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Os dias passaram voando, e Anne estava focada no trabalho como de costume. Seu estúdio tinha se tornado um ponto de referência em Madrid, e o agendamento de clientes estava sempre cheio. Entre uma sessão e outra, ela pensava no próximo encontro com Gabriel para continuar a tatuagem. A primeira sessão tinha sido tranquila, mas ela sabia que a parte final seria mais desafiadora, tanto técnica quanto em termos de tempo.

Foi numa tarde de quarta-feira, quando Anne estava terminando uma tatuagem delicada em uma cliente, que seu celular vibrou no balcão. Ela não costumava mexer no telefone durante o trabalho, mas, por reflexo, deu uma rápida olhada na tela. Uma mensagem de número desconhecido:

"Oi, aqui é o Gabriel. Podemos marcar a próxima sessão?"

Ela sorriu ao ler a mensagem e respondeu rapidamente, tentando não se distrair muito. Depois de algumas trocas de mensagens, marcaram para o sábado de manhã.

Quando o sábado chegou, Gabriel apareceu no estúdio pontualmente. Dessa vez, ele usava uma camiseta simples e uma jaqueta jeans, um visual casual que o fazia parecer mais como alguém que poderia ser seu vizinho do que uma celebridade. Ele entrou com um sorriso fácil, como se aquela fosse mais uma visita corriqueira.

— Bom dia! — ele disse, tirando os óculos de sol ao entrar.

— Bom dia! Pronto para a segunda rodada? — Anne perguntou, enquanto terminava de preparar as tintas e a máquina.

Gabriel se sentou na cadeira, já familiarizado com o processo. — Pronto, como sempre. E você? Como tem sido a semana?

— Agitada, como sempre. Mas isso é bom, né? Pelo menos significa que o estúdio está funcionando — respondeu ela, ajustando a máquina. — E você? Filmando algo novo?

Gabriel riu. — Na verdade, estou em uma pequena pausa. Vou começar um projeto novo em breve, mas estou aproveitando o tempo livre enquanto posso.

— Isso é bom — Anne respondeu, aproximando-se dele. — Todos precisam de uma pausa de vez em quando.

A sessão começou tranquilamente, com Anne concentrada nos detalhes finais da tatuagem. O som da máquina preenchia o estúdio, enquanto Gabriel mantinha o braço imóvel, acostumado ao processo. A conversa entre eles fluiu mais devagar dessa vez, mas o silêncio não era desconfortável. Na verdade, havia algo reconfortante na calma do momento.

— Como está? — Anne perguntou depois de um tempo, enquanto fazia uma pausa para trocar a agulha.

— Tá tranquilo. Na verdade, eu poderia dormir aqui — ele brincou, fechando os olhos por um momento.

— Ah, claro. Dormir enquanto eu te furo com agulhas. Super relaxante — Anne disse com sarcasmo, mas com um sorriso nos lábios.

— Já te disse, eu sou resistente — ele respondeu com uma piscadela.

Quando a tatuagem estava quase finalizada, a porta do estúdio se abriu, e um grupo de três amigos entrou, conversando alto. Anne ergueu os olhos e viu que eles estavam um pouco perdidos.

— E aí, gente? — ela chamou. — Só um minuto que já atendo vocês.

Os amigos pararam ao ver Gabriel sentado na cadeira, reconhecendo-o imediatamente. Começaram a cochichar entre si, claramente tentando decidir se deveriam abordá-lo ou não. Gabriel, percebendo a situação, sorriu de canto e acenou levemente para eles.

— Tudo bem, podem chegar perto. Não mordo — ele disse, descontraído.

Anne observou enquanto os três se aproximavam, um pouco tímidos. Um deles finalmente tomou coragem para falar.

— Você... é o Gabriel Guevara, né? Do filme Culpa Mia? A gente viu o filme várias vezes!

Gabriel deu um sorriso simpático e assentiu. — Esse mesmo. Fico feliz que tenham gostado.

Os amigos ficaram claramente animados com a confirmação, mas tentaram não incomodar muito. Pediram uma selfie rápida, e Gabriel, sempre gentil, concordou. Anne, de canto, observava a cena com um sorriso discreto. Era curioso ver como ele lidava com a fama de forma tão tranquila, como se fosse apenas mais um dia comum.

— Valeu, cara. E desculpa atrapalhar — disse um dos amigos, antes de saírem.

Gabriel voltou a se acomodar na cadeira, dando um leve suspiro. — Isso acontece com mais frequência do que eu gostaria.

— Eu imagino. Mas você lida bem com isso — disse Anne, retomando seu trabalho.

— É, faz parte. Só tento não deixar que isso me afete muito. No fim do dia, sou só uma pessoa normal, sabe? — Ele olhou para Anne, buscando algum tipo de entendimento.

Ela assentiu, compreendendo. — Acho que é fácil esquecer isso quando as pessoas te veem apenas pela tela. Mas dá pra perceber que você lida com isso de um jeito... leve.

Gabriel deu um pequeno sorriso. — É, tento manter assim.

A sessão terminou pouco depois. Anne deu os últimos retoques na tatuagem e limpou o braço dele, satisfeita com o resultado. Gabriel olhou para o espelho, admirando o trabalho.

— Ficou incrível, de novo. Sério, Anne, você é uma artista.

Ela sorriu, ligeiramente envergonhada pelo elogio. — Bom, faço o melhor que posso.

Enquanto ele se preparava para sair, Gabriel hesitou um pouco, como se estivesse pensando em algo.

— Sabe, você mencionou que curte bares com música ao vivo, né? — ele perguntou, meio casual.

Anne olhou para ele, surpresa com a mudança de assunto. — Sim, gosto bastante. Por quê?

— Tem um lugar aqui perto que toca umas bandas bem legais. Pensei que talvez a gente pudesse sair qualquer dia desses. Você sabe... ouvir música, tomar uma bebida.

Ela ficou em silêncio por um segundo, pensando na proposta. Não era exatamente um convite romântico, mas também não parecia totalmente casual. Ainda assim, a ideia parecia agradável.

— Parece uma boa ideia — ela respondeu, sorrindo. — Vamos combinar, sim.

Gabriel deu um sorriso satisfeito. — Fechado. Eu te aviso quando for um bom dia.

Ele deu um último aceno antes de sair do estúdio, e Anne ficou ali, sentindo uma leve ansiedade que não costumava sentir. Não era algo ruim, apenas... diferente.

Ao limpar a bancada e se preparar para o próximo cliente, Anne percebeu que Gabriel estava começando a ocupar mais espaço em seus pensamentos do que ela esperava. Mas, por enquanto, tudo ainda estava dentro dos limites profissionais. E ela estava determinada a manter assim. Pelo menos, por enquanto.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora