17. Lauren Cabello Jauregui

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Não demorou muito tempo para regressarmos a São Paulo. O ano novo em Angra havia sido, de longe, perfeito, e então eu estava extremamente satisfeita com aquela viagem. Eu havia ficado um pouco triste por ter que deixar o hotel, mas era muito reconfortante saber que o motivo de a viagem ter sido maravilhosa estava voltando para casa junto comigo. Era claro que o clima de paz que jazia entre eu e Lauren não havia passado despercebido por Alejandro. No carro, meu pai nos enchera de perguntas, completamente curioso para saber como havíamos acertado nossas discórdias. Óbvio que eu e Lauren mentimos e inventamos uma série de coisas que não aconteceram, só para confortá-lo. Por fim, Alejandro tinha acabado se calando e contentando-se com nossas imperfeitas explicações. No fundo ele sabia que o importante era estarmos conciliadas, não importava como. Mas o "como" era obscuro demais para ele precisar ficar sabendo.

Eu estava deitada em minha cama, olhando para o teto escuro. Já era madrugada e eu não conseguia dormir. Se Alejandro tinha suas dúvidas quanto a nós duas, eu também tinha. Eu me lembrava perfeitamente que, enquanto assistia ao show que ocorrera durante o jantar de ano novo, havia prometido a mim mesma que tentaria saber mais sobre Lauren. Mas, de alguma forma, eu não sabia como fazê-lo. Eu era péssima em diálogos mais delicados como os que nós duas precisávamos ter. Ainda precisava pensar no que diria, respirar fundo e tomar coragem, embora fosse uma imensa besteira hesitar tanto. Afinal, eu e Lauren tínhamos ido muito além. O que era uma conversa comparada a tudo o que já havíamos feito? Quase nada.

– Sua covardia me impressiona, Camila. – falei para mim mesma, revirando os olhos.

Decidi deixar aquilo para uma ocasião mais apropriada. Acordar Lauren para conversar era inadequado. Mas eu não conseguia dormir... Foi então que me ocorreu a ideia de ir ao quarto dela, checar como ela estava e depois voltar para o meu. Talvez conseguisse dormir depois de vê-la por alguns instantes.

Levantei de minha cama, passei as mãos em meu cabelo desalinhado e saí do quarto. Andei por alguns instantes no corredor do segundo andar e enfim parei em frente à porta do quarto de Lauren. Girei a maçaneta bem devagar, para evitar fazer barulho. Entrei no cômodo e fechei a porta atrás de mim gentilmente, olhando para a direita logo em seguida, onde se localizava a cama. A janela aberta permitia que a luz opaca e pálida entrasse no cômodo, criando um reflexo suave sobre o lençol de cetim que cobria o corpo de minha irmã.

Fui me aproximando da cama bem vagarosamente para não acordá-la. Prometi a mim mesma que olharia ela dormir por alguns minutos e depois a deixaria em paz. Parei ao lado da cama, de costas para a janela. Era reconfortante ficar perto dela, eu me sentia muito mais calma. Como a luz da lua batia diretamente no rosto de Lauren, pude ver que seu semblante estava estranhamente perturbado. Talvez estivesse tendo um pesadelo, portanto resolvi acordá-la. Não gostava de vê-la incomodada, mesmo quando dormia.

Sentei na beirada da cama e franzi o cenho, mantendo meu olhar no rosto dela. Toquei suavemente seu braço descoberto, tencionando acordá-la. Ela abriu os olhos imediatamente. Embora estivesse meio escuro ali, pude ver claramente que seus olhos estavam muito líquidos, como se lágrimas estivessem alojadas ali. A preocupação me abateu instantaneamente.

– Você estava chorando? – indaguei aos sussurros, pousando minha mão sobre a face dela.

– Eu... não – respondeu com a voz ainda mais baixa que a minha.

– Por que estava chorando? – tornei a perguntar, ignorando a resposta dela.

– Eu... eu... eu – começou ela, mas a voz dela parecia estar estrangulada.

– Você o que, Lauren? – estimulei, ficando ainda mais preocupada.

– Eu sinto tanta saudade da minha mãe – disse ela por fim, e nesse instante senti meu coração ser esmagado. Eu também sentia falta da minha mãe, mas eu sabia que a situação dela era infinitas vezes pior.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora