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Ao retornar para Madrid, Anne sentiu um misto de alívio e ansiedade. A viagem de volta, que deveria ter sido tranquila, foi permeada de pensamentos sobre Thomas e o que ele estava tramando. O calor acolhedor da casa de praia foi substituído pelo ambiente mais agitado e urbano de Madrid, e isso apenas aumentava o sentimento de urgência dentro dela.

Assim que chegaram ao apartamento de Anne, ela imediatamente verificou se tudo estava em ordem. A ideia de Thomas ter entrado ali enquanto ela estava fora a incomodava profundamente, mas para seu alívio, nada parecia fora do lugar. Gabriel ajudava a desempacotar as coisas, mas ele estava visivelmente atento a qualquer sinal de problema.

— Vamos lidar com isso logo — disse Gabriel, firme. — Não quero que ele continue te perseguindo.

Anne assentiu, sentindo uma onda de gratidão por não precisar enfrentar aquela situação sozinha. Desde que voltaram, ele não a deixava lidar com nada por conta própria, sempre ali, garantindo que ela se sentisse protegida.

No dia seguinte, Gabriel e Anne foram a um advogado para discutir as opções de uma ordem de restrição. O advogado foi direto ao ponto: Thomas claramente estava cruzando limites, e eles precisavam agir rápido para garantir a segurança de Anne. Era algo que ela nunca imaginou que faria — tomar medidas legais contra alguém com quem já teve um relacionamento —, mas a situação havia saído de controle.

Assim que saíram do escritório, a sensação de ter algum controle de volta era visível em Anne. Porém, ela sabia que Thomas não era do tipo que desistiria facilmente.

Naquela noite, Gabriel e Lizzie foram para a casa dele, e Anne decidiu que precisava de um momento sozinha para processar tudo. Ela tomou um banho quente, tentando relaxar, mas sua mente não a deixava descansar completamente.

Por volta das 10 da noite, ela ouviu uma batida na porta. Seu corpo inteiro congelou por um segundo. Ninguém aparecia no seu apartamento sem avisar, especialmente àquela hora.

Com o coração acelerado, Anne foi até a porta, e quando olhou pelo olho mágico, sentiu o sangue fugir de seu rosto. Era Thomas.

— Anne, eu sei que você está aí. — A voz dele soava desesperada do outro lado da porta. — A gente precisa conversar. Eu não vou sair daqui até você me ouvir!

Ela ficou paralisada, sem saber o que fazer. Ele nunca havia sido tão insistente assim. A última coisa que ela queria era abrir a porta, mas também sabia que ele poderia fazer algo mais drástico se ela ignorasse.

Antes que ela pudesse tomar uma decisão, o telefone tocou. Era Gabriel.

— Anne, eu estou voltando aí. — A voz dele era séria. — Estou a caminho. Fique calma, vou chegar logo.

Anne respirou fundo, sentindo o pânico se dissolver um pouco com a certeza de que Gabriel estava a caminho. No entanto, o medo permanecia presente. Ela não sabia o que Thomas poderia fazer.

— Thomas, vai embora! — Anne gritou da porta, tentando manter a voz firme. — Não temos mais nada para conversar. Você precisa seguir em frente, isso não é saudável.

Do outro lado da porta, o silêncio dominou por alguns segundos, até que a voz dele, agora mais agressiva, respondeu:

— Eu não vou embora, Anne! Eu sei que você ainda sente alguma coisa por mim! Não pode estar com aquele cara... Você sempre foi minha, e isso não vai mudar!

A raiva e o medo começaram a se misturar em Anne. Como ele ainda podia pensar assim depois de tanto tempo? Como ele conseguia ser tão obcecado a ponto de não enxergar a realidade?

Ela começou a considerar chamar a polícia, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, escutou passos rápidos no corredor. A porta do elevador se abriu, e Gabriel surgiu. Ele parou por um momento, percebendo Thomas à porta, e a tensão no ar aumentou instantaneamente.

— Você de novo? — A voz de Gabriel era fria, mas controlada. — Já disse para você deixar a Anne em paz.

Thomas virou-se lentamente para Gabriel, com um olhar cheio de ressentimento. — Você não tem ideia do que está fazendo. Anne nunca foi sua, e ela não vai ficar com você. Você acha que pode simplesmente roubar minha vida?

Gabriel caminhou até a porta, ficando a poucos metros de Thomas. — A vida que você diz ser sua acabou faz muito tempo, Thomas. Você precisa seguir em frente, do contrário, isso vai acabar mal para você.

Os dois se encararam por um momento, e Anne, sentindo a tensão crescer, finalmente decidiu intervir. Ela abriu a porta, posicionando-se entre os dois.

— Eu não sou de ninguém, Thomas — disse Anne, olhando diretamente nos olhos dele. — Eu terminei com você há três anos, e você precisa entender que isso nunca vai mudar. Gabriel está comigo agora, e você precisa aceitar isso.

Thomas deu um passo à frente, mas Gabriel imediatamente o segurou pelo ombro, impedindo-o de se aproximar.

— Eu vou chamar a polícia se você continuar com isso, Thomas. — A voz de Gabriel era calma, mas carregada de ameaça.

Thomas olhou de Anne para Gabriel e, por um momento, parecia que ele finalmente ia desistir. Mas então, com um suspiro pesado, ele balançou a cabeça.

— Isso não acaba aqui. — Ele se afastou, apontando para os dois. — Você vai perceber que cometeu um erro, Anne. E quando isso acontecer, eu vou estar esperando.

Com essas palavras, ele se virou e saiu pelo corredor, desaparecendo no elevador. Anne finalmente soltou a respiração que não percebeu que estava prendendo.

Gabriel se aproximou dela, colocando as mãos nos ombros de Anne para acalmá-la. — Ele não vai mais te incomodar. Vamos resolver isso legalmente.

Anne assentiu, sentindo as lágrimas se formarem em seus olhos, mas não de medo — de alívio. Estava cansada de viver sob a sombra de Thomas, mas agora, com Gabriel ao seu lado, ela sabia que poderia enfrentar o que viesse.

— Obrigada por estar aqui, Gabriel — disse ela, abraçando-o.

Ele a segurou firme, beijando o topo de sua cabeça. — Eu sempre vou estar aqui, Anne. Você não está sozinha nessa.

Enquanto o som do elevador desaparecia, Anne finalmente se permitiu acreditar que o capítulo mais sombrio de sua vida estava prestes a terminar. Agora, com Gabriel e a vida que estavam construindo juntos, ela poderia finalmente seguir em frente, livre de seu passado.

Mas, no fundo, ela sabia que Thomas não desistiria tão facilmente.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora