Capítulo 36

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A sala de jantar brilhava, o fogo lançava uma luz quente e bruxuleante sobre a mesa que Alfred havia arrumado com perfeição. A mesa estava enfeitada com guardanapos cuidadosamente dobrados, copos de cristal e velas que emprestavam um brilho aconchegante e íntimo. Uma suave música natalina preenchia o espaço, quase inexistente, mas acrescentando algo festivo e familiar, trazendo Jason de volta a uma época em que ele era uma criança roubando doces antes do jantar antes de Alfred mandá-lo embora. Alfred tinha se esforçado ao máximo, e isso era visível.

A comida foi disposta como um presente. Recheio rico e saboroso, marrom-dourado e cheio de ervas. Havia o peru de sempre, mas também vegetais macios e opções vegetarianas para Damian. Macarrão com queijo — um alimento básico de feriado para ele e Steph — estava em um prato de cerâmica, sua crosta dourada até ficar perfeitamente crocante. Ao lado, repolho recheado e um pouco de salsicha escura cozida, ambos pratos da infância de Dick no circo. Jason também notou uma travessa de bolinhos de massa que Cass adorava, e algum tipo de purê de batata com que Tim encheu seu prato.

Jason deslizou para seu assento, e Alfred sentou-se também, pela primeira vez não pairando sobre eles para servir. Bruce serviu vinho em seus copos, junto com água, e até Coca-Cola para aqueles que preferiam — uma coisinha, talvez, mas era engraçado, como de alguma forma importava.

“Obrigado, Alfred,” Bruce disse, sua voz baixa e um pouco instável, o olhar demorando-se sobre a mesa como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. Jason tinha ouvido Bruce dizer obrigado uma centena de vezes, mas havia algo diferente em seu tom esta noite, algo mais suave. Quase como se ele soubesse exatamente o que Alfred tinha feito para montar esta refeição, lembrando-se de cada prato, cada lado, cada favorito. Era um tipo de gratidão que parecia merecida, não apenas educada.

Não deveria surpreendê-lo que Bruce tivesse, de alguma forma, catalogado as preferências de todos com a mesma precisão implacável que ele usava em todas as outras partes de sua vida. E, ainda assim, de alguma forma, isso o surpreendeu — um pouco, pelo menos.

Talvez porque não fosse sempre que você via o velho assim, parado ali, parecendo um pouco... bem, destruído, honestamente, como se a visão dos pratos favoritos dos seus filhos, todos dispostos diante dele, fosse o suficiente para fazê-lo engasgar.

Enquanto Jason ponderava, a mesa ficou animada, todos se maravilhando com a comida, levantando copos em apreciação. Steph soltou um pequeno grito de alegria quando viu o macarrão com queijo, cutucando Jason com o cotovelo como se eles tivessem voltado a ser crianças que não sabiam o que fazer.

Damian parecia satisfeito, mas calmo, pegando seus vegetais e aquele pequeno prato de tofu como se não tivesse se preocupado com o fato de alguém não pensar que ele estava abrindo mão da carne.

Dick estava conversando sobre algo que tinha acontecido na delegacia, sua risada plena e fácil, enquanto Tim ouvia, enchendo os copos quando eles estavam vazios. Era uma pequena reunião estranha, cada um deles tão diferente, todos reunidos neste grupo estranho e desencontrado de pessoas que deveriam ser uma família, só porque Bruce achava que precisava salvar todos eles.

Os olhos de Jason se voltaram para Bruce, que estava olhando ao redor da mesa, sua expressão suave e talvez até um pouco incerta, como se não tivesse certeza se estava fazendo certo. E por um segundo, Jason sentiu uma pontada de algo. Inveja, claro, mas mais do que isso, era uma felicidade silenciosa para os outros. Eles mereciam essa versão de Bruce — o homem que estava aprendendo a deixar de lado suas paredes, que aparecia em jantares de família com verdadeiro cuidado, não apenas obrigação.

Os pássaros canoros continuam cantando (eu te amo, eu te amo, eu te amo)Onde histórias criam vida. Descubra agora