12°

2 0 0
                                    

A noite estava fresca, e o ar de Madrid parecia mais leve enquanto Anne se aproximava do endereço que Gabriel havia enviado. O local era um bar com uma vibe intimista, onde as luzes amareladas criavam um clima aconchegante. De dentro, dava para ouvir o som abafado da banda que já começava a tocar. Anne gostava desse tipo de ambiente, onde podia relaxar e deixar os pensamentos fluírem ao som de uma boa música.

Ela entrou e rapidamente encontrou Gabriel, que estava de pé perto do bar, com dois copos na mão. Quando ele a viu, sorriu largamente e levantou um dos copos em saudação.

— Achei que não ia vir — disse ele, entregando a bebida para ela.

— Eu disse que viria, não disse? — respondeu Anne, sorrindo de volta. Ela estava mais nervosa do que esperava, mas disfarçou com uma risada.

Os dois se acomodaram perto do palco, a banda tocava uma mistura de indie e rock, o tipo de música que ambos gostavam. A conversa entre eles fluiu naturalmente, com as habituais provocações e piadas. Gabriel parecia estar mais à vontade do que nunca, e Anne começou a perceber que gostava da companhia dele de um jeito que a fazia sentir um leve desconforto. Algo novo estava surgindo ali, algo que ela ainda não tinha certeza de como lidar.

— Então, o que você achou da banda? — perguntou Gabriel, se inclinando mais perto para ser ouvido por cima da música.

— Eles são ótimos! Acho que você sabe exatamente do que eu gosto — Anne respondeu, sua voz ligeiramente elevada para competir com o som.

Gabriel sorriu de forma marota, e por um segundo, eles se encararam em silêncio, os olhos presos um no outro. Havia algo diferente na forma como ele a olhava naquela noite, como se estivesse vendo algo além da tatuadora profissional e durona que Anne sempre tentava ser. E antes que ela pudesse desviar o olhar, Gabriel fez um movimento.

Com uma rapidez suave, ele se inclinou para frente e a beijou.

O mundo ao redor de Anne pareceu desacelerar. Os sons da música e das pessoas ao redor se tornaram distantes, como se tudo tivesse se apagado por um momento. O beijo foi suave, quase experimental no início, mas logo se intensificou, como se ambos estivessem esperando por aquilo há muito tempo, embora não tivessem admitido para si mesmos.

Quando o beijo terminou, Anne abriu os olhos devagar, sentindo o rosto um pouco quente, ainda processando o que havia acabado de acontecer. Gabriel manteve a testa encostada na dela por alguns segundos antes de se afastar, observando-a com um sorriso suave.

— Desculpa se fui rápido demais... — disse ele, a voz baixa e cheia de uma leve insegurança que ela não esperava.

Anne respirou fundo, tentando se recompor. Uma parte dela tinha desejado esse momento, mas outra parte se sentia completamente assustada. Era como se o beijo tivesse trazido à tona todas as emoções que ela havia enterrado desde que chegou à Espanha.

Ela olhou para Gabriel, percebendo que ele não era o problema. O problema estava dentro dela, nas cicatrizes que ainda carregava do passado.

— Não... não foi rápido demais, eu só... — Anne hesitou, não querendo estragar o momento, mas sentindo que precisava ser honesta. — É que eu tenho um pouco de medo disso. Medo de me deixar sentir de novo.

Gabriel franziu o cenho, preocupado, mas permaneceu em silêncio, permitindo que ela continuasse.

— Antes de me mudar para cá, eu namorei por quatro anos. Foi uma relação que parecia perfeita no início, mas no final, ele me machucou muito. Ele não me apoiava, me controlava, e... — Anne parou, respirando fundo, tentando manter o controle de suas emoções. — Eu acabei ficando com muito medo de confiar em alguém de novo, medo de me apaixonar e acabar quebrada outra vez.

Gabriel a ouviu atentamente, o olhar mais sério do que ela já tinha visto. Ele não interrompeu, apenas esperou que ela terminasse.

— Eu me mudei para a Espanha para começar de novo, sabe? Me distanciar de tudo isso. E estar aqui, nesse momento, com você... eu só... não quero me machucar de novo — Anne completou, sua voz quase um sussurro no final.

Gabriel suspirou e passou a mão pelos cabelos, claramente pensando no que dizer.

— Eu não sei exatamente o que você passou, Anne, mas... eu entendo o medo. Ninguém quer ser machucado. E eu não vou te pressionar, de jeito nenhum. Só quero que você saiba que... — Ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu gosto de você. De verdade. E o que quer que isso seja, a gente pode levar no seu ritmo, sem pressa.

A sinceridade em sua voz fez o coração de Anne bater mais rápido. Ela nunca havia ouvido alguém falar com tanta clareza sobre sentimentos sem tentar apressar nada. Gabriel não parecia ser do tipo que forçava situações, e isso trouxe um alívio inesperado para ela.

Anne sorriu timidamente, sentindo uma onda de emoção que era difícil de explicar.

— Obrigada. Eu realmente aprecio isso.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, mas não era um silêncio desconfortável. Pelo contrário, era como se eles tivessem chegado a um entendimento, uma espécie de acordo não verbal. Gabriel estendeu a mão e segurou a de Anne suavemente.

— Quer continuar assistindo ao show? — ele perguntou, com um sorriso mais leve.

— Quero sim — ela respondeu, apertando a mão dele de volta.

E assim, ficaram ali, de mãos dadas, ouvindo a música ao vivo e aproveitando o momento. Anne ainda tinha seus medos, mas algo lhe dizia que, com Gabriel, talvez ela pudesse enfrentá-los. Talvez, aos poucos, ela pudesse aprender a se abrir novamente.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora