Doces, beijos ou travessuras?

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- Nos encontramos aqui em quarenta minutos. Quem pegar mais doces vence. - falo, apertando a mão de Kai para selar o acordo. Essa é a nossa competição de todos os anos; sempre nos dividimos pelo condomínio, e quem volta com mais doces ganha.

- Que comece a competição dos gêmeos Ortega Myers. - diz Kai, apertando minha mão com mais força.

Viramos colando nossas costas, começamos a contar até três. No final da contagem, cada um corre para um lado da rua, com apenas um objetivo em mente: pegar o maior número possível de doces.

O condomínio está tão bem decorado que até me sinto em um verdadeiro filme de terror. As famílias não estão para brincadeira; suas casas são de dar arrepios em qualquer um. Ao meu lado, caminham três crianças fantasiadas de feiticeiros - pelo volume das sacolinhas, elas começaram o trabalho cedo.

Caminho até uma casa que tem a entrada de um cemitério, com pilastras de pedra desgastada e cheias de mato seco. Os sons de fundo vêm de alguma caixa de som escondida entre os túmulos, e os ruídos se assemelham a ossos sendo quebrados, além de gemidos sofridos de quem está perto da morte. Os jogos de luz e a fumaça pelo ambiente aumentam ainda mais o clima aterrorizante. Seguro com mais força minha cesta de piquenique decorada com morcegos e fantasmas enquanto caminho entre algumas lápides.

Chego até uma pessoa coberta por uma grande capa preta, que oculta todo seu corpo e cabeça, sobrando apenas uma sombra escura em seu rosto. Ela tem um colar com um pingente de cruz em seu pescoço e me estende um panfleto com a foto de uma garotinha. Seu rosto está deformado e triste, com olhos assustados e sem vida, como se estivesse olhando para algo à sua frente.

Escuto um grito assustador de uma criança, e a porta da casa se destrancada lentamente. Fico estática, vendo a mesma garotinha da foto vir em minha direção com uma estaca de madeira enfiada no peito, o sangue já seco. Meu coração dispara quando percebo a pessoa encapuzada erguendo uma estaca igual, a mirando em mim. Não diz uma palavra, levanta o objeto lentamente. Minha respiração fica presa ao ouvir mais gritos infantis misturados com risadas assustadoras.

Movida pelo instinto, enfio a mão no saco de doces e disparo como se minha vida dependesse disso. Acho que quebrei algumas decorações pelo caminho, mas isso não é problema meu. Só quando estou bem longe da casa consigo respirar com calma.

- Caralho! levo a mão ao peito, olhando para o chão. - Tá repreendido! Solto uma risada ao olhar para os doces dentro da cesta e nego com a cabeça ao notar que só consegui pegar cinco. Nessa casa, não volto nem tão cedo.

Passo a mão pelo robe de cetim branco, que esconde minha verdadeira fantasia. Não quero gastá-la apenas em uma corrida de doces, então improvisei: agora sou uma madame que estava em seu spa, bateu a cabeça na banheira, morreu e foi parar no mundo dos mortos.

Ando pela calçada e paro em frente a outra casa. Esta está menos decorada do que a anterior, mas ainda assim tem um ar macabro. Luzes roxas a iluminam, vassouras estão espalhadas pelo gramado, e um boneco de gato preto com um chapéu de bruxa está ao lado de um caldeirão. Fumaça cinza pelo ambiente, e velas acesas estão espalhadas pelo espaço.

Enquanto observo, ouço risadas e gritos vindos de dentro da casa, misturados ao som de uma música sinistra. Decido me aproximar.. Com cuidado, dou um passo em direção à porta, mas antes de tocar a campainha, ela se abre repentinamente. Uma figura fantasiada de bruxa, com um sorriso malicioso, me convida a entrar.

- Bem-vinda ao nosso banquete de Halloween! - diz ela, gesticulando muito dramaticamente.

Sinto um frio na barriga, mas a curiosidade grita mais alto. Entro na casa e sou imediatamente envolvida pelo cheiro de doce e especiarias. A decoração interna é ainda mais impressionante, com teias de aranha feitas de papel penduradas no teto e sombras dançando nas paredes. Crianças fantasiadas estão espalhadas, algumas em volta de uma mesa cheia de guloseimas.

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