12. Baile de formatura II

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Não tardou muito para que as cerimônias começassem, típicas de qualquer formatura. Houveram homenagens para professores e alunos e apresentação dos formandos. Logo depois o jantar, que estava de tirar o fôlego, foi servido, então todos voltaram para as mesas a fim de apreciarem aquele banquete.

Cerca de uma hora depois, Ally veio até nossa mesa. Cumprimentou todos ali sentados, pois já conhecia a minha família, iniciou algumas conversas paralelas com meus avós e depois veio perto de mim. Abaixou-se um pouco e falou perto de meu ouvido, apenas para eu escutar:

– Você vai vir comigo agora mesmo para me contar o que é que está lhe deixando tão apreensiva.

– Eu vou? – questionei, um tanto quanto surpresa. Talvez eu fosse mais óbvia do que imaginava.

– Venha, Mila – disse por fim, me puxando pela mão e fazendo-me levantar.

Atravessamos o imenso salão de mãos dadas e chegamos à entrada dele. Poucas pessoas se encontravam ali fora.

– O que está acontecendo, Camila? – inquiriu Ally, cruzando os seus braços sobre os seios e olhando dentro de meus olhos.

– Acho que não estou aguentando essa situação com a Lauren. Tenho ciúme dela com o meu pai – comecei a explicar, mas aquilo era uma mentira. Talvez fosse a mentira mais convincente que eu já havia contado.

– Bem... isso não deve ser nada fácil. E acho que seria estranho se você não sentisse ciúme. Afinal, de repente, chega outra garota na sua casa e rouba toda a atenção – especulou a loira, suavizando sua expressão.

– É exatamente isso – confirmei, quase aliviada pela conversa assumir aquele rumo. Seria fácil sustentar aquela mentira.

– Mas não é isso que está lhe incomodando de verdade – concluiu ela, me sobressaltando.

– Tudo bem, Ally. Uma hora eu vou ter que lhe contar, então que seja agora – falei, respirando fundo enquanto sentia uma ansiedade monstruosa se alojar em meu estômago.

– Então fale, por favor. Você sabe que pode me contar tudo – disse Allyson, me encorajando.

– Sabe, desde a primeira vez que vi Lauren, senti coisas muito estranhas por ela, coisas que não sei explicar – comecei a relatar, sentindo minha voz ficar instável.

– Que coisas, Camila? – perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas.

– Eu não sei. Um encanto, sei lá. Quando eu chego perto dela, fico nervosa. Nos momentos em que ela me olha nos olhos eu já não sei mais quem eu sou. E ela é tão linda... e eu queria ficar perto dela. Mas somos irmãs, não sei o que fazer. – Ok, minha fala poderia ter de tudo um pouco, menos coerência. Era tão difícil exteriorizar todos os meus sentimentos.

– Deixe-me ver se entendi. Você está gostando da Lauren de uma forma muito intensa, mas que não envolve sentimentos de irmãs?

– É exatamente isso. Mas eu sei que é errado, é errado, é errado, é errado. É muito errado. É errado. E eu nunca fiz nada, nunca irei fazer, pois uma hora isso irá passar – apressei-me em me explicar, ficando completamente desesperada pelo julgamento que aparentemente viria.

– Como posso culpar você por isso? – perguntou Ally, completamente complacente. Sua expressão estava suave.

– Mas você deveria me culpar, isso é errado – afirmei, me estabilizando.

– Não disse que é certo. É só que...

– Que...?

– Bem, eu estou pensando no Brandon agora. Ele é quatro anos mais velho que eu e crescemos felizes um ao lado do outro. Nosso relacionamento pode não ser perfeito, mas eu amo muito o meu irmão. Mas e se eu tivesse sido filha única por dezessete anos da minha vida e, de repente, ele vem morar em minha casa? Quem pode me garantir que eu não iria sentir-me atraída por ele, uma vez que ele é tão bonito e boa pessoa? Muitas vezes o que cria em nós o sentimento de que um irmão não pode ser um objeto de desejo é a convivência, as brigas, a fraternidade que surge quando vocês dividem quase todos os dias de suas vidas. É isso que ser um irmão significa. Mas você e Lauren não tiveram isso. Uma apareceu na vida da outra do nada. Como você espera amá-la como irmã se ela nunca esteve em sua vida antes? – disse ela, me deixando completamente sem palavras.

– Nossa, Ally. Você está assustadoramente certa – concordei prontamente, sem conseguir encontrar algo melhor para dizer a ela. As palavras me escapavam e o mundo enfim começava a fazer sentido.

– Apenas pense nisso. O que você vai fazer depois é uma escolha apenas sua.

Allyson me abraçou rapidamente e depois se retirou, deixando-me ali sem qualquer reação.

Só voltei à realidade quando Austin parou em frente a mim com as mãos nos bolsos. Ele usava um smoking e gravata borboleta cinzas e uma camisa preta por baixo. Seu cabelo, relativamente comprido, estava todo penteado para trás, conferindo a ele um ar de sofisticação. Austin estava absolutamente lindo, mas não senti coisa alguma ao vê-lo. Era tão estranho não me sentir mais feliz com a presença dele.

– Você está inacreditavelmente linda, Camzzi – disse ele, sem sorrir.

– Você também, Austin – elogiei, porém sem conseguir pôr emoções em minhas palavras. Allyson havia me dado muito em que pensar.

Ele se aproximou um pouco de mim, mas inconscientemente acabei dando um passo para trás. Austin não pareceu ficar surpreso diante daquele gesto.

– Acho que nós deveríamos terminar, Camila – disse ele, criando um vinco entre suas sobrancelhas grossas.

– Por quê? – indaguei, ficando muito surpresa. Eu deveria prever que o fim viria, mas não imaginava que seria tão logo.

– Eu te amo, mas você já não corresponde esse meu sentimento – explicou, e pude jurar que seus olhos estavam lentamente se enchendo de lágrimas.

– Não é assim, Austin – tentei contorná-lo, mas eu não sabia o que deveria dizer.

– Camila, você tem me evitado há cerca de três semanas, não atende minhas ligações, não fica perto de mim por mais de dez minutos, não consegue me beijar e sequer consegue dizer um "eu também te amo". Por que ainda estamos fazendo isso? Está muito claro que a situação só tende a piorar – citou ele os erros dos quais eu já estava mais do que ciente. Como iria negar?

– Eu posso melhorar – falei, mas acho que foi da boca para fora. Ele mesmo havia acabado de dizer que a tendência era piorar.

– Você já disse isso antes. Nós sabemos que você não irá melhorar – falou por fim, cheio de convicção. Meus olhos começavam a ficar marejados.

– Não tem nada que eu possa fazer? – perguntei por perguntar, pois eu sabia perfeitamente que aquele era o nosso ponto final. Por que era tão difícil deixar ele ir embora?

– Não, não tem. É isso. Cada um segue o seu próprio caminho daqui para frente – concluiu Austin, enfim se aproximando de mim. Colou seus lábios demoradamente em minha testa, desferindo um beijo ali. Depois virou as costas e entrou no salão.

Fiquei ali, paralisada por um momento, sem conseguir me mover, sem conseguir pensar, sem conseguir sentir. Eu havia encontrado uma forma de afastar de mim o namorado mais perfeito da história. Que ótimo.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora