capítulo 6

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Os dias que seguiram à derrota do Arconte trouxeram um período de calmaria tensa. Embora Sofia, Leo, Clara e Helena tivessem triunfado sobre a entidade, uma sensação de vigilância constante pairava no ar. A clareira, agora purificada, havia se tornado um ponto central para aqueles que buscavam ajuda contra forças ocultas, mas também atraía novos perigos.

Certa manhã, enquanto Clara se recuperava do esgotamento causado pelo ritual, Sofia e Leo discutiam o futuro. “Precisamos reforçar nossas proteções,” Sofia comentou, enquanto traçava runas de proteção ao redor da clareira. “O Arconte pode ter sido derrotado, mas há outras forças observando nossos movimentos. Sinto que algo maior está se preparando.”

Leo assentiu, olhando ao redor. “Ainda sinto resquícios de escuridão aqui. Talvez o Arconte não fosse o único responsável pelos aprisionamentos de almas.”

Enquanto refletiam sobre suas próximas ações, um visitante inesperado apareceu. Era um homem de aparência misteriosa, com uma cicatriz no rosto e vestes escuras que pareciam absorver a luz ao seu redor. Seus olhos, de um verde profundo, fixaram-se em Sofia e Leo com uma intensidade perturbadora.

“Vocês são os que derrotaram o Arconte?” ele perguntou, sua voz baixa e carregada de segredos.

Sofia deu um passo à frente, mantendo-se firme. “Sim. Quem é você?”

O homem sorriu levemente, mas era um sorriso sem calor. “Eu sou Nikolai. Ouvi falar de vocês, dos poderes que invocaram. Mas há algo que vocês precisam saber... O Arconte era apenas uma peça de um jogo muito maior.”

Leo franziu a testa, sentindo a tensão nas palavras de Nikolai. “Que jogo?”

Nikolai caminhou até o centro da clareira, observando as marcas do ritual ainda gravadas no chão. “Há uma organização antiga, conhecida como A Ordem da Noite Eterna. Eles são os verdadeiros responsáveis pela captura de almas, usando seres como o Arconte para fazer o trabalho sujo. Agora que vocês interferiram, estarão na mira deles.”

Sofia cruzou os braços, analisando o homem. “E por que deveríamos acreditar em você? Como sabemos que você não faz parte desse mesmo grupo?”

Nikolai deu um sorriso mais largo, desta vez com uma ponta de ironia. “Porque se eu fosse, vocês já estariam mortos.”

O silêncio que se seguiu foi pesado, até que Clara, que estava ouvindo de longe, se aproximou. “E por que você está nos avisando? O que ganha com isso?”

Ele virou-se para Clara, seus olhos brilhando com algo que ela não conseguiu decifrar. “Porque vocês precisam de aliados. Sozinhos, não terão chance. E, além disso, A Ordem também é inimiga minha. Se quisermos sobreviver, teremos que lutar juntos.”

Sofia e Leo se entreolharam, a tensão evidente entre eles. Era arriscado confiar em alguém como Nikolai, especialmente alguém que parecia estar tão profundamente envolvido no mundo das trevas. Mas também sabiam que não podiam ignorar a ameaça de uma organização maior.

“Certo,” Sofia disse, finalmente. “Nós aceitamos sua ajuda

“Mas se você nos trair, não hesitaremos em fazer o que for necessário,” Sofia completou, olhando diretamente nos olhos de Nikolai. Ele apenas arqueou uma sobrancelha, claramente não intimidado, mas também não desafiando sua advertência.

“Justo,” ele respondeu, com um toque de sarcasmo. “Vamos apenas focar em sobreviver, por enquanto.”

Os dias seguintes foram marcados por preparações intensas. Nikolai mostrou ter um conhecimento profundo sobre A Ordem da Noite Eterna. Ele revelou que a organização, composta por poderosos ocultistas e feiticeiros, havia crescido ao longo dos séculos, manipulando as sombras e controlando entidades como o Arconte para expandir seu domínio sobre as almas perdidas. “Eles não são meros inimigos,” ele explicou em uma reunião secreta que realizaram. “Eles são mestres do oculto, com recursos além da nossa compreensão.”

Sofia, Leo, Clara e Helena passaram a estudar cada detalhe das informações fornecidas por Nikolai, enquanto ele traçava um plano para se infiltrarem na organização. As defesas da clareira também foram reforçadas, com proteções mais avançadas que combinavam tanto os conhecimentos de Sofia quanto as técnicas que Nikolai trouxe de seu passado misterioso.

Uma noite, enquanto o grupo descansava após mais um dia de estudos intensos, Clara, que parecia mais quieta ultimamente, chamou Sofia para conversar em particular. “Sofia, posso falar com você?”

Sofia assentiu, guiando Clara até um canto mais afastado da clareira, onde as sombras das árvores pareciam oferecer um pouco de privacidade.

“O que foi, Clara? Você parece preocupada,” Sofia perguntou, tentando esconder sua própria inquietação. Ela sabia que Clara ainda estava lidando com o trauma de ter sido usada como um canal para o ritual contra o Arconte.

“É que... desde o ritual, eu sinto uma presença,” Clara confessou, sua voz hesitante. “Algo mudou dentro de mim. Eu tenho sonhado com uma figura, uma mulher... ela me chama, e eu sinto que ela está conectada a tudo o que estamos enfrentando.”

Sofia franziu o cenho. “Você acha que isso tem a ver com o Arconte ou com A Ordem?”

Clara balançou a cabeça. “Não sei. Ela não parece ser uma ameaça, mas há uma força por trás dela, algo... poderoso. Estou começando a pensar que talvez essa figura seja a deusa que invocamos no ritual.”

Sofia ficou em silêncio por um momento, ponderando. Se Clara realmente estivesse sendo visitada por uma deusa, isso poderia mudar tudo. “Se for verdade, Clara, você pode ser a chave para enfrentarmos A Ordem.”

Clara mordeu o lábio, claramente lutando com a ideia. “Mas e se isso me consumir? E se eu me perder no processo? Não sei se estou preparada para lidar com esse tipo de poder.”

Sofia colocou uma mão reconfortante no ombro de Clara. “Você não está sozinha. Nós enfrentaremos isso juntos. Mas acho que está na hora de descobrir o que essa deusa quer de você.”

Naquela noite, Sofia, Leo, Nikolai, Helena e Clara se reuniram ao redor da fogueira, prontos para o próximo passo. Clara, com o coração acelerado, sentou-se no centro, enquanto os outros traçavam um círculo de proteção ao seu redor. Desta vez, eles não fariam um ritual para expulsar uma entidade, mas sim para convocar uma resposta.

Enquanto as chamas da fogueira subiam, Sofia começou a entoar um cântico suave, chamando a figura misteriosa que visitava Clara em seus sonhos. O ar ao redor começou a vibrar, e uma energia densa tomou conta da clareira. Clara fechou os olhos, permitindo que a conexão se formasse. Em meio ao silêncio, uma brisa fria passou por eles, e, de repente, Clara começou a falar, mas não com sua própria voz.

“Vocês convocam aquilo que não podem controlar,” a voz disse, profunda e reverberante. “Eu sou a guardiã da luz e da escuridão. E você, Clara, foi escolhida para ser minha herdeira.”

A clareira inteira ficou em um silêncio tenso, enquanto todos olhavam para Clara, cujos olhos agora brilhavam com uma luz dourada. A entidade dentro dela continuou: “A Ordem da Noite Eterna é uma ameaça à balança das forças. Eles buscam o domínio total sobre as almas e a escuridão. Apenas com o poder de uma herdeira, vocês poderão detê-los.”

Nikolai, sempre cético, deu um passo à frente. “E o que você espera que façamos com esse poder? Sacrificaremos Clara no processo?”

A figura através de Clara virou-se para Nikolai, seus olhos ardendo com a luz da deusa. “Clara não será sacrificada. Ela será transformada. Mas apenas se ela aceitar seu destino.”

Sofia sentiu um calafrio. Transformada? O que isso significava? Ela sabia que Clara teria que tomar uma decisão difícil. O peso do momento era palpável, e a responsabilidade sobre os ombros de Clara era esmagadora.

Clara, ainda tomada pela presença da deusa, respirou fundo. Quando finalmente falou, sua voz era firme e decidida. “Eu aceito. Se isso é o que é necessário para deter A Ordem e salvar mais almas, então estou pronta.”

Com essas palavras, uma explosão de luz emanou do corpo de Clara, iluminando toda a clareira. A figura da deusa parecia sorrir dentro dela antes de desaparecer, deixando Clara caída de joelhos no chão, ofegante.

Quando ela finalmente levantou a cabeça, havia uma nova força em seus olhos. Algo havia mudado. Clara agora carregava dentro de si o poder de uma deusa, e com isso, a esperança de derrotar A Ordem da Noite Eterna.

Mas enquanto eles se preparavam para a guerra contra as trevas, Sofia sabia que essa batalha custaria mais do que eles jamais poderiam imaginar.

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