XVIII

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LINDA MENTIRA

ENQUANTO CAMINHAVAM PARA A CASA de seus pais, Isabella resolveu questioná-lo:

— John, há uma pergunta que venho pensando em fazer.

— Faça, Bells — John disse com gentileza.

Ela sentiu a respiração se acalmar, o marido parecia não ter percebido nada. Apertou com mais força a garrafinha de água benta escondida dentro da capa e murmurou as palavras.

— Por que não se importa que Rafael me chame de amor?

— Isso te incomoda? — John questionou.

— Isso me confunde! — Isabella proclamou exasperada. Os dois pararam de caminhar. — Você espancou Stefan e quase o matou só por me ver ao lado dele. Enquanto isso, seu amigo me chama de amor e você não move um dedo.

— Acha que Rafael está interessado em você? — ele perguntou, o que fez com que Isabella perdesse o controle.

— Pare de responder meu interrogatório com novas perguntas — ela se queixou. — É tão desagradável!

— É só uma palavra. Amor. — John deu de ombros. — Não é relevante.

— Isso não é a maneira adequada de tratar uma mulher casada.

— Acha mesmo que, se Rafael estivesse atraído por você, ele já não a teria tomado para si?

— Você deixaria? — Isabella perguntou chocada.

— Você não entende? — John a questionou atônito, prosseguindo sem esperar a resposta. — Até agora não conseguiu compreender? É a ele que devo os últimos séculos e a forma como vivi. Por isso, se ele quisesse mesmo você, eu não impediria.

Os olhos claros de Isabella piscaram algumas vezes. As palavras do marido a feriram.

— Me dividiria com ele?

— Rafael. Não. Está. Interessado. Em. Você — John pronunciou cada palavra lentamente, com firmeza, na esperança de que a moça pudesse assimilá-las. — Então, pare de se preocupar com o modo como ele a trata. Ele não foi educado para viver na sociedade em que você nasceu.

— Você diz que deve muito a ele, mas tenho certeza que teria sobrevivido sem sua "ajuda" — ela disse, fazendo aspas com os dedos.

— Rafael me deu uma coisa que eu não tive em muitos séculos — John murmurou com a voz mais calma, porém, tocante. — Ele me deu esperança quando não havia mais nada além da morte. E por todos aqueles que eu impedi de voltar para casa, por cada olhar que me deram antes de serem levados, pelos sorrisos perdidos, e por todos os fantasmas que nunca irão me deixar viver em paz... Se ele cair... eu caio.

— Ele já caiu, John — Isabella disse baixinho, comovida com as palavras e com a fé que ele depositava no anjo.

— Por que desconfia tanto de Rafael? Ele te ameaçou, disse algo?

— Ele fez você se deitar à força com aquela garota — ela sussurrou. Estava frio. — Por mais que seja comum maridos tomarem as noivas contra a vontade na noite de núpcias, Rafael te influenciou.

— Por mais que fosse comum, por mais que eu tivesse me casado com ela, o nome dado a isso é estupro. Ele me instigou a fazer, sim, mas fui eu quem fiz. É na minha mente que todos os gritos ecoam na hora de dormir, sou eu que relembro como ela lutou, eu sou a pessoa que agiu e que é perturbada pela lembrança. Se sou o único castigado, a culpa é exclusivamente minha. Eu me deitei com ela. Não preciso jogar a culpa dos meus atos em ninguém. Quero que pare de questionar Rafael.

Azul... TRILOGIA IRRESISTÍVEISOnde histórias criam vida. Descubra agora