Capítulo 82

27 7 0
                                    



A dor se intensificava a cada minuto, e o ambiente ao meu redor parecia se tornar um borrão de rostos preocupados e vozes apressadas. O efeito do remédio amenizava um pouco o desconforto, mas não o medo que crescia dentro de mim. Juliette segurava minha mão com força, como se quisesse me ancorar ali, impedir que eu me perdesse no pânico que ameaçava me consumir.

— Estou aqui, amor... — ela sussurrou, beijando minha testa molhada de suor. — Você está indo muito bem.

Os médicos estavam prontos. O parto precisava acontecer o mais rápido possível para evitar que a bactéria chegasse à nossa bebê. O tempo corria contra nós. Eu queria que Maria Paula estivesse segura, mas, ao mesmo tempo, o pensamento de tê-la fora de mim antes da hora me assustava.

A sala era fria, as luzes fortes me cegavam um pouco, e o nervosismo me fazia tremer. Juliette não soltava minha mão em nenhum momento. Seus olhos estavam marejados, mas ela tentava se manter forte por mim, por nossa filha.

— Está tudo bem, amor, estamos quase lá — repetia, sua voz trêmula, mas firme.

Ouvia as vozes dos médicos e enfermeiros dando instruções. Meu coração batia acelerado. Senti que eles fizeram todo os procedimentos da cesárea, então, um alívio repentino quando finalmente a tiraram de mim. Ela estava livre de qualquer forma de se infectar ali.

Por um instante, o tempo parou.

Esperei, prendi a respiração, aguardando o som que todas as mães sonham em ouvir naquele momento. Mas o choro não veio imediatamente.

— Por que ela não chorou? — minha voz saiu fraca, mas cheia de desespero.

Juliette olhou para os médicos, buscando uma resposta. Eles estavam concentrados em nossa bebê, e meu coração se apertou. Meu corpo todo tremia, a exaustão se misturando com o medo.

Segundos depois, um choro fraco e baixinho ecoou pela sala.

Eu solucei de alívio, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Juliette também chorava, mas logo seu olhar mudou ao ver as enfermeiras e os médicos agirem rapidamente. Maria Paula precisava ser levada para a UTI neonatal.

— Mas... e o meu bebê? — minha voz falhou. Eu sabia que aquilo poderia acontecer, mas não estava preparada para ver minha filha ser levada sem ao menos tê-la em meus braços. Sem aquele momento que eu sempre imaginei: sentir sua pele contra a minha, olhar em seus olhinhos, vê-la ali, frágil e perfeita, nossa pequena.

Juliette se levantou no instante em que as enfermeiras pegaram nossa bebê. Eu vi o dilema no olhar dela. Ela me olhou, depois para Maria Paula sendo levada, e então para mim de novo.

Ela não sabia o que fazer.

— Amor... — sua voz saiu embargada.

Eu não queria que ela me deixasse, mas o medo falou mais alto. E se levassem minha filha para longe? E se algo acontecesse? Pensamentos irracionais tomavam conta da minha mente, e eu precisava de alguém ali para garantir que nossa bebê estava segura.

Segurei a mão de Juliette, mesmo sem forças, e pedi baixinho:

— Vai com ela, por favor. Não deixa ela sozinha. Eu fico bem, mas preciso que você vá...

Os olhos dela brilharam de angústia, mas ela assentiu, abaixando-se para me dar um beijo na testa.

— Eu te amo. Eu vou ficar com ela e te trazer notícias. Fica tranquila, amor.

Eu a vi sair atrás das enfermeiras, o coração apertado por não poder estar junto. Minha bebê, tão pequenininha, tão indefesa, longe de mim.

A dor física se misturava com a dor emocional. Não era assim que eu imaginei esse momento. Eu queria o nosso instante juntas. Eu queria minha filha comigo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: 21 hours ago ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Férias no Rio de JaneiroOnde histórias criam vida. Descubra agora