4. Beco sem saída

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Depois de trancar a porta, rumei para o canto do quarto e deitei em minha cama, me encolhendo enquanto enroscava um travesseiro entre meus braços. Olhei para o teto e ali os meus olhos paralisaram.

Como era possível que Alejandro tivesse outra filha? Aliás, aquilo era o de menos. A pior parte era a traição em si. Como ele fora capaz de trair a minha mãe? Tudo bem que aquilo havia acontecido muito antes de ele saber que minha mãe já me esperava, mas nada justificava. Em meu dicionário não existia a palavra infidelidade. Quando duas pessoas se uniam, deveria ser para sempre. A exclusividade era indispensável para o relacionamento fluir perfeitamente. Eu não conseguia sequer imaginar como minha mãe havia o perdoado. Talvez o amasse mais do que eu imaginava.

Mas, ainda assim, isso era o de menos. Eu precisava dar um jeito de ele não deixar Lauren ficar ali. Embora eu sequer a conhecesse, já conseguia sentir que era uma péssima ideia tê-la por perto. Era a minha casa, a minha família, o meu espaço. Só de imaginá-la convivendo comigo diariamente eu me sentia enjoada. Aquela garota simplesmente precisava ficar longe de mim.

Depois que minha cabeça voltasse no lugar, eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para convencer Alejandro a mandá-la embora. Ameaçaria, gritaria, pediria gentilmente, faria chantagem emocional, imploraria. Qualquer coisa para tê-la longe. Eu sequer conhecia ela, mas sua presença, até mesmo antes de saber quem era ela, me incomodava. Talvez eu não fosse aguentar olhar mais uma vez dentro daqueles olhos densos, era confuso demais. Eu não queria sentir aquele turbilhão de emoções novamente, era perturbador.

E então eu já a odiava. Por tudo o que ela era, por ter entrado em minha vida, por ser minha irmã, por me causar sensações desconhecidas. Eu literalmente daria um jeito naquela situação.

Fui despertada de meu dilema por três suaves e consecutivas batidas em minha porta. Provavelmente era Alejandro, mas eu não estava em condições de falar com ele, até porque eu ainda precisava elaborar uma estratégia para fazê-lo mudar de ideia quanto a trazer Lauren para morar conosco.

– Abra a porta, Camila – ouvi ele pedir do outro lado da porta.

Preferi não respondê-lo. Só precisava, desesperadamente, ficar sozinha. Eram tantos sentimentos ao mesmo tempo.

Logo ouvi o sutil barulho da porta sendo destrancada e por fim aberta. Eu não podia acreditar que ele tinha usado a chave extra para invadir o meu espaço. Aquilo sim havia me irritado. Se a porta estava trancada era por um motivo muito óbvio – eu precisava de privacidade.

Alejandro foi entrando sem pedir licença e se sentou nos pés de minha cama.

– Por que você não vai embora? Eu preciso ficar sozinha – falei enquanto me sentava na cama e posicionava o travesseiro sobre meu colo.

– Eu não vou embora, Camila. Eu sei que você está incrivelmente abalada pela notícia que acabou de ser dada a você, mas nós precisamos conversar sobre isso – disse ele num tom de voz complacente, porém era nítido em sua expressão o quanto estava magoado com meu comportamento.

– Eu não tenho o que conversar com você, adúltero – disse num fôlego só, sem nem ao menos pensar, pois qualquer resquício de respeito que tinham me ensinado no decorrer de minha vida havia sumido.

– Não irei permitir que você me trate dessa forma. Eu não lhe ensinei a ser assim. E sei perfeitamente que o que eu fiz foi um grave erro, mas não há nada que eu possa fazer para repará-lo – defendeu-se meu pai, e era evidente que o estresse em sua voz e expressão crescia ainda mais diante de meus maus modos.

– Você realmente não pode reparar esse tipo de erro – alfinetei mais uma vez, mas dessa vez ele preferiu ignorar.

– Não é isso que quero discutir – falou ele, encerrando por ali minhas condenações.

– E o que você quer discutir? Espero que seja o preço da passagem para mandar Lauren de volta para Campinas.

– Mandar Lauren embora para Campinas? Acho que você não entendeu ainda que ela vai morar conosco e ponto final. Não há o que se possa fazer quanto a isso – rebateu Alejandro com um tom de voz que sugeria que eu deveria ter algum problema por não ter sido capaz de entender que aquilo simplesmente estava fora de meu alcance.

– Você tem alguma noção do que a minha mãe vai fazer quando souber que você tem uma filha fora do casamento e que pretende trazê-la para morar aqui dentro de casa? – Aquela era minha primeira jogada. Uma intimidação.

– Sinu já sabe que Lauren é minha filha e que irá morar conosco – desfez ele minha primeira tentativa, aparentemente se controlando para não deixar uma espécie de presunção transparecer.

– E ela não vai fazer nada quanto a isso? – questionei, completamente cética. Não conseguia compreender por que diabos minha mãe não tinha entrado no primeiro avião em Chicago para me tirar de São Paulo.

– Sua mãe também acredita que você precisa se conectar com a Lauren, pois é sua irmã – esclareceu ele.

– Se você realmente não vai mandar ela de volta para Campinas, saio eu. Vou para Chicago morar com a minha mãe – lancei outra investida, franzindo o cenho. Chantagem emocional.

– Quando ela foi embora você decidiu ficar aqui comigo, em São Paulo. A sua guarda é minha, Camila. Você só sai daqui com a minha permissão – rebateu ele, completamente inflexível. Aquilo estava me deixando irritada.

– E você acha que eu preciso da sua permissão para ir morar com a minha mãe? Se eu desejar subirei no primeiro avião direto para Chicago – desafiei meu pai, atropelando sua autoridade. Eu já estava no ponto de ameaças, então poucos artifícios me sobravam para conseguir convencê-lo a mandar Lauren embora.

– Você pode até fazer isso, mas arrumarei uma forma jurídica de impedir que sua mãe possa ficar ao seu lado sem a supervisão de alguém. Eu farei isso se for preciso – falou por fim, sem qualquer vestígio de piedade em suas palavras. Eu via apenas obstinação nos olhos claros de meu pai.

– Nossa, você realmente faria isso? – perguntei, completamente perplexa.

– Você quer me testar? Vá em frente.

– Pai, por favor, mande-a de volta para Campinas – disse a Alejandro, mais implorando do que pedindo. Eu sabia que ele não mudaria de ideia e que minha última alternativa seria gritar com ele, mas aquilo não resolveria em nada.

– A mãe dela faleceu, Mila. Será que você não poderia ser mais benevolente? – Alejandro pousou sua mão sobre a minha e depois a acariciou.

– Isso é terrível, mas será que ela não poderia ficar com outros parentes? – sugeri, porém sem forças. Eu conseguia compreender a situação de Lauren, mas era impossível aceitar o fato de que ela faria parte de minha vida daquele momento em diante.

– Nem que ela tivesse. Ela é minha filha, sua irmã, e vai ficar conosco – encerrou ele qualquer possibilidade de eu voltar a me manifestar. A batalha poderia estar vencida, mas a guerra, não.

Alejandro beijou minha testa carinhosamente e se retirou do quarto, me deixando sozinha com minhas frustrações.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora