6. Intervalo

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Durante a aula de matemática eu fiz tudo o que foi possível para me concentrar nos exercícios, só para não ter que ficar olhando para Lauren. Eu não a olhei, mas isso não impediu minha mente de se concentrar apenas nela. Por que aquilo estava acontecendo? Era tão difícil de entender, de suportar.

Voltei meu corpo para trás e coloquei meu caderno em um canto vago da mesa de Allyson. Ela parou de escrever, ergueu sua cabeça e estreitou seus olhos ao ver minha expressão. Talvez fosse de dor. Eu sei lá.

– Ally, eu não consigo resolver esse exercício aqui – informei a ela apontando para o terceiro exercício do caderno com a ponta da lapiseira.

Ela puxou meu caderno para mais perto, passou os olhos rapidamente pelo exercício e depois me olhou com desconfiança.

– Desde quando você não consegue resolver esse tipo de exercício? – questionou, ajeitando a armação de seus óculos.

– Vai me ajudar ou não? – perguntei num fio de voz.

– Claro. Assim que você me contar por que está com dificuldades para se concentrar – explicou ela. - É por causa da Lauren? – especulou.

– Com certeza.

– Mila, eu honestamente não consigo sequer imaginar o quão confuso deve ser descobrir que tem uma irmã, ela vir morar com você e ainda estudar na mesma sala – começou Allyson.

– É, você não faz nem ideia – assenti para ela.

– Não sei se é minha impressão, mas não me parece que esses sejam os únicos motivos do seu aborrecimento – pressupôs minha melhor amiga. Ela estava certa.

– Ah, não, Ally. São apenas essas coisas mesmo. É muito para se absorver de uma vez – menti numa voz quase chorosa. Eu não costumava mentir para ela, mas ainda era cedo demais para discutir coisas que nem eu mesma sabia explicar.

– Realmente, é muita coisa – consentiu ela, deixando minha mentira passar.

Depois disso, Ally começou a explicar o exercício, e era com certeza uma surpresa eu não ter conseguido resolvê-lo. Deveria ser toda aquela falta de concentração.

As demais aulas, de português e literatura, passaram muito rapidamente. As professoras, basicamente, falaram durante todo o período das aulas. Era muito bom conseguir um tempo para pensar sem a pressão de ter que escrever. Bastava apenas fingir estar prestando atenção.

Logo o sinal soou e as aulas daquele período se encerraram por ali. Era a hora do intervalo. Fiquei em pé e fechei meu caderno, e Ally fez o mesmo que eu. No segundo seguinte Lauren estava parada diante de mim, me dilacerando com o o verde claro permanentemente alojado em seus olhos.

Ela fez menção de se pronunciar, mas lancei a ela um olhar de repreensão. A garota pareceu ficar imensamente decepcionada, e então se retirou. Eu detestava fazê-la sofrer, mas eu simplesmente não aguentava todos aqueles sentimentos que se apossavam de mim quando ela estava perto.

Instantaneamente Allyson me olhou com desapontamento.

– Por que fez isso com a garota? – questionou, cruzando os braços.

– Eu não consigo ficar perto dela – admiti.

– Você sabe que ela não tem culpa disso, não é? E você nem irá dar uma chance a ela?

– Eu já disse que não consigo – reafirmei, me encolhendo.

– Vou ao banheiro. A gente se encontra lá fora.

E com isso Allyson se retirou da sala, tendo seu lugar assumido por Austin. Ele sorria para mim. Sem dizer uma palavra, envolvi meus braços ao redor de seu pescoço e o pressionei contra meu corpo. Eu só queria me afundar nele e fazer com que tudo aquilo fosse embora, fazer com que Lauren fosse embora.

Ele colocou seus braços em volta de minha cintura e correspondeu meu abraço com igual intensidade. Era tão bom ficar assim com ele. Entretanto, ele me soltou rápido demais.

Encaixou seus lábios nos meus e deu início a um beijo plácido, e não tardei em correspondê-lo. Logo entreabri um pouco mais meus lábios, dando passagem para sua língua, a qual suguei de forma intensa. Em resposta, Austin mordeu meu lábio inferior. E então o beijo se tornou mais ávido. Minha respiração já estava ofegante. Ele me apertava mais contra si e eu repuxava os grossos fios de cabelo da nuca do moreno.

Mas, de repente, uma sensação esmagadora me abateu. Aquilo parecia tão errado. Mas desde quando beijar o meu namorado era errado? Aquele sentimento era tão estranho, estranho o suficiente para quebrar o prazer daquele momento.

Finalizei o beijo de forma sutil e depois me afastei de Austin, exibindo um sorriso ensaiado para ele. O moreno retribuiu meu sorriso, pegou minha mão e foi me puxando para fora da sala.

Antes de nos juntarmos a Ally e aos nossos outros colegas, passamos na cantina e compramos sanduíches de frango. Sentei-me entre Allyson e Austin e comecei a comer em silêncio, apenas ouvindo a conversa animada do pessoal sobre redes sociais.

Aquela parte do colégio era completamente coberta e tomada por muitas mesas. Meus olhos começaram a vagar pelo âmbito, até que paralisaram em Lauren, que estava sentada a poucas mesas de distância de mim junto com Troy, Liam, Dinah e outras pessoas que eu não conhecia. Ela parecia estar muito confortável e bem incluída naquele grupo.

Mas o que chamou minha atenção foi a proximidade que havia entre ela e Liam. Ele, em especial, era todo olhares e sorrisos para Lauren. Entretanto, o que me incomodou mais do que aquilo foi quando Liam segurou a mão dela entre a sua, e ela sorriu timidamente. Logo em seguida, selou os lábios dela com os seus demoradamente.

Meu estômago se retorceu violentamente diante daquela simples cena. Tive que colocar o sanduíche no prato e parar de comê-lo, porque estava impossível. E mais impossível ainda era assistir àquela cena.

Avisei Allyson que eu já voltaria. Ela se ofereceu para me acompanhar até ao banheiro, mas recusei sua oferta categoricamente. Saí dali e fui em direção aos blocos, mas em vez de virar à direta para chegar ao banheiro, peguei a esquerda. Acabei me deparando com um corredor longo e escuro, não havia ninguém ali além de mim mesma.

Encostei-me na parede gélida e permiti que meu corpo fosse cedendo, até que encontrasse o chão. Ali permaneci sentada, encarando o teto escuro. Quando dei por mim, senti um líquido quente escorrer por minha face. Passei meus dedos sobre ele, e era impossível não concluir que se tratava de lágrimas. Eu chorava, e nem sabia explicar por quê.

Eram tantos motivos acumulados, e eu, honestamente, não fazia nem ideia do que eu precisava fazer para resolver aquilo. A única coisa que eu sabia melhor do que ninguém era que Lauren precisava urgentemente ir embora, antes que a situação se agravasse ainda mais. Eu podia sentir aquela garota se instalando em mim, em meus pensamentos, em minha vida. E quanto mais tempo se passasse, mais difícil seria tirá-la dali.

Algo precisava ser feito, eu só não sabia o quê.

Quando olhei para o lado, me deparei com uma silhueta em meio à penumbra. Era Ally. Ela se sentou silenciosamente ao meu lado, e ali permaneceu. Sem dizer uma palavra, encostei meu rosto em seu ombro e fiquei parada, fechando meus olhos com força.

Pouco tempo depois o sinal soou, e juntas caminhamos em direção à sala de aula.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora