Planejamento

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Capítulo 20: Planejamento

Após a mágica noite em que Hannibal pediu Will em casamento, tudo parecia envolto em uma bolha de felicidade. O brilho da lua parecia mais intenso, e as estrelas, mais próximas, como se o universo estivesse conspirando a favor deles. Mas, com o passar dos dias, Will começou a sentir o peso da realidade. Organizar um casamento não era apenas um sonho romântico – era um labirinto de decisões, detalhes e infinitas listas.

Will se viu afundado em catálogos de flores, paletas de cores que, para ele, muitas vezes pareciam todas iguais. Ele se esforçava para distinguir os tons, mas logo percebeu que aquele não era seu forte. Estava mais concentrado em algo que, para ele, era mais concreto: a lista de convidados. Hannibal queria um grande casamento, repleto de amigos, conhecidos, colegas de profissão dos dois lados. Cada nome na lista parecia carregar mais peso do que deveria, e, embora Will não se importasse tanto com a maioria dessas pessoas, ele cedeu. Afinal, era o casamento deles. Se Hannibal sonhava com uma celebração gigantesca, quem era ele para dizer não? Ainda assim, uma parte de Will sentia-se deslocada, como se estivesse organizando um evento para outra pessoa.

E não era só isso. Cardápios, decoração, a escolha do local, quem iria celebrar... Cada decisão parecia arrastar uma nova dúvida. As discussões sobre flores e tecidos tornaram-se tão frequentes quanto as sobre quem seriam os padrinhos. Era óbvio para Will que Beverly seria sua dama de honra. Ela sempre esteve ao seu lado, inabalável. Já Alana... eles poderiam tê-la convidado, se ela não tivesse traído a confiança deles de tantas maneiras. Pensar em Alana ainda trazia um gosto amargo à boca de Will.

Hannibal, claro, lidava com tudo isso com a mesma calma meticulosa que aplicava em tudo. Ele discutia detalhes como cardápios com a precisão de um cirurgião, mas Will sentia o peso de suas próprias ansiedades crescer. Eloise, sua pequena, já estaria andando melhor até o grande dia, e Will sabia que, de alguma forma, ela estaria envolvida na cerimônia. Pensar nela lhe trazia um conforto estranho, um fio de esperança no meio do caos. Ele se perguntava como seria ver Hannibal e Eloise juntos no altar, uma imagem que deveria ser linda, mas que, em sua mente, ainda carregava uma inquietação.

Era como se, a cada passo na organização do casamento, ele fosse confrontado não apenas com a logística, mas com as cicatrizes do passado, as expectativas do presente e os medos do futuro.

O que trouxe um inesperado conforto a Will foi uma longa conversa com Hannibal sobre expectativas e realidade. Eles falaram abertamente sobre o que esperavam do casamento, explorando seus medos mais íntimos. Will, à medida que desfiava seus pensamentos, percebeu que sua ansiedade não se resumia ao dia da cerimônia, às flores ou ao jantar perfeito. Havia algo mais profundo. Não era apenas sobre como os outros veriam o evento ou julgariam sua nova família. Aquela angústia vinha de longe, enraizada em seu passado — das constantes mudanças de casa com seu pai, do abandono silencioso de sua mãe, da sensação de estar sempre deslocado nas escolas, sempre o garoto novo que nunca conseguia fincar raízes.

Hannibal, como sempre, o escutava com uma calma perturbadora, até que fez a pergunta que abalou o mundo cuidadosamente construído de Will: "Por que a opinião dos outros importa tanto?"

Foi como se algo tivesse se quebrado dentro de Will, uma barreira que ele nem sabia existir. O impacto da pergunta o fez pausar, mergulhando profundamente em seus próprios sentimentos. Por que, de fato? Por que ele deixava que os olhares e julgamentos dos outros ditassem sua felicidade, sua liberdade? Aquilo tudo não deveria ser para eles, mas para ele e Hannibal, para Eloise. Era o dia deles, e ninguém mais deveria ter poder sobre isso. E, pela primeira vez, ele se permitiu questionar por que mostrava sua felicidade como algo a ser disfarçado ou contido.

As lágrimas vieram em silêncio, primeiro tímidas, e depois em uma torrente. Hannibal o envolveu num abraço forte e protetor, sem dizer nada, apenas deixando Will sentir. No aconchego daquele momento, algo se transformou dentro dele. A armadura que o protegia dos julgamentos e das opiniões externas começou a se desfazer.

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