eco das sombras

capítulo 3

Sofia não aceitaria o destino que lhe fora imposto. Ela sabia que precisava encontrar uma maneira de escapar do mundo dos reflexos e, de alguma forma, reverter o ritual para prender Victor novamente. Vagando pelos corredores distorcidos da mansão, ela começou a reparar em algo estranho: havia um padrão nos reflexos das sombras. Elas se moviam como se estivessem tentando comunicar algo, apontando para direções específicas e gesticulando, quase como guias silenciosos.

Seguindo as indicações das sombras, Sofia chegou a uma sala esquecida, onde um enorme espelho circular ocupava toda a parede. Ao contrário dos outros espelhos, este não refletia a versão distorcida da mansão, mas mostrava o mundo real — e, mais importante, a figura de Victor vivendo a vida dela. Ele andava pela cidade, ocupava sua casa e falava com as pessoas que Sofia conhecia, assumindo completamente a sua identidade. A única diferença era o olhar vazio e frio, que ninguém parecia notar.

Dentro da sala, Sofia encontrou um antigo grimório, coberto de poeira, com símbolos que pareciam familiares. Enquanto folheava as páginas, deparou-se com instruções detalhadas para desfazer rituais de troca de lugar, mas havia um aviso sombrio: para restaurar o equilíbrio, seria necessário um sacrifício. Sofia sabia que não tinha muitas opções; ela precisava arriscar tudo para recuperar sua vida.

Usando as palavras do grimório e a ajuda das sombras, que ela acreditava serem outras almas presas ali por Victor, Sofia começou a recitar o encantamento para desfazer o ritual. Enquanto falava, os espelhos ao seu redor vibravam e mostravam cenas da vida de Victor: suas ambições, traições e a obsessão por escapar da morte. Ela estava invocando não apenas sua própria força de vontade, mas também a dor e os arrependimentos das vítimas de Victor para alimentar o feitiço.

No mundo real, Victor sentiu um súbito desconforto. Algo estava errado. Ele se dirigiu apressadamente de volta à Mansão Blackwood, como se fosse puxado por uma força invisível. Quando entrou na sala onde Sofia realizava o ritual, viu a imagem dela no grande espelho. Mas desta vez, Sofia estava diferente. Seus olhos brilhavam com uma luz intensa, e o espelho parecia se contorcer em resposta ao feitiço.

Com um grito de raiva, Victor tentou interromper o ritual, mas as sombras ao redor de Sofia avançaram, segurando-o com força. Cada alma perdida que ele aprisionara estava agora voltando-se contra ele. Sofia proferiu as palavras finais, e o espelho explodiu em uma onda de energia.

Quando a luz se dissipou, Sofia estava de volta ao mundo real, ofegante e coberta de suor. A mansão parecia ter envelhecido cem anos em questão de segundos, com pedaços de teto caindo e os espelhos se desfazendo em pó. Quanto a Victor, sua figura não estava mais em lugar algum. Ele havia sido arrastado de volta ao espelho, mas desta vez, sem chance de retorno.

Sofia saiu da mansão com a certeza de que aquele pesadelo finalmente terminara. No entanto, ao passar por uma poça d'água na saída, viu algo que a fez parar. No reflexo, uma sombra vaga parecia observá-la, como se esperasse pacientemente pela sua próxima fraqueza.