Sem medo de amar

Capítulo 54

Pov Elis

Os dias seguintes foram um turbilhão de sentimentos conflitantes. Acordei no hospital cercada por rostos preocupados: Letícia, Henrique, Matthew, e, claro, Chloe. Ela estava sempre ao meu lado, segurando minha mão com carinho, como se estivesse tentando se comunicar comigo sem palavras. No início, a sensação de estar despertando de um pesadelo ainda me fazia vacilar entre a realidade e os sonhos. Mas, aos poucos, eu fui percebendo que estava realmente ali, de volta, respirando, sentindo, mas também com o coração apertado.

A recuperação foi lenta e dolorosa, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Cada movimento, cada tentativa de me levantar da cama parecia exigir um esforço imenso, mas o que mais me pesava não era a dor no corpo.

Letícia: Elis, precisamos conversar.-disse ela, a voz suave, mas com uma seriedade que me fez prestar atenção.- Você precisa entender que tudo o que aconteceu até agora, o que está acontecendo... isso não vai desaparecer da noite para o dia.

Elis: eu sei, mãe. Eu sei que ainda há muita coisa para resolver.

Letícia: Você sabe que a Chloe se preocupa muito com você, mas precisa entender que, por mais que a gente ame, ninguém está imune a erros. Ela também errou, Elis.

Elis: Eu... eu vi algo, mãe.- disse, os olhos se fixando em minhas mãos, que estavam entrelaçadas.- Eu vi Chloe e Theo juntos.

Letícia: Elis, o que você viu não define a relação de vocês. Mas você precisa falar sobre o que está sentindo, precisa deixar a Chloe entender os seus medos.

Foi naquele momento que Chloe entrou no quarto. Seus olhos estavam cansados, mas ela sorriu ao me ver, com uma expressão misturada de alívio e dor. Ela estava visivelmente abalada, como se a própria culpa a consumisse. E, talvez, estivesse certa em sentir isso. Eu sabia que, em algum nível, ela também estava enfrentando as consequências de suas escolhas.

Chloe: Eu... eu estive pensando, Elis.- ela disse, sua voz trêmula, os olhos marejados.- Eu sei que te magoei, e eu... eu não queria fazer isso. Nunca. Eu sinto muito.

Elis: Chloe, você precisa me explicar tudo.-disse, a voz mais firme do que eu esperava.-Eu vi o que vi, e não posso ignorar isso. Mas também sei que nós duas precisamos de uma conversa honesta. Eu preciso saber o que você sente, o que aconteceu... e o que você quer de mim. Porque eu não posso continuar assim.

Chloe olhou para mim, e eu percebi que suas palavras seriam pesadas, mas necessárias. Ela parecia tentar reunir coragem para falar, mas a cada segundo, ela se aproximava mais da verdade que estava guardada dentro de si.

Chloe: Eu te amo, Elis. Eu te amo muito. Mas, por um momento, eu me deixei confundir. E Theo... ele... foi uma distração. Mas, nunca foi você. Eu só... eu só queria que você me ouvisse.

Aquelas palavras me cortaram de uma maneira que eu não sabia como lidar. Theo foi uma distração? Eu não sabia se aquilo fazia mais sentido ou se era apenas uma tentativa de explicar o inexplicável. Mas, algo em mim queria acreditar.

Chloe: Eu não quero que você se afaste de mim, Elis.- disse baixinho, quase com uma súplica na voz.- Sei que te machuquei, mas o que sinto por você é real, e eu quero lutar por isso. Quero corrigir o que fiz de errado.

Elis: Eu também não quero me afastar de você, mas não posso ignorar o que aconteceu. Eu... eu só preciso de tempo, Chloe.

Chloe: Eu sei que você precisa de tempo. E eu vou te dar esse tempo, Elis. O que importa é que eu estou aqui, e quero mostrar que posso ser digna da sua confiança novamente.

Nos dias seguintes, eu voltei para casa, mas a sensação de fragilidade ainda pairava sobre mim. Meus pais estavam mais presentes do que nunca, sempre atentos e dispostos a me apoiar em cada pequeno passo da recuperação. Matthew também apareceu várias vezes, trazendo sua energia leve e tentando me fazer sorrir, como só ele sabia fazer.
Chloe, por outro lado, estava se esforçando para me mostrar que estava comprometida. Ela me enviava mensagens, me ligava, e até tentava passar mais tempo comigo, sem pressionar. Às vezes, quando ela estava lá, sentava-se ao meu lado na sala de estar, apenas conversando sobre assuntos simples, tentando fazer com que as conversas se tornassem naturais novamente, como antes. Eu sentia a tentativa dela.

Dias seguintes...

em um desses passeios ao parque, que minha mente finalmente entrou em um confronto mais direto com a realidade. Chloe me encontrou ali, sentada em um banco debaixo de uma árvore, com o olhar distante. Ela se aproximou, sem pressa, como se soubesse que eu estava processando cada pensamento.

Quando se sentou ao meu lado, não disse nada de imediato. Ela apenas ficou ali, quieta, esperando. Eu olhei para ela, sentindo o peso das nossas últimas conversas. O que eu queria? O que eu sentia por ela agora? Eu sabia que havia ainda um vínculo entre nós, algo que não poderia ser apagado, mas também havia muito medo. Medo de me machucar de novo.

Elis: Eu pensei muito sobre o que você disse, Chloe.- comecei, a voz mais suave do que eu gostaria.- E eu acho que... acho que não posso mais continuar assim, com medo, sem saber o que vou sentir a cada dia. Preciso ser honesta comigo mesma, e com você.

Chloe me olhou com atenção, seus olhos refletindo uma mistura de expectativa e receio. Ela sabia que essa conversa estava prestes a mudar tudo entre nós.

Elis: Eu te amo, Chloe.- continuei.- mas não sei se posso seguir em frente sem me sentir insegura de novo. Eu não sei se posso confiar completamente. Não agora. Talvez, um dia... mas não agora.

Chloe: Eu entendo.- ela disse finalmente, a voz suave.- Eu não vou te pressionar. Se eu realmente quero te reconquistar, então eu preciso ser paciente. Eu te amo, e vou esperar. Sei que não posso apressar o seu coração, mas vou estar aqui. Sempre.

Chloe não disse mais nada. Ela apenas pegou a minha mão, com uma suavidade que parecia dizer tudo. E, naquele gesto simples, algo em mim relaxou.