continuação

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Enquanto o beijo terminava, o som de passos ecoou pelo corredor da mansão, um ritmo lento e constante que parecia se aproximar. Leo se afastou ligeiramente, mas manteve Clara perto de si, o olhar atento à direção de onde vinha o som.

"Não estamos sozinhos aqui," murmurou Sofia, que os havia seguido de perto, o rosto pálido mas determinado. Ela segurava uma lanterna, o único ponto de luz naquele ambiente opressivo.

Clara respirou fundo, tentando manter a calma. “Precisamos encontrar o espírito. Ele quer algo de nós, e acho que não vai parar até conseguirmos libertá-lo.”

Leo concordou com um breve aceno e começou a andar à frente, guiando o grupo por um corredor estreito e repleto de teias de aranha. As paredes pareciam sussurrar, emitindo sons baixos e quase imperceptíveis, como se ecos de vidas passadas ainda habitassem o local. Clara sentia uma presença constante, mas não sabia se era uma ameaça ou apenas o espírito perturbado que haviam encontrado antes.

Finalmente, chegaram a uma grande porta de madeira, desgastada pelo tempo, mas ainda imponente. Clara parou diante dela, sentindo um arrepio que percorria sua espinha. Sua mente foi invadida por imagens da mansão em outro tempo — pessoas rindo, um baile luxuoso, uma traição mortal. Ela balançou a cabeça, tentando se livrar das visões, mas sabia que estava no lugar certo.

"Está aqui," ela disse, sua voz baixa, mas firme.

Leo colocou a mão sobre a maçaneta, mas hesitou. “Está pronta?” Ele olhou para Clara, e ela assentiu, apertando sua mão em um gesto que dizia mais do que palavras. Sofia permaneceu um pouco atrás, a expressão cautelosa, mas o brilho em seus olhos indicava que também estava preparada para enfrentar o que estivesse além daquela porta.

Quando Leo a abriu, um vento forte os atingiu, quase apagando a luz da lanterna de Sofia. O interior do aposento era sombrio, iluminado apenas por uma fraca luz azulada que emanava de um enorme espelho no centro do cômodo. O espelho parecia vivo, suas bordas brilhando levemente enquanto imagens indistintas dançavam em sua superfície.

Clara deu um passo à frente, sentindo-se atraída pelo objeto. Sua mente foi novamente inundada por flashes do passado — um homem desesperado, gritando por ajuda; mãos o segurando, forçando-o a olhar para o espelho enquanto ele lutava inutilmente. Ela sentiu a dor, a injustiça, e entendeu.

“Foi aqui,” Clara sussurrou, a voz embargada. “Foi onde ele foi condenado.”

Antes que pudessem reagir, o espelho brilhou intensamente, e a figura do espírito apareceu novamente, desta vez mais clara. Ele parecia mais humano, embora sua forma ainda fosse translúcida. Seus olhos estavam fixos em Clara, e sua expressão era um misto de desespero e esperança.

“Vocês encontraram,” ele disse, a voz mais nítida agora, mas ainda carregada de uma dor antiga. “Este espelho guarda minha alma. Foi através dele que fui amaldiçoado, e só ele pode me libertar.”

Clara deu um passo à frente, mas Leo a segurou pelo braço. “Espera. Como podemos confiar nele? E se ele estiver nos enganando para algo pior?”

O espírito olhou diretamente para Leo, os olhos brilhando com uma intensidade sombria. “Não tenho nada a perder. Minha alma já está condenada. Mas vocês… vocês têm muito a perder. Se não me ajudarem, a maldição que me prende a esta mansão os alcançará também. E não será apenas um tormento para mim — será para todos vocês.”

As palavras fizeram o silêncio pesar ainda mais no cômodo. Clara olhou para Leo, seu coração dividido entre compaixão e desconfiança. Ela sabia que ele queria protegê-la, mas também sentia que não tinham escolha. Se não ajudassem o espírito, poderiam nunca sair daquela mansão.

“Como podemos libertá-lo?” Clara perguntou, a voz firme apesar do medo.

O espírito ergueu a mão, apontando para o espelho. “Vocês precisam quebrá-lo… mas não será fácil. O espelho está protegido por aqueles que me amaldiçoaram. Eles farão de tudo para impedir vocês.”

Assim que ele terminou de falar, a sala começou a tremer, e sombras começaram a surgir das paredes, tomando formas humanoides com olhos brilhantes e movimentos rápidos. Clara sentiu o pânico crescer, mas Leo se posicionou à sua frente, protegendo-a mais uma vez.

“Clara, vá para o espelho,” ele ordenou, puxando uma faca de sua mochila — uma arma que haviam trazido para emergências. “Eu vou segurar essas coisas.”

“Eu não vou te deixar sozinho,” ela protestou, mas Sofia já estava ao lado de Leo, segurando um pedaço de madeira que havia encontrado no chão.

“Vamos, Clara!” Sofia gritou. “Você sabe o que fazer. Vá!”

Clara hesitou por um momento, mas a determinação em seu coração falou mais alto. Correndo em direção ao espelho, ela ignorou o som das sombras lutando contra Leo e Sofia e concentrou-se no objeto à sua frente. Sentiu uma energia poderosa emanando dele, como se o espelho estivesse vivo, lutando contra ela.

“Você consegue, Clara!” Leo gritou, enquanto derrubava uma das sombras que tentava avançar sobre ela.

Clara ergueu as mãos e tocou a superfície do espelho. Ele estava frio como gelo, mas ao mesmo tempo parecia queimar sua pele. Fechando os olhos, ela concentrou toda sua força de vontade, murmurando palavras que pareciam surgir do fundo de sua alma.

Uma rachadura apareceu no espelho, e um grito agudo ecoou pela sala. As sombras recuaram, como se estivessem sendo sugadas de volta para a escuridão. Clara, com o coração disparado, deu um último empurrão, quebrando o espelho em mil pedaços.

O espírito desapareceu, mas não antes de olhar para Clara com gratidão. “Obrigado,” ele sussurrou, e sua forma se dissolveu na luz.

O silêncio voltou à sala, e Clara caiu de joelhos, exausta. Leo correu até ela, envolvendo-a em seus braços. “Você conseguiu,” ele murmurou, a voz cheia de alívio.

Clara olhou para ele, o coração ainda acelerado, mas sentindo uma calma pela primeira vez desde que haviam entrado naquela mansão. “Conseguimos,” ela corrigiu, um sorriso suave se formando em seus lábios.

Enquanto o trio deixava a mansão, o céu clareava, e o peso que carregavam parecia ter desaparecido. No entanto, Clara sabia que aquela experiência os havia mudado para sempre. E enquanto sentia a mão de Leo entrelaçada à sua, ela tinha certeza de uma coisa: juntos, poderiam enfrentar qualquer escuridão.

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