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•ANNE•
Era sexta-feira à noite e, depois de uma semana intensa no estúdio, eu finalmente tinha um momento para mim. Clara, minha amiga de longa data, tinha insistido para sairmos. Fazia tempo que não saíamos só nós duas, e eu precisava disso. Precisava contar para ela sobre o que havia acontecido com Gabriel.

Estava parada na frente do espelho, ajeitando meu cabelo e decidindo se o vestido preto que eu tinha escolhido era a melhor opção para a noite. Clara sempre dizia que eu não precisava me preocupar tanto com o que vestir, mas eu queria me sentir bem comigo mesma. Principalmente agora que as coisas com Gabriel tinham se resolvido.

Saí de casa e, minutos depois, encontrei Clara no bar que costumávamos frequentar desde que me mudei para Madrid. Era pequeno, aconchegante, com luzes amarelas e um ambiente que te convidava a ficar. Ao me ver, ela acenou com um sorriso largo, já sentada em uma mesa no canto.

"Você demorou!" Ela reclamou, mas com aquele tom de quem já estava meio habituada à minha falta de pontualidade. "O que te prendeu dessa vez? O estúdio ou o Gabriel?"

Eu ri, pegando a cadeira à frente dela. Clara sempre ia direto ao ponto.

"Bom... Digamos que foi um pouco dos dois", respondi, tentando segurar o sorriso que insistia em aparecer.

Os olhos dela se estreitaram. "Então quer dizer que você finalmente vai me contar o que aconteceu com o galã? Eu sabia que tinha algo!"

Suspirei, sabendo que não teria como fugir. Clara era minha confidente, a pessoa com quem eu dividia tudo, e eu precisava mesmo desabafar sobre o que tinha acontecido com Gabriel. Peguei meu drink — um mojito bem gelado — e dei um gole antes de começar.

"Tá, deixa eu te contar tudo", comecei, recostando-me na cadeira. "Nós conversamos. Sobre... você sabe, a filha dele."

Clara abriu os olhos, surpresa. "Sério? E aí? Como você se sentiu com isso? Fazia um tempo que você estava enrolando esse assunto."

"Eu sei", concordei. "Foi difícil. No começo, eu me senti meio... sei lá, traída por ele não ter me contado logo de cara. Só que, ao mesmo tempo, eu entendo o lado dele. Ele não queria complicar as coisas entre nós, sabe?"

Clara assentiu, mas ainda tinha aquela expressão de quem estava processando tudo. "E você tá bem com isso? Com ele ter uma filha?"

Respirei fundo, girando o copo entre as mãos. "É uma coisa grande, não vou mentir. Mas eu gosto dele, Clara. E eu percebi que não é o fato de ele ter uma filha que me incomoda, mas o segredo. Ele prometeu que, daqui em diante, vai ser tudo às claras. Sem mais esconder nada."

Ela me observou por um momento, como se estivesse avaliando se eu realmente estava bem com essa nova fase. Então, sorriu. "Isso é importante, Anne. E se você sente que ele tá sendo sincero, acho que vocês têm uma chance real."

Eu sorri, aliviada por ela estar me apoiando. "É, eu acho que sim. Só que ainda tem muito que eu preciso entender sobre essa parte da vida dele. E eu sei que vai ser um desafio, mas estou disposta a tentar."

Clara ergueu o copo, pronta para brindar. "Então vamos brindar a isso! Ao Gabriel não ter mais segredos, e a você seguir seu coração."

Eu ri e ergui meu copo também. "A nós duas, sobrevivendo a esse caos todo."

Os copos tilintaram, e brindamos àquela nova fase.

"Agora", Clara começou, inclinando-se na mesa com aquele brilho curioso no olhar, "me conta, como foi que vocês se resolveram? Teve algum momento tenso, lágrimas, algo cinematográfico?"

Eu ri de novo, sentindo-me mais relaxada do que em semanas. "Na verdade, foi mais tranquilo do que eu imaginava. A gente falou sobre tudo, de forma bem honesta. Ele foi sincero, Clara, e eu acho que é isso que fez a diferença. Ele me disse que me quer por perto, de verdade, sem mentiras. E foi aí que eu percebi que também quero isso."

"Uau", Clara comentou, impressionada. "Eu já vi muitos caras como o Gabriel, e vou te dizer... Isso de abrir o coração não é algo fácil pra eles. Ele deve gostar muito de você, Anne."

"É o que parece", concordei, sentindo uma leveza no peito ao admitir isso.

Enquanto a noite avançava, eu e Clara conversamos sobre tudo, rimos e nos divertimos como antigamente. Pela primeira vez em muito tempo, me senti em paz com as coisas ao meu redor. A incerteza que eu vinha carregando nas últimas semanas finalmente estava se dissipando. Gabriel tinha sido honesto, e eu também. Agora, era só ver onde isso nos levaria.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora