7. Ecossistema

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As duas primeiras semanas de Lauren em minha casa foram muito complexas para o meu emocional. O quarto dela era logo ao lado do meu, e ela parecia estar muito bem acomodada, embora eu tivesse essa terrível sensação de que tudo estava errado para ela, tão errado quanto para mim. Talvez tivéssemos aquele sentimento em comum. Eu queria tanto saber mais sobre ela, saber como ela estava, saber quem ela era. Entretanto, permitir a mim mesma uma aproximação com a garota estava fora de questão. Embora fosse minha irmã, eu me sentia estranhamente eletrizada perto dela, de forma que era impossível de explicar. Eu queria saber o que aquilo significava, mas por outro lado tinha medo. Algo dentro de mim me dizia que aquele sentimento, uma vez decifrado, mudaria ainda mais o meu mundo. Eu estava cansada de mudanças.

Terminei de vestir o uniforme e desci para o primeiro andar a fim de tomar meu café da manhã. Na sala de jantar nada encontrei a não ser o esperado – meu pai muito bem humorado tagarelando com Lauren e ela acompanhando o ritmo dele.

Sentei-me em silêncio. Meu pai me cumprimentou e eu assenti. Ela nada disse, pois já estava mais do que claro que eu não falaria com ela. Uma fingia que a outra não estava presente, e assim as coisas se tornavam mais fáceis para o meu lado.

Depois do café meu pai nos levou para a escola, como nas últimas duas semanas. Aquilo sim era uma grande mudança, e eu sabia reconhecer que era para melhor. Pelo menos assim eu podia passar mais tempo com ele e conversar sobre qualquer coisa. Ele ainda tentava fazer eu e Lauren conversarmos entre nós dentro do carro, mas era desperdício de tempo. Até que ela demonstrava certo interesse em confraternizar comigo, mas eu não cooperava. Essa parte parecia chatear Alejandro, então eu ficava me perguntando quanto tempo ele demoraria para aparecer em meu quarto para discutir minha falta de colaboração. Talvez ele não tivesse feito isso ainda porque eu havia parado de tratá-la mal e acabara passando a assumir um posicionamento de mera indiferença – uma indiferença que eu não sentia, apenas fingia.

Ao descermos do carro, notei que Lauren veio caminhar ao meu lado. Ela parecia inquieta, portanto concluí que provavelmente queria ter uma conversa comigo. Sendo assim, preferi nem olhá-la, pois dificultaria qualquer espécie de diálogo entre nós. Sem contar que quando eu olhava dentro daqueles olhos claros o meu chão desaparecia e era muito difícil manter em pé todos os muros que eu erguera para mantê-la fora de mim. Mas ela já parecia estar lá dentro havia muito tempo.

Apressei o passo e logo me juntei a Allyson. Fomos direto para a sala de aula, uma vez que o sinal estava prestes a tocar. Sentei-me em minha carteira e logo a aula de geografia se iniciou. Eu gostava muito daquela aula porque a professora sempre passava para nós conhecimentos muito relevantes, diferentemente do outro professor que ficava com a outra parte da geografia, que acabava mandando todo mundo ler um capítulo do livro e depois resumi-lo. Eu estava mais do que certa de que os dias dele estavam contados naquela instituição.

A professora explicou que deveríamos nos reunir em grupos de três pessoas para fazermos uma maquete de um ecossistema devastado e poluído para ser mostrada na feira ambiental que haveria no colégio na semana seguinte. Sequer me virei para conversar com Allyson sobre isso, pois quando os trabalhos eram realizados em grupos de três pessoas, apenas eu e ela fazíamos juntas. Afinal, eu nem perdia tempo chamando Austin para se juntar a nós, uma vez que ele tinha os amigos dele.

Observei, pelo canto dos olhos, os alunos começarem a conversar entre si e formar grupos. Os que já estavam organizados pareciam discutir animadamente ideias para a montagem da maquete.

– Podemos fazer a maquete lá em casa. O que você acha? – propus, me virando de lado para poder conversar com Ally.

– Claro, pode ser – consentiu ela. Depois passou os olhos pela sala e voltou a me olhar com uma cara estranha. – A Lauren está sozinha. Vou chamá-la para fazer a maquete com a gente – informou, fazendo meu coração falhar em uma batida.

Uma Estranha Em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora