Aulas

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Capítulo 14: Aulas

As aulas de Will no FBI, na maioria das vezes, seguiam o mesmo padrão, a menos que surgisse um novo criminoso que exigisse uma palestra especial sobre o caso. Hoje, no entanto, era diferente. Ele estava diante de seus alunos, descrevendo um caso surreal: uma vítima havia sido transformada em um instrumento musical, como se a própria carne e ossos tivessem sido moldados para produzir som. Will ainda lutava para processar aquilo. Mesmo com sua longa experiência, esse tipo de brutalidade artística ainda o abalava profundamente.

Enquanto falava, podia sentir a tensão na sala. Os rostos dos alunos refletiam descrença e horror. Ele sabia que muitos estavam se esforçando para manter a compostura. Beverly havia confirmado tudo com seu laudo da autópsia, enviando os detalhes para Will pouco antes da aula. Aquilo havia sido o suficiente para despertar o alvoroço entre os alunos, que murmuravam entre si enquanto tentavam imaginar o quão distorcida era a mente do assassino.

Will deu uma pausa, observando a reação deles. Era um caso que desafiava até mesmo a mente mais lógica. Ao ver as expressões de choque, ele continuou:

— Vocês terão que escrever uma dissertação sobre as possíveis motivações desse assassino — anunciou, sua voz baixa, mas firme. — O que vocês acreditam que ele estava tentando comunicar? Como ele escolheu suas vítimas? Qual a mensagem por trás de transformar alguém em algo tão simbólico quanto um instrumento?

Assim que terminou de falar, a sala ficou em completo silêncio. Os alunos, agora cientes do peso da tarefa, começaram a rabiscar em suas folhas com seriedade. O som dos lápis e canetas se movendo rapidamente era o único ruído que preenchia o ambiente. Will os observava de sua posição na frente da sala, mas sua mente vagava. Ele sabia que essa análise iria além de uma simples dissertação para ele. Era mais uma peça no quebra-cabeça que tentava montar em sua própria mente sobre a psique dos monstros que estudava.

— Senhor Graham? — uma voz suave chamou a atenção de Will. Era Rebeca White, uma de suas alunas.

— Sim, senhorita White, alguma dúvida sobre o caso? — Will perguntou, mantendo o tom profissional enquanto olhava para ela. A pergunta parecia inesperada, dada a tensão da aula.

Rebeca hesitou por um momento, mexendo no caderno com dedos nervosos antes de falar:
— Não exatamente sobre o caso, mas... o senhor tem cachorros, certo? — perguntou, com um sorriso tímido surgindo no canto dos lábios. A sala inteira ficou atenta ao ouvir a pergunta mais pessoal, com olhares curiosos voltando-se para eles.

Will piscou, surpreso com a mudança de tópico, mas sorriu levemente, percebendo a inocência na pergunta.
— Tenho sim. Resgato cães de rua... atualmente, sete. — Ele respondeu com suavidade, tentando entender onde aquela conversa iria parar. — Por que a pergunta?

Rebeca pareceu um pouco encabulada com a atenção da turma, mas continuou:
— Ah, bem... minha colega de quarto achou um filhote, e nenhuma de nós sabe como cuidar de um cachorro. Queremos ficar com ele, mas estamos meio perdidas, sem experiência.

Will relaxou um pouco mais, sentindo empatia pela situação. Seu tom se tornou quase paternal enquanto respondia:
— Primeiro, levem o filhote a um veterinário. Ele vai precisar de vacinas e uma avaliação completa. Comprem itens básicos — como comida, cama e brinquedos — e perguntem sobre a dieta, que vai variar de acordo com a idade e saúde dele. E, claro, livros sobre adestramento podem ajudar muito. Isso vai garantir que ele cresça de forma equilibrada.

Rebeca sorriu, aliviada com a ajuda.
— Muito obrigada, senhor Graham! Deve ser maravilhoso para sua filha e... seu marido viver com tantos cães.

A menção pegou Will desprevenido. Ele piscou e, antes que pudesse responder, um dos outros alunos se adiantou:
— Rebeca! Quem disse que o senhor Graham é casado? Não faça suposições assim!

A taste for familyOnde histórias criam vida. Descubra agora