Capítulo 2: Eloise
O dia amanheceu como um cenário tirado de um filme da Disney, algo que Will raramente notava em sua rotina reclusa. Sua casa, encravada no coração da floresta, geralmente parecia solitária e envolta em sombras, refletindo o próprio isolamento que ele sentia. Mas, naquela manhã, tudo parecia diferente. A primavera havia trazido consigo uma explosão de vida e cor. O bosque, que antes parecia apenas um refúgio silencioso e sombrio, agora transbordava de vitalidade.
Will parou por um momento para observar a paisagem à sua volta. As árvores estavam vibrantes, seus galhos cobertos por um verde intenso e renovado. Entre elas, flores silvestres, que ele nunca havia notado antes, surgiam em cores variadas, quase como se a natureza tivesse decidido decorar o caminho para ele. Pequenas gotas de chuva da madrugada ainda reluziam nas pétalas e folhas, capturando a luz suave do sol nascente, criando um brilho quase mágico. O canto dos pássaros parecia mais melodioso do que de costume, e ao longe, ele podia ouvir o murmúrio calmo de um riacho próximo.
Aquele cenário lhe parecia irreal, quase como se a floresta estivesse se preparando para receber Eloise também. Havia uma beleza nessa quietude matinal que ele nunca havia se permitido apreciar por completo.
Ainda era muito cedo, mas Will não resistiu à tentação de soltar os cachorros, deixando-os correr livres pelo quintal, suas patas molhando-se nas poças que restaram da chuva noturna. Enquanto eles corriam animados, Will se dirigiu à cozinha para preparar o café da manhã. Ele não costumava dar muita importância à sua alimentação, um hábito que Hannibal sempre criticava com severidade, lembrando-o da importância do autocuidado. Mas hoje era diferente. Com um bebê a caminho, ele sabia que não podia mais se dar ao luxo de negligenciar a si mesmo.
Will preparou as refeições para si e para seus fiéis companheiros, mantendo um ritmo mais cuidadoso e deliberado. O dia seria longo, mesmo sem o estresse habitual do trabalho. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma tranquilidade genuína. Aquela casa, que sempre parecia tão isolada, agora começava a se transformar em um lar. E ele estava pronto para essa nova fase, seja lá o que ela trouxesse com a chegada de Eloise.
Depois de alimentar os cachorros e organizar os últimos documentos, Will saiu de casa rumo à sua reunião com o departamento de recursos humanos. A viagem de carro passou como um borrão, cada curva e reta já estavam gravadas em sua memória após tantos anos repetindo o mesmo trajeto. Dirigir até a sede do FBI era uma rotina mecânica, algo que ele fazia no automático, sem sequer precisar prestar atenção.
Ao chegar à imponente fachada do prédio, Will tentou conter o nervosismo que sempre o acompanhava em situações formais. Ele nunca se sentia completamente à vontade em reuniões, especialmente quando envolviam figuras de autoridade. Respirou fundo antes de se dirigir ao departamento de RH, onde sua reunião seria com a supervisora responsável por seu contrato: Susan Vozz.
Susan era uma figura imponente, quase como uma sombra ameaçadora que pairava sobre todos que tinham o desprazer de lidar com ela. Alta e magra, seu corpo rígido parecia estar sempre em alerta, como um falcão observando suas presas de cima. Seus olhos, estreitos e afiados, captavam cada detalhe com uma precisão desconcertante, e seu rosto permanecia perpetuamente congelado em uma expressão de leve desgosto, como se o mundo ao seu redor nunca estivesse à altura de suas expectativas.
Will a comparava mentalmente a uma versão mais intimidadora de sua professora do primário - alguém que não precisava levantar a voz para impor respeito. Vozz era fria, pragmática, e direto ao ponto, seu modo de operar assustava até os membros mais graduados do FBI. Era curioso ver como agentes experientes e endurecidos pelo campo, que enfrentavam serial killers sem hesitar, pareciam tremer levemente na presença dela.
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A taste for family
FanfictionWill Graham acredita que o destino gosta de brincar com ele, o que acontece quando sua mãe que o abandonou a tantos anos falece e deixa para ele a guarda de um bebê. Como as pessoas vão reagir? Como sua vida vai mudar? E o que o futuro reserva?