou instantaneamente. Ele percebeu a tensão no ar e, sem pensar duas vezes, foi até eles.

"Thomas", Gabriel disse, sua voz fria, mas sem disfarçar o desconforto. "O que você está fazendo aqui?"

Thomas olhou para Gabriel com um sorriso irônico. "Parece que estamos todos no mesmo lugar, não é? Só estava conversando com a Anne."

A situação ficou desconfortável rapidamente. Anne sentiu a tensão subir como se estivesse prestes a explodir. Ela já sabia onde isso iria dar, mas nada preparava para o que aconteceria a seguir.

"Você deveria saber que ela não tem nada com você, Thomas", Gabriel disse, com uma raiva latente na voz. "Ela seguiu em frente. E eu também, se você não percebeu."

Thomas riu, mas o som não foi agradável. "Eu sei que ela seguiu em frente, Gabriel. Mas não estou falando de seguir em frente. Estou falando de... voltar. Às vezes, as coisas não acabam quando a gente quer que acabem."

O tom de Thomas se tornou mais provocativo. Anne tentou se afastar, mas sentiu-se paralisada, como se o que estivesse acontecendo entre eles fosse inevitável. Gabriel, por sua vez, estava claramente irritado. Ela sabia que ele não gostava de ver ela sendo abordada por alguém de seu passado, especialmente alguém com quem ela havia compartilhado tanto.

"Thomas, não vou dizer de novo. Você não tem mais lugar na vida dela. Então, por favor, se afaste." Gabriel estava mais tenso agora, sua expressão mais séria.

"Ou o que, Gabriel?" Thomas respondeu, os olhos desafiando. "Vai me ameaçar? Porque eu também não tenho medo de você."

Anne interveio, tentando acalmar a situação, mas sua voz estava trêmula de nervosismo. "Gabriel, Thomas, parem. Não é isso que eu quero. Já acabou, ok? Eu terminei com ele por uma razão. Não precisamos fazer disso um espetáculo."

Gabriel olhou para ela, e depois para Thomas, sem dizer uma palavra. A raiva de Gabriel ainda estava visível em cada músculo de seu corpo. Ele respirou fundo, mas não tirou os olhos de Thomas.

"Está tudo bem, Anne", Gabriel disse, suavizando o tom, mas ainda com um olhar ameaçador para Thomas. "Eu só não gosto da ideia de você sendo importunada por ele."

Thomas não respondeu, mas a tensão ainda pairava no ar, como se algo ainda estivesse prestes a acontecer. Anne olhou para Gabriel, sentindo-se dividida entre a necessidade de colocar tudo para fora e a vontade de simplesmente deixar o passado no passado.

"Eu vou embora", Thomas disse finalmente, seu tom se tornando mais amargo. "Mas esse não é o fim, Anne. Lembre-se disso."

Com essas palavras, ele se afastou, deixando Anne e Gabriel sozinhos. A sensação de alívio foi imediata, mas, ao mesmo tempo, Anne sentia que algo havia mudado naquele momento. Ela e Gabriel estavam de volta à realidade de suas próprias escolhas, mas o peso da presença de Thomas ainda estava no ar.

Gabriel olhou para Anne, sem saber exatamente o que dizer. Ele sabia que aquela cena poderia ter mexido com ela de formas que ele não entendia completamente.

"Está tudo bem?", ele perguntou, com um tom de preocupação.

Anne respirou fundo, tentando afastar a inquietação dentro de si. "Sim... está. Eu só não esperava que ele ainda estivesse por aí. Achei que ele já tivesse seguido a vida dele."

Gabriel deu um passo à frente, tocando suavemente o ombro dela. "Eu estou aqui, Anne. Você não precisa lidar com isso sozinha."

Ela olhou para ele, sentindo a confiança que ele transmitia. Ela ainda estava lidando com os fantasmas do passado, mas sabia que, com Gabriel, ela não estava sozinha. E isso, de alguma forma, a acalmava.

"Obrigada, Gabriel. Eu realmente precisava ouvir isso", ela disse, sorrindo de maneira suave.

"Então, vamos fazer isso direito", ele disse, com um sorriso tranquilo. "Vamos deixar o passado para trás e seguir em frente. Eu estou com você."

Anne sentiu um alívio crescente, uma sensação de que talvez agora, com Gabriel ao seu lado, as sombras do passado não fossem tão pesadas. Eles continuaram a caminhar pela rua, de mãos dadas, com a sensação de que o que estavam construindo era mais forte do que qualquer coisa que tivesse tentado separá-los.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora