VI

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JOHN TRAZIA UM VASILHAME EM uma das mãos contendo uma substância esverdeada e pastosa. Puxou o braço machucado de Isabella e aplicou uma camada da gosma sobre a pele queimada.

Ela continuava apavorada, temendo o pior. Queria ter sido mais ágil e conseguido esconder-se na floresta, entretanto, John sempre seria mais rápido.

— Vai sarar logo — ele disse quando acabou, com a voz gentil como se não tivesse sido ele o causador daqueles machucados. — Volte para casa, Bella. Aqui fora não é seguro para você. Quer que eu a leve de volta?

Ouvir John chamá-la de Bella fez seu corpo estremecer, por mais mórbido que isso parecesse. A substância aplicada em seu braço pareceu surtir rápido efeito, a dor estava diminuindo.

Ela o observava pelo canto do olho, sem visualizar o rosto do marido, apenas as roupas velhas. Queria estar preparada para um novo ataque. Nunca mais ficaria com a guarda baixa quando estivesse na companhia do esposo.

— Não precisa — Isabella conseguiu dizer sem encará-lo.

John montou no cavalo, que relinchou em protesto.

— Para seu próprio bem, volte para casa. E não ouse tentar fugir. Não queira me ver com raiva — ele a alertou e partiu na direção Oeste.

Isabella sentou-se na grama sem se preocupar em sujar o vestido. Sentia-se desolada. Se aquele que a queimara ainda não era um John com raiva, perguntou-se que tipos de atrocidades ele seria capaz de fazer quando estivesse furioso.

Estava perdida. Precisaria calcular cada passo que desse, cada palavra, para não o irritar novamente.

Então assim seria sua vida a partir de agora? Viver com medo?

Olhou para o céu repleto de nuvens carregadas, depois para a floresta que se estendia dos dois lados da estrada de terra batida. Repensou os avisos do marido sobre não fugir. E se existisse uma única saída? Se fosse capaz de se embrenhar na floresta, acompanhando o caminho da cidade, e chegar até Stefan?

Sabia que ele era um rapaz honrado, que cumpriria sua palavra. Partiriam para longe. Mesmo que não voltasse a ver sua família, estar segura era sua prioridade. Não era do seu feitio sair furtivamente de situações difíceis de lidar. Mas não restavam alternativas.

Não poderia se sujeitar a viver isolada do mundo com um homem que a machucava no primeiro dia de casados.

Tomou fôlego e segurou o vestido a fim de passar por baixo da cerca. Olhou para o céu nublado e sentiu esperança. Uma de suas preocupações, além de não ser vista por ninguém, era não congelar antes de chegar à cidade. Precisaria manter-se sempre em movimento rápido para deixar o corpo aquecido. Ficar doente era a última coisa que precisava.

Após alguns minutos de corrida, com o vestido erguido, mantendo-se oculta entre as árvores sem se distanciar da cerca e da estrada, seguindo na direção que tinham vindo na noite anterior, Isabella teve uma surpresa que fez todos os pelos do seu corpo se eriçarem.

Repentinamente, a floresta deu lugar a uma clareira, onde, à sua frente, estava o casebre de John Smith. Isabella engoliu em seco e refez em pensamentos todos os passos dados. Não deveria estar de volta à casa se tinha corrido na direção oposta. Não fizera curvas bruscas. Tinha absoluta certeza de que não estava andando em círculos.

Sendo assim, como poderia estar de volta? Esfregou as mãos contra os braços para se livrar dos calafrios que sentiu ao notar que o casebre parecia ainda mais assustador sob a luz, ainda que opaca, do dia.

Não havia tempo para ponderar sobre o que acabara de acontecer. Deu as costas para o lar de John Smith e começou a correr, obrigando pés e pulmões a suportarem o esforço. Voltou pela floresta, tomando cuidado de continuar em linha reta, não mais se preocupando em seguir a cerca ou a estrada.

Azul... TRILOGIA IRRESISTÍVEISOnde histórias criam vida. Descubra agora