9. Negação

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A primeira semana de dezembro enfim havia chegado. Aquilo não significava apenas que o colégio inteiro estava mobilizado pela feira ambiental, mas também que faltavam poucos dias para o término do ano letivo. No final da segunda semana daquele mês haveria a colação de grau e, no dia seguinte, o baile de formatura.

As carteiras de nossa sala de aula estavam servindo de suporte para maquetes. Eu me encontrava logo atrás de uma daquelas mesas, junto com Ally e Lauren. Deveríamos falar, para qualquer pessoa que entrasse ali e se dirigisse a nós, sobre a má destinação dos resíduos tóxicos de algumas indústrias. Aquela seria a nota final de várias matérias, além de geografia. Eu poderia ter pulado aquela parte, uma vez que já havia sido aprovada, mas era divertido ir à escola para olhar o trabalho desempenhado pelos outros alunos, embora eu me sentisse uma estudante de oitava série fazendo aquilo.

Lauren estava em pé, um pouco a frente de mim, dando uma explicação sobre destruição ambiental para três garotos que aparentavam estar na sétima série. Dois deles estavam interessados, mas o terceiro estava quase bocejando. Minha irmã parecia não se incomodar com a falta de atenção, uma vez que ensinar as outras pessoas era fascinante para ela. Daquilo eu só sabia porque a ouvira mencionar em um dos cafés da manhã. Eu via que levava jeito para ensinar, e ela sequer havia pedido nossa ajuda com as explicações. Sendo assim, Allyson estava sentada logo ao meu lado, mexendo no celular com uma impressionante expressão de tédio.

Eu também estaria entediada, se olhar para Lauren não fosse o passa tempo mais excepcional de todos os tempos. Eu gostava de ouvir a voz dela, de olhar aquele sorriso e de vê-la feliz.

Embora não tivéssemos mais trocado uma palavra sequer desde a última semana, eu não conseguia deixar de me interessar por ela. E, por ora, eu fingiria que era uma coisa idiota, pois estava cansada demais para lidar com a ideia de que aqueles sentimentos fugiam de minha compreensão. E eu sabia que eles eram imensos.

– Feche a boca, Mila, senão vai escorrer babinha – comentou Ally bem perto de meu ouvido, apenas para eu escutar.

– Oi? – questionei, um tanto quanto confusa.

– Você tem que ver a cara de idiota que você faz quando começa a olhar para a Lauren – explicou ela, estreitando seus olhos por trás das lentes dos óculos.

– Eu não faço cara nenhuma – rebati, mordendo o lábio inferior.

– Faz, sim. Mila, você gosta muito dessa garota, e só não quer admitir isso – afirmou a loira.

– Eu quero que ela vá embora – rebati, porque aquela conversa estava assumindo um rumo que eu não esperava, um rumo que eu não desejava.

– Vou fingir que acredito em você. – Ally não dava uma brecha sequer.

Fiquei em silêncio.

– Mila, seu pai ganhou outra filha e está muito feliz por isso. Por que você não consegue admitir que também está feliz por ter ganhado uma irmã? – insistiu ela no assunto, me encurralando.

– Eu não queria que ela fosse minha irmã – falei a ela com toda a convicção do mundo.

– Se você gosta tanto da Lauren, por que não iria querer que ela fosse sua irmã? – perguntou, tentando entender o que se passava em minha cabeça.

Resolvi não insistir naquela conversa, pois quanto mais eu tentasse me defender, mais comprometida acabaria. Sem contar que Allyson deveria imaginar que meus sentimentos por Lauren eram os mais fraternais possíveis, quando eu mesma começava a concluir que de fraternais não tinham nem o "f". E, pelo que ocorrera na piscina, os de Lauren também não eram.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora