- Sério isso? - Áine resmunga com os braços cruzados e um biquinho. - Desculpa...
- Não. Vai ficar aí até aprender a me dar o devido valor. - Sento na cadeira e pego o primer para aplicá-lo no rosto. - Eu não mereço pouca coisa, não, Áine Belline. Quer continuar beijando meus lábios? Aprenda a me tratar direito. Fique aí pensando nos seus atos até segunda ordem.
Pelo espelho da penteadeira, a vejo bufar e fazer uma caretinha tristonha. Fofa.
Deixe-me explicar o porquê de Áine estar no cantinho do pensamento. Tudo começou quando deixamos para comprar os presentes de Zarina de última hora e combinamos de ir juntas. Como Áine já estava na rua com sua mãe, ela disse que viria até aqui e me esperaria ficar pronta. Até aí, tudo bem, só havíamos nos visto de manhã na escola, e eu estava - e ainda estou - louca para beijá-la e abraçá-la. Vocês sabem que ultimamente eu não estou conseguindo me conter diante dos sintomas dessa doença denominada paixão, então ansiava muito por um momento de grudinho com Áine quando ela chegasse.
Porém, com tudo, entretanto, todavia... Essa escrota mal me olhou quando abriu a porta do quarto! Eu, com a maior cara de tacho, esperando um beijo e um abraço, fiquei só na espera mesmo. A senhorita se jogou na minha cama, tagarelando sobre algum gatinho que viu na rua, e o resto eu não escutei devido à minha indignação com tal ato.
Imediatamente coloquei minha melhor cara de brava e a repreendi pelo comportamento, mandando-a para o "cantinho do pensamento", na parede ao lado da janela. Agora, ela só vai sair daí quando eu estiver totalmente pronta.
E quem achar ruim vai ficar de castigo igual a ela.
Começo a me maquiar na maior calma do mundo, na velocidade de uma tartaruga com dor nas pernas. De vez em quando, noto Áine me olhando através do espelho. Ela me observa atentamente, segurando uma pelúcia de ursinho minha como se fosse um bebê de verdade que precisa ser ninado.
Falando nesse assunto, já quero puxar outro: a memória de Áine. Ela vem tendo algumas pequenas lembranças, nada muito megafantástico, mas que nos deixam muito felizes. Suas lembranças acontecem nos momentos mais aleatórios possíveis. A memória completa já deveria ter voltado; os médicos dela disseram que possivelmente não voltará. Porém, a esperança é a última que morre, e será nisso que nos agarraremos firmes, já que tudo o que podíamos fazer para ajudá-la já foi feito.
- Lene... - Áine murmura com os ombros caídos e uma falsa expressão chorosa.
- Pianinho. - Olho séria para ela e faço sinal para ficar calada.
Faço toda a minha maquiagem, nada muito forte porque já está para anoitecer e também porque iremos apenas ao shopping, e não a um show. Admiro minha beleza no espelho e me levanto para vestir a roupa.
Nesses dias, estou amando muito blusas com mangas bufantes bem princesinha, então é isso que escolho: uma blusa branca e uma saia jeans clara. Estava pensando em ir de crocs, mas mudo de ideia ao ver minha bota branca. Ela vai dar um toque country à minha roupa. Passo o perfume e dou uma volta em frente ao espelho.
Eita como sou gostosa.
Saio do closet e vou para o quarto, atraindo os olhos da minha Moana.
- Como estou? - pergunto, dando uma giradinha.
Pareço uma criança na loja de roupas querendo a aprovação da mãe.
- Está linda... Demais. - Quase escuto seu suspiro interno. É muito bom saber que ainda causo os mesmos panes no sistema dela. Áine nem pisca enquanto me admira.
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Pequena Polegar
RomanceSentimentos novos, fadinhas na barriga e muitos beijos de melancia