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No sábado de manhã, Anne acordou com o sol atravessando as cortinas de seu quarto. O encontro com Gabriel da noite anterior ainda estava fresco em sua mente. Enquanto se preparava para o dia, ela refletia sobre como tudo havia sido fácil, sem pressões, apenas dois amigos aproveitando uma noite juntos. No entanto, uma parte dela se perguntava se estava sendo cuidadosa demais, erguendo barreiras para evitar algo que talvez nem precisasse ser evitado.

Ela desceu as escadas para abrir o estúdio. O movimento no sábado costumava ser intenso, e aquele dia não seria diferente. O som de máquinas, tintas e conversas preencheu o ambiente conforme os clientes começaram a chegar. Anne estava focada, atenta aos detalhes de cada trabalho, mas sempre que havia uma pausa, a lembrança de Gabriel voltava. Ela ainda conseguia ouvir o riso dele ecoando em sua mente.

No meio da tarde, enquanto terminava uma tatuagem detalhada no braço de uma cliente, seu telefone vibrou. Anne deu uma rápida olhada: Gabriel havia mandado uma mensagem.

"Bom dia! Sobre ontem, eu estava pensando... a gente podia fazer isso de novo qualquer dia. Que tal um jantar, ao invés de bar? Prometo que não vou te segurar até tarde dessa vez. ;)"

Anne sorriu ao ler a mensagem, mas uma pequena dúvida se formou em sua mente. O convite para jantar parecia um passo diferente do que haviam feito até agora. Seria apenas mais uma saída casual ou ele estava começando a ter outras intenções?

Ela guardou o celular e voltou ao trabalho, decidida a não responder de imediato. Precisava de tempo para pensar. Não queria pular para conclusões precipitadas, mas também não queria ignorar as possíveis mudanças na dinâmica deles.

Quando a cliente saiu, e o estúdio ficou vazio por alguns minutos, Anne sentou-se atrás do balcão, olhando para o celular. A mensagem de Gabriel ainda piscava na tela, e ela finalmente decidiu responder:

"Parece bom, mas acho que vou escolher o lugar dessa vez. Tem um restaurante que gosto muito aqui perto. O que acha?"

Ela enviou e esperou por um momento. Gabriel respondeu rápido:

"Fechado! Você escolhe o lugar, eu fico com a companhia. Me avisa quando."

Anne sorriu, satisfeita com a leveza da resposta, e guardou o telefone. Voltou ao trabalho, mas agora havia um novo tipo de expectativa no ar. Embora ela quisesse manter as coisas no nível da amizade, sabia que estava começando a sentir uma curiosidade maior sobre Gabriel. Ele era intrigante de várias maneiras, e talvez fosse natural que isso evoluísse.

***

Naquela noite, Anne se jogou no sofá do apartamento com uma taça de vinho na mão, tentando relaxar após o dia cheio. Enquanto bebia devagar, seus pensamentos se voltaram mais uma vez para o convite de Gabriel. Ela gostava da companhia dele, isso era inegável. Mas havia um medo latente de misturar as coisas, de complicar algo que estava funcionando tão bem.

Pegou o celular e, por impulso, começou a procurar lugares legais para jantar. Queria escolher um restaurante que fosse confortável, mas nada muito romântico. Encontrou um lugar com uma boa reputação de comida caseira e ambiente descontraído. Perfeito para o que ela tinha em mente. Após um momento de hesitação, ela mandou a localização para Gabriel.

Minutos depois, ele respondeu: "Ótima escolha! Nos vemos lá na terça-feira?"

Anne concordou e colocou o celular de lado, um pouco aliviada por ter finalmente tomado uma decisão. Não seria nada além de uma noite entre amigos. Ela repetiu isso para si mesma, como se tentasse convencer sua mente de que tudo continuaria simples.

***

Terça-feira chegou mais rápido do que Anne esperava. Ela passou o dia no estúdio, ocupada com uma série de clientes, e quando o último saiu, percebeu que tinha pouco tempo para se arrumar. Subiu rapidamente para o apartamento e optou por algo casual: uma camisa solta, jeans escuros e uma jaqueta leve. Nada muito elaborado.

Chegou ao restaurante um pouco antes do horário marcado. O lugar era acolhedor, com mesas de madeira rústicas e uma iluminação quente que deixava tudo mais intimista, mas sem ser excessivo. Anne escolheu uma mesa próxima à janela e sentou-se, sentindo-se mais tranquila do que esperava.

Pouco tempo depois, Gabriel entrou. Ele parecia tão descontraído quanto sempre, com uma jaqueta de couro e um sorriso despreocupado. Ao vê-la, se aproximou com o mesmo abraço amistoso que agora era parte de suas interações.

— Escolheu bem o lugar — ele disse, sentando-se à sua frente. — Gosto dessa vibe mais tranquila.

— Sabia que você ia gostar — Anne respondeu, sorrindo.

Eles pediram as bebidas e, conforme a noite avançava, a conversa entre eles fluiu naturalmente. Falaram sobre as séries que estavam assistindo, planos futuros e piadas internas que surgiram desde a primeira tatuagem de Gabriel. Anne, a cada minuto que passava, se sentia mais à vontade. O jantar era exatamente o que ela esperava: descontraído e sem pressão.

Mas, em algum momento da noite, houve uma pausa. Uma daquelas pausas que carregam mais significado do que deveriam. Gabriel a olhou por um segundo a mais do que o normal, e Anne sentiu seu estômago revirar levemente.

— Eu gosto de sair com você, sabia? — Gabriel disse, finalmente quebrando o silêncio. — Você me faz esquecer um pouco da correria de tudo.

Anne piscou, um pouco surpresa pela franqueza. — Eu também gosto. Você é fácil de conversar. Não parece... forçado.

Gabriel sorriu, mas não disse nada por um momento. Ele apenas a observou, como se estivesse ponderando algo. E então, mudou de assunto, talvez percebendo que o momento poderia se tornar algo mais sério do que ele pretendia.

— Então, o que você acha de combinarmos mais saídas? Não só bares e shows. Podemos explorar a cidade. — Ele sugeriu, casualmente.

Anne relaxou de novo, apreciando o tom leve que ele trouxe de volta à conversa. — Claro! A gente pode variar um pouco. Tem vários lugares em Madrid que eu não conheço tão bem.

A noite terminou sem grandes reviravoltas, exatamente como ela esperava. Eles se despediram na porta do restaurante com um abraço rápido, e Anne voltou para casa sentindo-se satisfeita com a simplicidade de tudo. Mesmo que houvesse faíscas de algo mais, por enquanto, ela estava determinada a manter as coisas no plano da amizade.

Ao fechar a porta de casa, Anne sentiu uma leveza no peito. As barreiras ainda estavam lá, mas talvez, com o tempo, elas fossem ficando menos sólidas.

Arte na Pele - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora