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Itália, Outubro de 1787

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Itália, Outubro de 1787

APÓS ESCOVAR OS LONGOS CABELOS escuros, Isabella beliscou as bochechas até ficarem rosadas, e desceu a escadaria de madeira, dois degraus de cada vez.

Na sala encontrou sua irmã, Teresa, brincando com Nina, uma gata angorá gorda e de pelos alvos. Isabella pegou sua irmã no colo e a girou como se fossem duas crianças. Os cachos negros da pequena sacolejaram com o rodopio.

— Ele está lhe esperando, Isabella — a mãe informou. — Aproveite os breves minutos em que seu pai está fora.

A Senhora Fontana era o que as pessoas daquela época chamavam de alcoviteira. Em um tempo onde não se casava por amor, e sim por conveniência, aquela mulher almejava um futuro diferente para ambas as filhas. Acreditava que o casamento — único futuro destinado a moças de família — seria muito mais próspero se o casal se amasse previamente. Ao contrário dela, que foi forçada a casar-se com um estranho, e nunca tinha encontrado a felicidade plena no matrimônio. Sentia respeito e afeto pelo marido, mas nunca esteve apaixonada por ele.

Com o coração acelerado, a jovem assentiu, colocou sua irmã no chão e correu para a varanda, onde um rapaz — por quem estava apaixonada — esperava para cortejá-la.

Stefan Bortolini era um bom homem. Jovem, bonito, mais alto que Isabella uma cabeça, pele clara, cabelos castanhos, olhos da cor de um céu nublado. Servia ao exército e temia a Deus. Um ótimo partido e estava disposto a pagar o dote que o pai da moça exigisse por sua mão.

A vendo deslumbrante ali na varanda, com um sorriso inspirador, ele se atreveu a tomar sua mão direita e beijar os nós de seus dedos. A garota suspirou, sentindo um formigando espalhar-se das mãos até os braços, passando pelos ombros e descendo pela espinha. Imaginou como seria estar casada com ele e construir uma família nova, longes das brigas dos seus pais.

Não via a hora de estar na sua própria casa, e ter um marido que a beijasse nos lábios ao chegar do trabalho.

Stefan era o noivo ideal. Gentil, jovem e amoroso. Ao contrário de suas amigas, Isabella temia casar-se com um homem mais velho. Não apreciava diferenças de idade. Para falar a verdade, ela pensava muito sobre seu futuro, preocupava-se com o fato de não ter as rédeas da própria vida. Odiaria que o pai a obrigasse a casar com um homem sem modos e repugnante.

Perdida em planos, enquanto ouvia Stefan contar-lhe sobre a casa que acabará de comprar, Isabella jamais poderia suspeitar que, longe dali, em algum bar de má fama, com cheiro fétido de álcool e envolto numa sufocante nuvem de fumaça de charutos, o pai decidia seu futuro.

O fato é que o Senhor Fontana era viciado em jogo. Um apostador nato.

Apesar de possuir um ótimo emprego no banco, já não existia mais dinheiro algum nas economias da família nem posses a serem vendidas. Precisara hipotecar até a casa em que moravam para pagar as dívidas que se acumularam. Mesmo assim, não fora o bastante para se livrar dos agiotas.

Azul... TRILOGIA IRRESISTÍVEISOnde histórias criam vida. Descubra agora