Capítulo 23

56 3 0
                                    

- Vamos? - me viro quando escuto a voz do Kaleb.
- Vamos.
- Nós ficaremos em que casa?
- Na tua, porque na minha não tem nenhum quarto no andar de baixo, você é pesado demais pra eu subir com você, e quando precisar descer com você no colo, aí ter que ficar subindo e descendo com a cadeira de rodas, é cansativo, não só pra mim, mas pra você também, porque, confie em mim, eu vou acabar te derrubando, e você vai se machucar, e eu vou ser a culpada.
- Como vamos entrar na minha casa, sendo que meus pais viajaram?
- Meu bem, eles deixaram uma chave comigo.
- Hum.
- Dois. Vamos.
Dou as mochilas pra ele segurar, junto com o celular, e olho em volta. Reparo em uma coisa na maca, e me aproximo com a cadeira de rodas. Vejo que é o celular dele, o pego, e entrego a ele. Ando até a porta, a abro, e passo por ela. Vejo a enfermeira que beijou Kaleb nos encarando, e lanço meu olhar mortal a ela, que abaixa a cabeça e se distancia. Rio fraco, e abaixo o olhar ao MEU homem, que está rindo.
- Para de rir.
- Ok. - fala tentando se conter.
Empurro a cadeira de rodas até a saída do hospital, e, assim que pisamos pra fora do hospital, Kaleb solta um suspiro de alívio. Empurro a cadeira, enquanto pego na mão gélida dele, e vou até onde tem um táxi estacionado. Bato na janela que está fechada, e ele a abre.
- Boa tarde, você está esperando alguém?
- Boa tarde! Não...
- Você pode nos levar pra casa?
- Como? Você não deve pedir, eu tenho a obrigação de levá-los. Quer que eu lhe ajude a colocar o jovem dentro do carro?
- Sim, por favor.
Ele desce, e anda até nós. Põe Kaleb para dentro, e dobra a cadeira de rodas, enquanto eu entro. Ele a coloca no banco de trás, e entra no lado do motorista, ligando o carro rapidamente. Dou o endereço, e encosto a cabeça no vidro.
Quando percebo, já estamos na frente da casa do Kaleb, e o motorista já o colocou na cadeira de rodas. Solto o cinto, desço, pego a chave da porta da frente, e pago ao homem, que entra no carro e acelera. Empurro a cadeira com Kaleb em cima, destranco a porta, e entro na casa, que tem um cheiro fraco de rosas.
- Estamos em casa! Aleluia! - ele fala comemorando.
- Nossa... - rio - você estava com tanta saudade assim de casa?
Ele assente sorrindo, deixa o celular no sofá, e se direciona pro quarto. Deixo as mochilas em cima de uma mesinha, e me sento no sofá. Pego o celular do Kaleb, e o desbloqueio. Entro na caixa de mensagens, e reparo em uma, que foi recebida por um contato chamado "Juli ❤". Entro naquela, e vejo uma mensagem que diz "Oi, Kaleb, que tal você deixar essa sem sal da tua namorada, e sair comigo? Estou te esperando em casa pra irmos em um lugar que você queira ir. Sei que você quer ir, vamos lá."
Sinto meus nervos a flor da pele, e a raiva me consumindo. Me levanto, e vou até o quarto do Kaleb. Abro a porta com força, e o encontro na cama, lendo um livro.
- MAS QUE MERDA É ESSA, KALEB?
- Para de gritar! O que foi?
- O QUE É ISSO? - taco o celular nele.
Ele lê, e me olha.
- Eu...
- Olha, me esquece, só isso, ok?
- Clarie...
- CALA A BOCA, EU NÃO QUERO ESSAS SUAS EXPLICAÇÕES SEM NEXO ALGUM!
- ME DEIXA EXPLICAR!
- NÃO.
- CARAMBA, CLARIE! EU NUNCA FALEI COM ESSA GAROTA!
- MENTIRA! ISSO É MENTIRA!
- PARA! PARA, CLARIE!
- PARA VOCÊ!
- Por favor, acredita em mim...
- Só... só me esquece, me deixa em paz, você só me machuca!
Consigo ver lágrimas nos olhos dele. Eu acredito nele, só não consigo aceitar. Me aproximo dele, deixo-lhe um beijo na bochecha, e dou as costas, sentindo as lágrimas encharcarem-me o rosto.
- CLARIE!
- Oi?
- Eu te amo.
- Eu também. - sussurro, e saio.
Pego minha mochila no sofá, e saio da casa. Quando estou bem longe, os soluços saem, junto com as gotas grossas.

A força do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora