Uma Estranha Em Minha Vida

13. Baile de formatura III

Respirei fundo e fiz tudo o que pude para retrair as lágrimas que insistiam em se alojar em meus olhos, e por fim nenhuma delas escorreu por minha face. Olhei para o alto e me perdi em pensamentos enquanto observava os fechos de luz produzidos pelos skywalkers passearem pelo céu negro, criando um perfeito contraste com as estrelas.

Fiquei pensando em Austin. Nós namorávamos desde o primeiro ano do ensino médio. Embora tivéssemos nossos altos e baixos, curtos períodos de separação e alguns desentendimentos, estávamos sempre juntos. Até a chegada de Lauren, eu correspondia plenamente os sentimentos do moreno. Era muito triste saber que três anos da minha vida se tornaram uma coisa tão insignificante perto de todo aquele encanto absurdo que eu sentia por Lauren. Eu tinha uma certeza mais do que plena de que meus sentimentos por ela eram os mais intensos e profundos que eu já havia experienciado em minha vida, mas jamais poderíamos ficar juntas.

Por culpa de toda a minha confusão eu havia perdido aquele cara que eu amei por três anos. E, para piorar, eu também não podia estar com Lauren. Senti o inconformismo me assolar, pois eu não tinha nem ele e muito menos ela. Se eu havia conseguido arruinar um relacionamento de três anos por causa da paixão que eu sentia por Lauren, me perguntei se algum dia eu seria capaz de ficar com outra pessoa que não fosse ela.

E, de repente, as lágrimas voltaram com força total, incendiando meus olhos. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Entrei no salão e meus tímpanos foram bombardeados pela batida frenética e alucinante de uma música eletrônica desconhecida. As únicas luzes acesas dentro do salão eram as de refletores posicionados no centro do âmbito, exatamente sobre a ampla pista de dança. Havia um imenso globo de discoteca preso ao teto, e ele refletia para todos os lados as luzes coloridas produzidas pelos demais aparelhos de iluminação. Ainda havia a presença de uma fumaça inodora e alva. Se eu não estivesse quase em pedaços, sem dúvidas estaria junto com todas aquelas pessoas que dançavam com um ânimo implacável.

Até então eu sentia vontade de ficar sozinha, mas em um segundo aquela vontade se tornou uma necessidade. Em meio à pista de dança se encontrava Austin, dançando colado com uma garota desconhecida. Eles estavam se beijando. Ok. O ódio simplesmente me dilacerou. Eu sabia perfeitamente que ele só estava com aquela garota para tentar se desligar da decepção que eu infligira a ele, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Quando eu menos esperava, as lágrimas já estavam descendo por meu rosto num fluxo constante.

Apressei o passo e enfim consegui atravessar todo o salão, parando em frente a uma grande porta de madeira que havia no fundo dele. Entrei no cômodo, fechando a porta atrás de mim. Deparei-me com uma ampla sala que tinha o chão coberto por um imenso tapete felpudo de cor preta. Havia um sofá branco em "L" no fundo dela, logo ao lado de um aquário feito totalmente de vidro. A temperatura era amena e não havia uma viva alma sequer por ali. Afinal, o baile havia começado e ninguém em sã consciência o perderia para ficar dentro de uma sala quase escura, se não fossem pelas pequenas lâmpadas alaranjadas embutidas nos cantos da sala.

Sentei-me no sofá a tapei o rosto com as palmas das mãos. Eu já não me importava se iria borrar a maquiagem, se alguém entraria ali e me veria assim, se eu passaria a minha formatura inteira chorando em vez de dançar. Eu me encontrava em meio a um indissolúvel caos.

Senti alguém se sentar ao meu lado e, relutantemente, tirei a mão do rosto, limpei rapidamente as lágrimas que haviam por ali e depois olhei para o lado, me deparando com aqueles grandes olhos claros, profundos, intrínsecos, insondáveis. Meu oxigênio faltou, pois Lauren era a última pessoa que eu possivelmente gostaria de ver naquele momento. Embora minha raiva ainda fosse intensa, eu simplesmente me desmanchava quando estava perto dela. Sua simples presença já me fizera ficar melhor. Afinal, ela era o motivo de todas as minhas lágrimas.