Hannibal

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Capítulo 8: Hannibal

A noite estava impecável aos olhos de Hannibal. Tudo havia transcorrido de acordo com seus planos meticulosos, cada detalhe orquestrado com precisão. Ele havia conseguido trazer Will à ópera, não apenas convencendo-o a participar de um evento social que ele normalmente evitaria, mas também vestindo-o com as roupas que ele mesmo escolhera, um toque refinado e calculado. As abotoaduras, que brilhavam discretamente à luz do camarote, eram um presente de Hannibal, e ver Will usá-las como se fizessem parte dele trouxe um prazer silencioso ao psiquiatra. Eles chegaram em seu Bentley, a encarnação do luxo clássico, e cada momento parecia deslizar suavemente na noite, envolto em perfeição.

A ópera, "La Traviata", havia sido uma obra-prima de emoção e arte, exatamente como ele esperava. Hannibal não apenas admirava a música, ele a sentia pulsar em seus ossos, cada nota se desdobrando com uma clareza que apenas ele poderia apreciar plenamente. E ao seu lado, Will. Seu doce William. O profiler havia sido apresentado a todos os membros influentes do círculo social de Hannibal, não como um convidado qualquer, mas como seu parceiro. Cada palavra havia sido cuidadosamente escolhida, e ele observava com fascinação como Will reagia a esse novo papel. Havia algo deliciosamente irônico em vê-lo, um homem que normalmente evitava o olhar dos outros, agora sendo o centro de atenções em um círculo que não questionava sua presença, mas a aceitava prontamente graças à curadoria meticulosa de Hannibal.

A expressão de Will ao longo da ópera havia sido uma sinfonia própria para Hannibal. Ele notou como a música e a tragédia de Violetta o afetavam, as emoções se formando lentamente em seu rosto, os pequenos gestos que revelavam seu envolvimento. Hannibal sabia que Will estava absorvendo cada momento, cada nota, e gostava da vulnerabilidade que isso revelava em seu companheiro. Will, sempre tão resistente à emoção pública, parecia exposto, ainda que de forma sutil, e Hannibal apreciava isso com uma satisfação silenciosa. A ópera tinha esse poder, de despir as camadas de quem a ouvia, deixando apenas o âmago cru de suas reações mais profundas.

Agora, ao final da apresentação, eles estavam na saída, onde mais uma rodada de confraternizações sociais aguardava. Hannibal estava em seu elemento, cumprimentando conhecidos com graça e destreza, as interações sociais fluindo como vinho fino. Ao seu lado, Will permanecia um tanto rígido, mas havia algo em sua postura que indicava que ele estava começando a se acostumar com aquele mundo. Hannibal o havia moldado, lenta e cuidadosamente, e agora via os frutos desse trabalho.

Ele observava as reações de Will, atento a cada nuance. Um leve sorriso curvava seus lábios quando alguém fazia um elogio a Will, ou quando ele próprio o introduzia de maneira sutilmente possessiva, insinuando o quão valioso era tê-lo ao seu lado. Havia algo de delicioso em ver Will, com sua recusa habitual em ser domado, agora parte de seu mundo, ainda que talvez não percebesse o quão profundamente já estava enredado. Hannibal sempre gostou de dominar situações, de manipular o ambiente ao seu redor, e essa noite era um triunfo silencioso.

Os drinks, como sempre, estavam esplêndidos. Ele sorveu seu último gole com a mesma elegância calculada que aplicava a tudo o mais. Cada detalhe era essencial, cada movimento coreografado. E agora, o encerramento da noite prometia ser a cereja no topo de um banquete já perfeito. Hannibal ansiava pela próxima fase, não apenas pelo prazer estético e social que ela proporcionava, mas pela oportunidade de continuar moldando Will, de ver até onde ele podia levá-lo, o quanto poderia puxar os fios invisíveis que o conectavam ao profiler sem que ele percebesse.

Enquanto se dirigiam à última etapa das confraternizações, Hannibal se permitiu um momento de reflexão. Ele havia trazido Will até ali, imerso em seu mundo, introduzido de uma forma que solidificava sua posição. A noite era, para ele, uma obra de arte em andamento, e como todo grande maestro, ele sabia que o final seria tão perfeito quanto o início.

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