A visita

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Capítulo 10: A visita

O trio chegou ao hospital envolto em uma atmosfera pesada. Embora o ambiente fosse silencioso, havia uma tensão palpável no ar. Will estava desconfortável, o peso da angústia se arrastando consigo desde o momento em que decidiram visitar Abigail. Ele não queria realmente estar ali. O caso de Garrett Jacob Hobbs ainda o assombrava, e os fantasmas do que testemunhara naquele dia nunca estavam longe de sua mente. Os pesadelos vinham com frequência, às vezes tão vívidos que ele acordava com o gosto metálico do medo na boca. A ideia de ver Abigail, a filha daquele homem, fazia com que toda a dor ressurgisse, trazendo à tona o sangue, os gritos e o momento em que apertou o gatilho.

Ao seu lado, Hannibal parecia igualmente desconfortável. Ele não disse nada durante o trajeto, mas Will notou os pequenos sinais: os olhos frios, quase sem vida, fixos à frente, e os ombros tensos, como se cada passo fosse um fardo que ele carregava com dificuldade. Embora estivesse composto como sempre, havia algo diferente naquele momento.

Quando uma enfermeira os chamou para o quarto de Abigail, Hannibal assumiu a liderança, seu andar impecável e preciso, mas carregado de uma rigidez que Will raramente via. O ar de confiança e controle parecia frágil, como uma máscara prestes a se quebrar. Will o seguiu de perto, mantendo Eloise firmemente em seus braços. Ele usava a presença da bebê como uma âncora, algo que o conectava ao presente, ao mundo real, enquanto seus pensamentos flertavam com a escuridão do passado. Sentia o calor do corpo pequeno contra o seu, e isso o ajudava a regular sua respiração, a manter o foco.

A cada passo que davam em direção ao quarto de Abigail, o silêncio entre eles parecia se expandir. Era como se a gravidade ao redor estivesse aumentando, tornando o ar mais denso, mais difícil de respirar. Will olhou para Hannibal, observando a rigidez no rosto do homem. Ele não estava bem, mas Hannibal era mestre em esconder suas emoções. O que ele sentia diante da ideia de rever Abigail, a menina que eles salvaram juntos? Havia uma conexão ali, mas Will não conseguia decifrar completamente. Ele apenas sabia que, por algum motivo, aquela visita mexia profundamente com o médico.

Eloise, por outro lado, estava tranquila. Seu pequeno corpo relaxado nos braços de Will, os olhos curiosos observando o ambiente ao redor sem entender a seriedade da situação. Para ela, tudo era novo e fascinante, e Will encontrou um certo consolo nisso. A inocência de Eloise, sua ignorância sobre o que era o mal, o aliviava de alguma forma. Ele sentiu uma onda de proteção ao segurar a bebê e percebeu que precisava dela ali tanto quanto ela precisava dele.

À medida que se aproximavam do quarto de Abigail, Will lutava para controlar seus pensamentos. As memórias do caso Hobbs estavam à espreita, prontas para se infiltrar e desestabilizá-lo. Ele tentou se concentrar no presente, no fato de que Abigail estava viva, no fato de que estavam indo visitá-la. Mas o peso do que Hobbs havia feito — e do que ele próprio teve que fazer — ainda pairava sobre ele, uma sombra que ele nunca seria capaz de dissipar completamente.

Quando finalmente chegaram à porta do quarto, Hannibal parou por um breve momento. Ele se virou levemente para Will, o olhar impassível, mas seus olhos... algo ali reluziu. Talvez fosse preocupação, talvez fosse algo mais. Will não sabia.

— Está pronto? — Hannibal perguntou, sua voz baixa, mas carregada de significado.

Will respirou fundo, ajeitando Eloise em seus braços. Ele não estava pronto, mas não havia como fugir.

— Tanto quanto posso estar — respondeu, a voz rouca com a emoção que ele tentava suprimir.

Com um aceno sutil, Hannibal abriu a porta, e juntos eles entraram no quarto onde Abigail os aguardava, cada um lidando com seus próprios demônios enquanto o reencontro se aproximava.

A taste for familyOnde histórias criam vida. Descubra agora