Observador

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Capítulo 21: Observador

Will despertou, mas o tempo parecia um conceito distante. Minutos? Horas? Ele não sabia dizer. Sua cabeça latejava de uma dor excruciante, como se estivesse prestes a explodir. O corpo inteiro estava pesado, como se cada músculo tivesse sido esticado ao limite. Piscar os olhos parecia uma tarefa monumental, e a visão diante dele era um borrão indistinto de escuridão. Aos poucos, com cada respiração irregular, as sombras começaram a tomar forma.

Ele reconheceu o ambiente — o escritório de Hannibal. Mesmo com a penumbra envolvente, alguns pontos de luz suave escapavam pelas persianas, iluminando partes isoladas da sala. O lugar, que normalmente exalava uma estranha combinação de sofisticação e aconchego, agora parecia vazio e ameaçador. Cada detalhe, dos livros meticulosamente organizados às esculturas cuidadosamente dispostas, parecia deslocado, como se estivesse esperando por algo terrível para acontecer.

Will tentou mover-se, mas uma onda de náusea o atingiu, forçando-o a parar. Ele piscou repetidamente até que sua visão finalmente clareou. Foi então que ele percebeu — não estava sozinho.

Uma figura estava no escuro, meio encoberta pelas sombras, mas familiar de um jeito desconcertante. O coração de Will deu um salto violento no peito. Ele conhecia aquela silhueta, aquele rosto inquietante. Franklyn Froideveaux.

O ar pareceu se esvair do ambiente, deixando Will com uma sensação de sufocamento. Franklyn. Aquele homem perturbado que ele sempre considerou uma bomba-relógio prestes a explodir, um poço de inseguranças e obsessões que o tornavam imprevisível. Mas o que ele estava fazendo ali? E, pior, como as coisas tinham chegado a esse ponto?

— Franklyn... —Will sussurrou, a voz rouca, cheia de dor e confusão. Cada fibra do seu corpo gritava que algo estava terrivelmente errado.

Franklyn deu um passo à frente, saindo parcialmente da escuridão, revelando um sorriso estranho nos lábios — algo entre nervosismo e satisfação. Seus olhos, sempre inquietos, agora tinham um brilho estranho, quase febril.

— Will. — Franklyn disse calmamente, sua voz doce demais, como se estivesse falando com um velho amigo. — Eu... eu achei que precisávamos de um momento a sós. Só nós dois, sabe? Para colocar as coisas em ordem.

O pânico de Will aumentava a cada palavra que Franklyn dizia, a cada segundo que ele se mantinha parado, com aquele olhar insano cravado nele. Will não sabia o que Franklyn queria — talvez o próprio Franklyn não soubesse. E essa incerteza era ainda mais perigosa. Ele precisava ganhar tempo, precisava entender o que estava acontecendo antes que qualquer outra coisa saísse de controle.

— Como... como chegou a isso, Franklyn? — Will conseguiu dizer, tentando manter a calma na voz, mesmo que sua mente estivesse acelerada, buscando freneticamente por uma saída. — O que você quer?

Franklyn riu baixinho, um som desconcertante no silêncio do escritório. — Quero ajudar você, Will. E, claro, Hannibal. Mas primeiro... preciso que você me escute.

O coração de Will batia tão forte que ele mal podia ouvir outra coisa.

— Você quer nos ajudar? — Will perguntou, tentando manter a voz firme, mesmo sentindo a tensão crescer em cada parte do seu corpo.

Franklyn deu um sorriso nervoso, seus dedos inquietos se mexendo de forma errática, como se buscassem algo para se agarrar.

— Vocês não deveriam estar juntos, sabe? — disse ele, a voz trêmula. — Não são parecidos... Achei que, se colocasse nós três juntos, ele entenderia.

Will piscou, tentando processar o que Franklyn dizia enquanto seu olhar vagava discretamente ao redor, em busca de uma saída, qualquer coisa que pudesse lhe dar uma vantagem.

A taste for familyOnde histórias criam vida. Descubra agora