Arte na Pele - Gabriel Guevara

14°

Anne estava voltando do café com Clara, o vento suave de Madrid batendo em seu rosto enquanto ela repassava a conversa na cabeça. Sentia-se um pouco mais tranquila sobre tudo com Gabriel, mas sabia que, no fundo, as coisas ainda estavam se desenrolando dentro dela. A vida estava tomando rumos que ela não havia planejado, e isso a deixava ansiosa. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de si estava animada com o desconhecido.

Quando chegou em casa, jogou as chaves na mesa e foi direto para o sofá, ainda perdida nos pensamentos. O celular vibrou em cima da mesa. Ela pegou o aparelho e viu uma mensagem de Gabriel:

_"Hey, o que acha de a gente jantar hoje? Queria te mostrar um lugar que adoro."_

Anne sorriu, sentindo uma pontada de animação no peito. Era estranho como ele conseguia deixá-la confortável e inquieta ao mesmo tempo. Ela digitou rapidamente uma resposta confirmando o encontro e levantou-se para se arrumar.

Algumas horas depois, Gabriel a buscou. O restaurante era pequeno e aconchegante, com uma vista espetacular para o pôr do sol. O clima entre eles estava leve, e durante o jantar, tudo parecia fluir com naturalidade. Eles riam, conversavam sobre música, filmes e tatuagens. Anne quase havia esquecido seus medos por completo.

Quando estavam saindo do restaurante, Gabriel pegou a mão de Anne de forma carinhosa, e ela, ainda que surpresa, deixou. Caminharam lado a lado pelas ruas de Madrid, conversando sobre assuntos aleatórios. Até que Gabriel parou de repente, olhando para ela com uma expressão que Anne não conseguiu decifrar.

— Preciso te contar uma coisa — disse ele, a voz repentinamente séria.

Anne franziu o cenho, sem entender a mudança repentina.

— O que foi? — perguntou, um pouco hesitante.

Gabriel respirou fundo, claramente nervoso, o que era algo incomum para ele.

— Eu não sou exatamente quem você pensa que eu sou.

Anne congelou, sentindo uma onda de confusão. Sua mente começou a correr com pensamentos, mas Gabriel logo continuou antes que ela pudesse dizer algo.

— Bom, eu sou o Gabriel Guevara, claro, e tudo o que te contei sobre minha vida e carreira é verdade. Mas tem uma coisa sobre mim que eu nunca falei, porque nunca achei que fosse importante... até agora.

Anne o encarou, seu coração batendo mais rápido.

— O que você quer dizer? — ela perguntou, tentando manter a calma, mas já começando a sentir uma tensão no ar.

Gabriel mordeu o lábio e desviou o olhar por um segundo, antes de finalmente soltar a verdade.

— Eu sou pai. Tenho uma filha de 2 anos, Lizzie.

Anne ficou em silêncio, a revelação a atingindo como um choque. Pai? Uma filha? Nada na vida de Gabriel até então havia indicado isso. Ela não sabia o que pensar. Suas emoções estavam uma bagunça, e por alguns segundos, ela não sabia como reagir.

— Por que você nunca me contou isso antes? — Anne finalmente conseguiu perguntar, tentando processar a informação.

Gabriel passou a mão pelos cabelos, claramente frustrado consigo mesmo.

— Eu não sabia como te dizer. Eu... não queria que você achasse que eu estava escondendo algo importante. Só... sempre foi complicado. A mãe dela e eu não estamos juntos, nunca tivemos uma relação, ela veio depois de uma transa casual que tivemos e a camisinha acabou por estourar e a pílula não funcionou. Lizzie é incrível, e eu sempre tento estar presente o máximo que posso, mas não queria te assustar.

Anne ficou olhando para ele, ainda absorvendo tudo. O que isso mudava, afinal? Ela não sabia, mas de alguma forma, essa revelação trazia um novo peso para a relação deles. Gabriel não era apenas o ator famoso e descolado que ela pensava conhecer. Ele era pai, tinha uma responsabilidade maior do que ela jamais imaginou.

— Eu... não sei o que dizer, Gabriel — admitiu, sua voz mais baixa do que antes.

Ele suspirou, parecendo entender sua confusão.

— Não estou pedindo para você tomar uma decisão agora, nem estou tentando te forçar a aceitar nada. Só achei que você tinha o direito de saber. Se isso mudar qualquer coisa entre nós, eu vou entender.

Anne balançou a cabeça, ainda em choque, mas sabia que precisava de tempo para pensar.

— Não muda tudo... Mas eu preciso processar isso, sabe? Isso é grande.

Gabriel assentiu.

— Eu entendo. Só queria ser honesto com você.

Eles continuaram caminhando em silêncio, a atmosfera diferente agora. Anne sabia que não podia tomar nenhuma decisão naquele momento. Precisava de espaço, de tempo para entender o que essa nova informação significava para ela e para o que eles estavam começando a construir juntos.

Ao chegarem na porta de seu prédio, Anne virou-se para Gabriel, ainda com muitas perguntas na cabeça, mas sabendo que precisavam de uma pausa.

— Acho que precisamos de um tempo para pensar — ela disse, tentando sorrir de forma encorajadora.

Gabriel concordou, embora parecesse um pouco abatido.

— Claro. Toma o tempo que precisar, e... me avisa quando quiser conversar.

Anne assentiu, e sem mais palavras, entrou em seu prédio, subindo as escadas com a mente a mil. Gabriel tinha uma filha. Isso mudava tudo, mas ao mesmo tempo, o que ela sentia por ele não desapareceria tão facilmente. Ela precisava pensar, precisava entender como isso se encaixava na vida que ela estava tentando construir.

Ao fechar a porta de seu apartamento, Anne encostou-se contra ela, respirando fundo. Aquilo era mais do que ela esperava, mais do que havia imaginado. E agora, tudo parecia mais complicado do que nunca.