Capítulo 21

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- Ninguém. Vai limpar essa boca e dormir.
- Você vai dormir comigo?
- Não.
Olho pra ele, que faz cara de choro.
- Para. Vai logo. E eu não vou dormir contigo.
- Não vou, enquanto não disser que vai dormir comigo.
- Ok. Então fique aí até amanhã esperando.
- Se for preciso, eu fico.
Dou de ombros, enquanto fuço na mochila, a procura de algum pijama que esteja limpo. Por fim, visto um short amarelo, regata e um moletom do Kaleb, que pega no meio das coxas.
- Hum...
- Não diga mais nada, só vá a merda.
- Nossa. Dá pra só me ajudar a ir pra maca?
- Tá.
Empurro a cadeira de rodas até perto da maca, e o ajudo a levantar, passando-o pra maca. Pego uma coberta, e um travesseiro, ajeito o sofá. Apago a luz, e me deito, sem ao menos dizer boa noite ao Kaleb.
- Boa noite pra você também.
- Cala a boca e dorme.
- Ô, para de falar assim comigo.
- Falo do jeito que eu quiser, e se não quiser dormir, me deixa, porque eu estou com sono.
Ele fica em silêncio. Dou as costas pra ele, e fecho os olhos lentamente, sentindo o sono me levar.

[...]

Acordo com o barulho de algo batendo. Abro os olhos rapidamente, e olho na direção do barulho. Vejo Kaleb balbuciando algo, e com a mão pra fora da maca, perto da mesinha que tem ao lado. Me viro novamente, e pego meu celular. Olho o horário. Quase 3 da madrugada. Caramba, por que o Kaleb não bateu seja lá o que foi mais tarde, melhor dizendo, quase 6 ou 7 da manhã? Guardo o aparelho, e fito o sofá até sentir as pálpebras pesarem.
- CARAMBA! O QUE ACONTECEU COM MINHA MÃO? ELA TÁ MAIS INCHADA QUE UMA GRÁVIDA. E ROXA. MUITO ROXA. CLARIE! - escuto Kaleb gritando.
- Para de gritar. - sinto minha cabeça latejar de dor.
- Pô, o que aconteceu com a minha mão?
Abro os olhos, e olho pra ele, que olha pra mão, que está inchada.
- Você sabe o quê aconteceu com ela?
- Você bateu de madrugada. E fala baixo.
Levanto do sofá, e vou até a mochila. A abro, e tiro uma garrafinha térmica com água, e uma caixinha de Dorflex. Pego um comprimido, guardo a caixinha, e tomo o comprimido com água. Guardo a garrafinha, e me viro. Vou até a mochila, e abro. Pego uma regata preta, short jeans, meias e tênis, e vou até o banheiro. Tranco a porta, e deixo tudo em um banquinho. Abaixo o short e a calcinha até os joelhos, levanto a tampa do vaso sanitário, e me sento. Faço xixi, limpo com papel higiênico, e me levanto. Subo apenas a calcinha, e tiro o short. Dobro ele, e deixo em uma bancada. Dou descarga no vaso, e lavo minhas mãos. Tiro o moletom, e a camiseta, e visto a outra roupa. Calço os tênis, e saio do banheiro. Guardo o pijama na mochila e olhos pra maca. O Kaleb está assistindo televisão. Quer dizer, tentando assistir, pois o sono está o consumindo. Me aproximo.
- Eu vou dar uma volta. Dorme, já volto. Eu te amo. - dou um beijo na bochecha dele, que apenas assente, vira o rosto, e adormece.
Saio do quarto sem fazer muito barulho, e ando pelos corredores do hospital, até dar de cara com o médico responsável pelo Kaleb.
- Clarie?
- Oi, doutor Antonio...
- Queria mesmo falar com você. Podemos conversar agora que estou livre? Queria deixar pra depois, pra falar pro Kaleb também, mas vou falar pra você, já que nos encontramos.
- Ah... pode ser.
- Vamos até ali. - aponta pra lanchonete.
Vou até lá com ele, e me sento em uma cadeira, com ele a minha frente.
- Pode falar.
- Vi o raio-x do Kaleb, e não teve nada nas costelas. Foi apenas o baque, que deu a ele a dor. E... hoje a noite ele recebe alta, peço que não conte a ele agora.
- Oh, que bom. Não contarei, obrigada por avisar-me.
- É minha obrigação. Agora tenho que ir.
Assinto pra ele, que levanta, sorri, e sai. Fico mais algum tempo sentada observando o vai e vem das pessoas, e volto ao quarto. Kaleb está metade acordado, metade dormindo. E olhando fixamente pra janela. E fica lindo sonolento. Sento na maca ao lado dele, e o envolvo em um abraço confortável.

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