continuação

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Sofia tentou ignorar o que vira no reflexo da poça d'água, mas a inquietação persistia. A sensação de estar sendo observada voltara, mais intensa do que antes. A cada reflexo que encontrava – seja em janelas, telas de celular ou até mesmo na superfície de uma colher – parecia haver uma presença à espreita, algo que sussurrava na escuridão dos espelhos.

Dias se passaram e, por mais que ela tentasse evitar qualquer superfície reflexiva, era impossível escapar por completo. Certa noite, enquanto caminhava pela sala de sua casa, as luzes começaram a piscar. De repente, a televisão desligada mostrou um reflexo distorcido de sua sala, e, no fundo, a figura vaga de Victor surgia, mais uma vez, espreitando.

Desesperada, Sofia consultou o grimório que havia encontrado na mansão, buscando qualquer pista que pudesse explicar a recorrência da presença dele. Em uma passagem escondida entre as páginas, havia uma anotação antiga, quase apagada, que falava sobre “vestígios espirituais”. O texto explicava que, mesmo quando uma alma era aprisionada, ela podia deixar fragmentos de si espalhados em reflexos, como uma parte residual que lutava para retornar.

A ideia era aterrorizante: Victor poderia ter deixado fragmentos de si mesmo em diferentes espelhos e superfícies reflexivas durante suas décadas de manipulação, e agora esses fragmentos estavam tentando se reunir para libertá-lo novamente. Sofia precisava agir antes que fosse tarde demais.

Ela decidiu voltar uma última vez à Mansão Blackwood, agora em ruínas, para completar o que havia começado. A casa, desmoronando lentamente, ainda emanava uma aura opressiva, como se guardasse a memória de tudo o que havia acontecido ali. Sofia levou consigo um artefato mencionado no grimório: um cristal negro, supostamente capaz de absorver e aprisionar fragmentos espirituais.

Ela começou a caminhar pela mansão, focando em qualquer superfície que ainda pudesse refletir algo. Cada espelho quebrado, cada pedaço de vidro estilhaçado, era cuidadosamente tocado com o cristal. Enquanto fazia isso, Sofia sentia uma resistência palpável, como se cada fragmento de Victor lutasse contra o aprisionamento. O ar parecia vibrar com uma tensão crescente, e sussurros ecoavam pelas paredes.

Quando finalmente alcançou o salão principal, onde o espelho original estivera, Sofia sentiu uma presença poderosa. Ali, na superfície rachada do espelho restante, Victor apareceu, com um olhar de fúria e desespero. Ele gritou, sua voz ecoando como um trovão: "Você nunca poderá me prender para sempre! Eu sempre encontrarei um caminho de volta!"

Sofia sabia que aquele era o fragmento mais forte, o núcleo do espírito de Victor. Com o cristal em mãos, ela começou a recitar um encantamento que absorveria a essência restante dele. À medida que as palavras saíam de sua boca, o cristal começou a brilhar intensamente, sugando a imagem de Victor para dentro dele.

Por um momento, tudo parou. O silêncio absoluto tomou conta da mansão. Sofia sentiu o peso sair de seus ombros e um alívio percorrer seu corpo. Quando se virou para sair, o espelho rachado desabou no chão, transformando-se em pó.

No entanto, enquanto se afastava, o cristal em sua mão vibrou levemente, e uma voz quase inaudível sussurrou: “Isso não acaba aqui.”

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