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O céu, antes claro, começava a ser coberto por nuvens cinzentas, como se refletisse o clima pesado entre vocês dois. O silêncio no quarto era ensurdecedor, interrompido apenas pelo som abafado da chuva que começava a cair. Carlos estava de pé, com os braços cruzados e o olhar fixo no chão. Você estava sentada na beira da cama, tentando entender como uma conversa que começou trivial tinha descido tão rapidamente para aquele abismo.
Tudo começou com um comentário inocente sobre os eventos de gala que vocês frequentavam juntos. Você havia mencionado que às vezes se sentia deslocada no meio de tantas pessoas importantes, mas ele interpretou de outra forma, algo que você nunca imaginou.
— Então é por isso que você está comigo? — ele disparou de repente, sua voz carregada de frustração e algo mais sombrio. — Por causa das festas, dos jantares, da vida de luxo?
Você ergueu os olhos, incrédula, sentindo o impacto imediato de suas palavras. — O quê? De onde você tirou isso, Carlos?
Ele deu um passo para trás, passando a mão pelos cabelos em um gesto irritado. — Não se faça de desentendida, [Seu Nome]. Eu ouço os comentários, os rumores. 'Ela só está com ele por causa do dinheiro.' 'Ela está aproveitando a fama dele.' Você acha que não sei o que as pessoas dizem?
Você sentiu as lágrimas começarem a arder em seus olhos, mas lutou contra elas, mantendo a voz firme. — E você acredita nisso? Depois de tudo o que passamos juntos, é isso que você pensa de mim?
Carlos riu, mas foi um riso seco, amargo, tão distante do som que você amava. — Não sei mais o que pensar. É tudo tão fácil para você, não é? Você entra na minha vida, viaja pelo mundo, vive cercada de privilégios...
— Fácil? — você interrompeu, sua voz falhando enquanto a mágoa crescia dentro de você. — Você acha que é fácil lidar com as críticas, com o fato de que tudo que faço é julgado? Que tudo que sinto por você é colocado em dúvida?
Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos escuros, geralmente calorosos, agora estavam cheios de desconfiança. — Então prove que não é verdade.
As palavras dele atingiram você como uma faca. Você se levantou, o coração batendo descompassado. — Provar? Carlos, o que mais eu preciso fazer? Eu estou com você em todas as corridas, nos momentos bons e nos ruins. Eu te apoio, mesmo quando isso significa abrir mão da minha própria vida. Mas, claro, nada disso importa, não é? Porque no fundo, você não confia em mim.
Ele abriu a boca para responder, mas hesitou, o rosto endurecido por uma mistura de raiva e dúvida. — Talvez eu só esteja cansado de me perguntar quem realmente está ao meu lado, por mim, e não pelo que eu posso oferecer.
Essa foi a gota d'água. Você sentiu seu peito se apertar, como se o ar tivesse sido arrancado do ambiente. — Se é assim que você me vê, então talvez eu nunca tenha estado ao seu lado de verdade.
As lágrimas que você vinha segurando finalmente escaparam, deslizando silenciosamente pelo seu rosto. Você pegou sua bolsa e caminhou em direção à porta, mas parou por um momento, olhando para ele pela última vez.
— Eu nunca pedi nada além do seu amor, Carlos. Mas parece que isso não é suficiente para você.
Ele não respondeu. Ficou parado, imóvel, enquanto você saía do quarto, deixando para trás um silêncio ainda mais doloroso do que as palavras que haviam sido ditas.
Do lado de fora, a chuva caía com força, misturando-se com suas lágrimas enquanto você andava sem rumo. O peso da mágoa em seu coração parecia insuportável, como se algo precioso tivesse sido quebrado irreparavelmente. E, pela primeira vez, você se perguntou se o amor era suficiente para superar a falta de confiança.
