Durante a aula de matemática eu fiz tudo o que foi possível para me concentrar nos exercícios, só para não ter que ficar olhando para Lauren. Eu não a olhei, mas isso não impediu minha mente de se concentrar apenas nela. Por que aquilo estava acontecendo? Era tão difícil de entender, de suportar.
Voltei meu corpo para trás e coloquei meu caderno em um canto vago da mesa de Allyson. Ela parou de escrever, ergueu sua cabeça e estreitou seus olhos ao ver minha expressão. Talvez fosse de dor. Eu sei lá.
– Ally, eu não consigo resolver esse exercício aqui – informei a ela apontando para o terceiro exercício do caderno com a ponta da lapiseira.
Ela puxou meu caderno para mais perto, passou os olhos rapidamente pelo exercício e depois me olhou com desconfiança.
– Desde quando você não consegue resolver esse tipo de exercício? – questionou, ajeitando a armação de seus óculos.
– Vai me ajudar ou não? – perguntei num fio de voz.
– Claro. Assim que você me contar por que está com dificuldades para se concentrar – explicou ela. - É por causa da Lauren? – especulou.
– Com certeza.
– Mila, eu honestamente não consigo sequer imaginar o quão confuso deve ser descobrir que tem uma irmã, ela vir morar com você e ainda estudar na mesma sala – começou Allyson.
– É, você não faz nem ideia – assenti para ela.
– Não sei se é minha impressão, mas não me parece que esses sejam os únicos motivos do seu aborrecimento – pressupôs minha melhor amiga. Ela estava certa.
– Ah, não, Ally. São apenas essas coisas mesmo. É muito para se absorver de uma vez – menti numa voz quase chorosa. Eu não costumava mentir para ela, mas ainda era cedo demais para discutir coisas que nem eu mesma sabia explicar.
– Realmente, é muita coisa – consentiu ela, deixando minha mentira passar.
Depois disso, Ally começou a explicar o exercício, e era com certeza uma surpresa eu não ter conseguido resolvê-lo. Deveria ser toda aquela falta de concentração.
As demais aulas, de português e literatura, passaram muito rapidamente. As professoras, basicamente, falaram durante todo o período das aulas. Era muito bom conseguir um tempo para pensar sem a pressão de ter que escrever. Bastava apenas fingir estar prestando atenção.
Logo o sinal soou e as aulas daquele período se encerraram por ali. Era a hora do intervalo. Fiquei em pé e fechei meu caderno, e Ally fez o mesmo que eu. No segundo seguinte Lauren estava parada diante de mim, me dilacerando com o o verde claro permanentemente alojado em seus olhos.
Ela fez menção de se pronunciar, mas lancei a ela um olhar de repreensão. A garota pareceu ficar imensamente decepcionada, e então se retirou. Eu detestava fazê-la sofrer, mas eu simplesmente não aguentava todos aqueles sentimentos que se apossavam de mim quando ela estava perto.
Instantaneamente Allyson me olhou com desapontamento.
– Por que fez isso com a garota? – questionou, cruzando os braços.
– Eu não consigo ficar perto dela – admiti.
– Você sabe que ela não tem culpa disso, não é? E você nem irá dar uma chance a ela?
– Eu já disse que não consigo – reafirmei, me encolhendo.
– Vou ao banheiro. A gente se encontra lá fora.
E com isso Allyson se retirou da sala, tendo seu lugar assumido por Austin. Ele sorria para mim. Sem dizer uma palavra, envolvi meus braços ao redor de seu pescoço e o pressionei contra meu corpo. Eu só queria me afundar nele e fazer com que tudo aquilo fosse embora, fazer com que Lauren fosse embora.
Ele colocou seus braços em volta de minha cintura e correspondeu meu abraço com igual intensidade. Era tão bom ficar assim com ele. Entretanto, ele me soltou rápido demais.
Encaixou seus lábios nos meus e deu início a um beijo plácido, e não tardei em correspondê-lo. Logo entreabri um pouco mais meus lábios, dando passagem para sua língua, a qual suguei de forma intensa. Em resposta, Austin mordeu meu lábio inferior. E então o beijo se tornou mais ávido. Minha respiração já estava ofegante. Ele me apertava mais contra si e eu repuxava os grossos fios de cabelo da nuca do moreno.
Mas, de repente, uma sensação esmagadora me abateu. Aquilo parecia tão errado. Mas desde quando beijar o meu namorado era errado? Aquele sentimento era tão estranho, estranho o suficiente para quebrar o prazer daquele momento.
Finalizei o beijo de forma sutil e depois me afastei de Austin, exibindo um sorriso ensaiado para ele. O moreno retribuiu meu sorriso, pegou minha mão e foi me puxando para fora da sala.
Antes de nos juntarmos a Ally e aos nossos outros colegas, passamos na cantina e compramos sanduíches de frango. Sentei-me entre Allyson e Austin e comecei a comer em silêncio, apenas ouvindo a conversa animada do pessoal sobre redes sociais.
Aquela parte do colégio era completamente coberta e tomada por muitas mesas. Meus olhos começaram a vagar pelo âmbito, até que paralisaram em Lauren, que estava sentada a poucas mesas de distância de mim junto com Troy, Liam, Dinah e outras pessoas que eu não conhecia. Ela parecia estar muito confortável e bem incluída naquele grupo.
Mas o que chamou minha atenção foi a proximidade que havia entre ela e Liam. Ele, em especial, era todo olhares e sorrisos para Lauren. Entretanto, o que me incomodou mais do que aquilo foi quando Liam segurou a mão dela entre a sua, e ela sorriu timidamente. Logo em seguida, selou os lábios dela com os seus demoradamente.
Meu estômago se retorceu violentamente diante daquela simples cena. Tive que colocar o sanduíche no prato e parar de comê-lo, porque estava impossível. E mais impossível ainda era assistir àquela cena.
Avisei Allyson que eu já voltaria. Ela se ofereceu para me acompanhar até ao banheiro, mas recusei sua oferta categoricamente. Saí dali e fui em direção aos blocos, mas em vez de virar à direta para chegar ao banheiro, peguei a esquerda. Acabei me deparando com um corredor longo e escuro, não havia ninguém ali além de mim mesma.
Encostei-me na parede gélida e permiti que meu corpo fosse cedendo, até que encontrasse o chão. Ali permaneci sentada, encarando o teto escuro. Quando dei por mim, senti um líquido quente escorrer por minha face. Passei meus dedos sobre ele, e era impossível não concluir que se tratava de lágrimas. Eu chorava, e nem sabia explicar por quê.
Eram tantos motivos acumulados, e eu, honestamente, não fazia nem ideia do que eu precisava fazer para resolver aquilo. A única coisa que eu sabia melhor do que ninguém era que Lauren precisava urgentemente ir embora, antes que a situação se agravasse ainda mais. Eu podia sentir aquela garota se instalando em mim, em meus pensamentos, em minha vida. E quanto mais tempo se passasse, mais difícil seria tirá-la dali.
Algo precisava ser feito, eu só não sabia o quê.
Quando olhei para o lado, me deparei com uma silhueta em meio à penumbra. Era Ally. Ela se sentou silenciosamente ao meu lado, e ali permaneceu. Sem dizer uma palavra, encostei meu rosto em seu ombro e fiquei parada, fechando meus olhos com força.
Pouco tempo depois o sinal soou, e juntas caminhamos em direção à sala de aula.
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Uma Estranha Em Minha Vida
Romance[COMPLETA] Essa história não é sobre incesto. Dois meses depois de seus pais se divorciarem, Camila descobre que tem uma irmã chamada Lauren, e esta vem morar em sua casa. Mas como Camila irá reagir ao perceber que seus sentimentos por Lauren vão al...