Cólicas do universo feminino

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As fadinhas que me perdoem, mas nesse dia eu estava atacada.

- Como se senti nessa bela manhã de aula pós feriado? - aponta a câmera do seu celular em minha direção.

- Era pra eu sentir alguma coisa? - dou uma olhada rápida em volta da sala de aula onde alunos entram fazendo barulho, outros estão concentrados no caderno fazendo algum dever passado na sexta feira, mas eles resolveram que era melhor e mais emocionante fazer nos últimos cinco minutos antes da professora entrar. - Me sinto radiante! Olhe a minha felicidade transbordando pelos meus poros e inundando a escola. - faço cara de paisagem para a câmera ainda apontada pra mim.

- A alegria dela é contagiante, pessoal. - Vídia aponta o celular para o próprio rosto e começa a falar. - Conseguiram sentir? Tô até mais animada agora. Tô pronta pra enfrentar uma manhã inteira de aulas maravilhosas que com certeza irão mudar o meu futuro e a minha perspectiva de vida.

Sentiram o tom de deboche? Eu senti.

- Com certeza saber quem foi o fulano de sei lá quem, que descobriu não sei o que vai mudar a minha vida.- chego perto dela que vira a câmera novamente na minha direção. - Por falar nisso, você respondeu o dever de casa? - Sorrio apreciando sua beleza.

- Respondi, você quer? - ouço alguns barulhos do fundo da sala, alguém tá falando que o Jhonny trapaceou e agora vão ter que recomeçar a Adedonha. Eu até gosto desse jogo, mas tem vezes que a minha mente não processa direito aí eu me estresso e paro de jogar.

- Não, eu também respondi. - a morena concorda e sai da câmera indo para o Instagram. - Vida, você tá linda. - pego uma trança do seu cabelo e enrolo um dos cachinhos na ponta do meu indicador.

- Obrigada, fiz ontem. - Abre um sorriso do tamanho do mundo - Minha auto estima até elevou aqui.

- Qual o modelo dessa?

- Box braids. Demorou três séculos pra terminar. Só fui chegar em casa onze da noite.

- Também com o tanto de cabelo que tem nessa ca...

- Oi, amores! - vozes familiares preenchem o ambiente. Viro meu rosto e vejo as madames que acabaram de chegar. Abro um sorriso e as puxo para abraçar suas cinturas.

- Achei que não vinham mais. - pronuncio em tô de birra e dou um leve beliscão na cintura de Áine, por cima da camisa do uniforme.

- Eu quase que não vinha mesmo, acordei em cima da hora e tive que correr. Tô com a sensação de que não me arrumei direito. - Zarina sai do meu abraço, deixa um beijo na minha cabeça e se senta na mesa do lado.

- Zari, você tá perfeita, só deixa eu ajeitar aqui. - Vídia endireita milimetricamente a gravata verde exército e tira a correntinha de borboleta que Zari sempre usa de dentro da camisa. - Prontinho. - Sorri.

- E você, por que demorou? - cerro os olhos pra Áine.

- Fui tomar café na padaria com o papai e acabamos perdendo a hora enquanto a gente julgava o pão. - dá de ombros enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Quase que a gente ficava do lado de fora, mas como o tio é nosso parceiro, ele liberou a entrada deu e da Zari, mas quase nos deu um cascudo por chegar tarde e colocou nós duas pra correr pra sala.

- Digo e repito, o tio Jonny é o melhor de toda essa escola. - falo com seriedade e a solto do abraço. Abro minha mochila e pego dois saquinhos de fini, um de melancia e outro de morango. - Toma. - a entrego o de melancia, Áine faz uma dancinha da alegria e me dá dois beijos na bochecha.

- Pega, Zari. - jogo o pacotinho pelo ar e ela o agarra.

A professora entra na sala, encosta o corpo na mesa e espera até que todos façam silêncio, o que acontece de imediato. A ruiva vira para o quadro e coloca a data de hoje.

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