Arte na Pele - Gabriel Guevara

22°

•GABRIEL•
Enquanto o tempo passa, as coisas que realmente importam começam a se revelar. Eu sempre soube que minha vida, de alguma forma, tinha dois caminhos que se entrelaçavam. O profissional, com todos os seus altos e baixos, e o pessoal, onde as verdadeiras lições aconteciam.

À medida que minha relação com Anne se intensificava, eu me pegava refletindo sobre o que realmente queria para o futuro. Não se tratava apenas de nós dois, mas de Lizzie, do meu papel como pai, da forma como minha vida havia tomado contornos que eu nunca imaginei.

Mas a verdade é que, com Anne, eu sentia que algo estava se transformando. Não era só sobre o simples fato de estarmos juntos, mas sobre a profundidade com que as coisas estavam se conectando. Eu não queria mais pensar em como as coisas poderiam dar errado, porque, a cada dia, parecia mais claro que estávamos criando algo sólido, algo que valia a pena.

Depois do jantar em minha casa, as coisas não tinham mais volta. Anne, com seu jeito único, começava a fazer parte do meu mundo de uma forma natural. Lizzie, com seus dois anos, adorava a companhia de Anne. Ela sempre perguntava quando ela viria de novo, ou quando poderia brincar com ela. E, para mim, ver as duas interagindo de uma maneira tão genuína, sem pressa, sem pressão, era mais do que eu poderia pedir.

Eu sempre tive medo, sabe? Medo de que minha vida mudasse tanto, de que as responsabilidades se acumulassem. Eu sempre temi me perder em meio ao que parecia ser um turbilhão. Mas, aos poucos, descobri que as coisas aconteciam por um motivo.

No trabalho, as filmagens estavam a todo vapor, e eu tinha me empenhado mais do que nunca. Cada cena, cada linha de diálogo, cada movimento de câmera, era uma oportunidade de me renovar, de provar que ainda tinha algo a oferecer como ator. Mas quando o dia acabava, e as luzes do set se apagavam, o que eu realmente queria era voltar para casa, para minha filha e para Anne.

Enquanto Anne e eu começávamos a explorar essa nova dinâmica, eu percebia como era importante a confiança que estávamos construindo. Sabíamos que as coisas não iam ser fáceis o tempo todo, mas estávamos dispostos a caminhar juntos, sem pressa de chegar a lugar algum, mas sim, de viver o que tínhamos agora.

***

Anne estava em casa, no estúdio, trabalhando em um novo projeto de tatuagem. Eu sabia que ela amava seu trabalho, e que o estúdio representava uma parte importante da sua vida. Eu nunca quis interferir nesse espaço dela, mas, de vez em quando, ela me convidava para passar ali e ver como as coisas estavam indo. Aquele lugar, com sua energia criativa e vibrante, tinha algo que me atraía.

Eu havia prometido a ela que não iria pressioná-la, que daria o espaço que ela precisava. E eu cumpri minha palavra. Não era sobre apressar as coisas ou forçar uma mudança. Era sobre respeitar o ritmo dela, assim como ela respeitava o meu.

De volta ao meu apartamento, eu refletia sobre como a presença dela estava se tornando cada vez mais constante e essencial para mim. Não éramos perfeitos, longe disso. Mas havia algo mágico, algo real nas pequenas coisas. Nas manhãs tranquilas que passávamos juntos, nos momentos silenciosos, nos sorrisos trocados depois de um dia longo. Esses pequenos detalhes estavam se tornando os alicerces de algo que parecia sólido, algo que, para mim, era mais importante do que qualquer prêmio ou reconhecimento profissional.

***

A noite caiu e, como sempre, o apartamento estava silencioso. Lizzie já estava dormindo, abraçada ao seu urso, e eu estava sentado no sofá, um pouco cansado, mas satisfeito com o dia. A vida, de alguma forma, havia se encaixado em um ritmo que eu estava começando a apreciar.

O celular vibrou. Era uma mensagem de Anne.

_"Parece que amanhã vai ser um dia agitado no estúdio, mas podemos nos ver mais tarde, se você quiser."_

Eu sorri, pegando o celular para responder.

_"Claro. Que tal uma noite de pizza e filme? Só nós dois."_

A resposta veio rapidamente.

_"Eu adoraria. Até mais tarde."_

Eu me recostei no sofá, sentindo um sorriso involuntário surgir nos meus lábios. Era incrível como, depois de tantas incertezas e caminhos tortuosos, algo tão simples como uma noite tranquila podia me trazer tanta paz.

***

Anne e eu ainda tínhamos um longo caminho pela frente. Mas, quando olho para tudo o que já vivemos, já superamos, e tudo o que ainda vamos construir, não consigo deixar de acreditar que estamos no caminho certo.

A vida, como sempre, tem seus altos e baixos. Mas, ao lado de Anne, de Lizzie, eu comecei a perceber que tudo o que passamos até agora estava nos levando a algo maior. Algo real. Algo que, no fim das contas, é o que realmente importa.