Rotina

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Capítulo 12: Rotina

A rotina, muitas vezes considerada um veneno para o amor, algo que Beverly sempre alertava, não parecia ameaçadora para Will. Ele não enxergava o perigo em se prender a ela; na verdade, gostava da segurança que proporcionava. Seus dias se desenrolavam em um ritmo confortável, divididos entre cuidar de seus cachorros e de Eloise, dar aulas e, claro, encontrar-se com Hannibal. O relacionamento deles florescia de uma forma tranquila e natural, como se cada movimento, cada troca de olhar, fosse parte de uma dança que ambos conheciam bem. Estavam felizes, e Will se sentia verdadeiramente confortável, algo raro para ele.

Na semana passada, Hannibal havia começado uma reforma no jardim, embora não tivesse dado muitos detalhes. Will, em seu jeito descomplicado, não se preocupou. "Um paisagista está trabalhando", foi tudo o que Hannibal mencionou, e Will, sem a menor familiaridade com o mundo da jardinagem, aceitou sem questionar. A parte que realmente importava para ele era outra: Hannibal havia passado a noite em sua casa pela primeira vez. Não apenas uma visita breve, mas a experiência completa de dormir e acordar juntos. Foi um marco, algo mais íntimo do que Will estava acostumado.

Naquela noite, enquanto Hannibal dormia ao seu lado, Will sentiu uma paz estranha, quase viciante. O calor da presença de Hannibal ao seu lado o enchia de uma sensação de segurança e desejo, algo que ele nunca imaginou ser tão poderoso. Acordar ao lado dele, os primeiros raios de sol filtrando pelas cortinas, a respiração suave de Eloise no berço no quarto ao lado, tudo parecia perfeito. Depois daquele momento, Will sabia que queria mais disso, mais dessa nova normalidade que estava se formando entre eles.

E assim, uma nova rotina se estabeleceu. Hannibal o convidou para uma exposição de arte, e depois disso, para dormir em sua casa, o que se tornou uma prática constante. Algumas noites, Will e Eloise iam até a casa de Hannibal; outras, era o médico que passava a noite na modesta casa de Will. Havia uma magia naquilo, uma tranquilidade quase inexplicável. Will nunca pensou que poderia se sentir tão... completo. Era como se, depois de anos vivendo no caos, ele finalmente tivesse encontrado uma ordem que fazia sentido para ele.

Olhando para o futuro, Will não conseguia imaginar como poderia pedir por mais. A vida ao lado de Hannibal, com Eloise em seus braços e os cachorros ao redor, era quase surreal em sua perfeição discreta. E, por mais que ainda restassem sombras em sua mente, ele sentia que, pela primeira vez, estava no caminho certo, vivendo uma vida que, de alguma forma, havia sido feita para ele.

Esse dia tinha algo de especial, uma expectativa no ar. Will se pegava diante do espelho, analisando as roupas que escolheria para o jantar, sentindo um misto de animação e nervosismo. Hannibal, como prometido durante a ópera, havia enviado os convites. O jardim reformado estava pronto, e agora o médico queria comemorar, um evento que, para Hannibal, certamente seria tão refinado quanto ele próprio. Dessa vez, porém, Will havia decidido que não permitiria que Hannibal escolhesse o que ele vestiria. "Quero fazer uma surpresa", ele disse, rindo ao telefone. A resposta de Hannibal foi um sorriso que Will sentiu mesmo sem vê-lo, mas o médico acabou entregando o nome da alfaiate de confiança.

Agora, Will e Eloise estavam de pé em frente ao ateliê, aguardando serem recebidos. O lugar tinha um charme antiquado, um ateliê de verdade, com vitrines exibindo trajes sob medida e tecidos finos. Eloise, aninhada em seus braços, observava curiosa o movimento ao redor, enquanto Will tentava acalmar a excitação crescente. Ele queria algo que surpreendesse Hannibal, algo que não fosse apenas "ele", mas também a versão dele que Hannibal enxergava e apreciava.

A porta do ateliê se abriu com um leve tinido, e uma senhora italiana, de postura firme e olhar sagaz, apareceu para recebê-los. Seus olhos correram de Will para Eloise, um sorriso discreto surgindo em seus lábios. Havia uma curiosidade evidente em seu olhar, mas também algo mais — reconhecimento.

A taste for familyOnde histórias criam vida. Descubra agora