Capítulo 24 - Especial

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Já é a segunda vez que ela faz isso. Ela nunca me dá tempo pra explicar. Caramba, eu não conversei com a Julya. Ela vive fazendo isso, mandando mensagens pra mim, com todo aquele fogo.
Eu não consigo mais, não assim. Não tendo que chorar pela menina que sempre me deixa sem que eu me explique. Isso me cansa. E muito.
Pois é, agora estou na minha cama, soltando soluços de dor, e sentindo meu rosto com vinte camadas de lágrimas.

[...]

Escuto barulho de motor de carro, mas continuo a soluçar alto. Ponho o travesseiro na cabeça, tentando amenizar o barulho do choro, mas parece que só piora.
- Filho? O que aconteceu, meu bem?
- Mãe... - ela envolve os braços em mim, me levando a um abraço quente e confortante.
- Calma, e me explica. O quê aconteceu?
- A Clarie... a gente brigou, mãe. A Julya causou isso.
- Tinha que ser... olha pra mim. - ela ergue meu rosto - Sei que dói, sei que machuca, mas se você não deixar ela pôr a cabeça em ordem sem ficar chorando, vai demorar mais ainda pra essa fase passar. Sei que você a ama, que está falando a verdade, e quero que saiba que ela acredita em você, só não conseguiu aceitar isso. Espere a poeira baixar, meu bem. Deixa o tempo resolver isso, ok?
- Ok... - soluço.
Minha mãe me aperta mais, e eu despejo minha tristeza na jaqueta de couro preta dela, até sentir meu corpo ficar leve, e minha cabeça se desligar do mundo, e, naqueles braços quentes, durmo. Sinto meu corpo se movimentar, e reconheço estar sendo deitado quando minha cabeça fica apoiada no travesseiro.

Abro os olhos rapidamente, e olho para o lado, imaginando que tudo aquilo fosse um sonho, e que estou abraçado na Clarie. Na minha Clarie. Mas, não. Estou abraçado em um travesseiro. Meus olhos ardem, a garganta dói, a cabeça dói, o corpo dói, tudo dói. Apoio-me nos braços, e me sento, mas paro no meio do caminho por conta da dor no corpo.
- Mãe! MÃE! - a garganta dói mais ainda.
- Oi? O quê aconteceu? - minha mãe para na porta envolvida em uma toalha, e os cabelos enrolados em outra.
- Dói.
- Onde?
- Tudo.
- Tudo mais precisamente onde?
- Olhos, cabeça, garganta, corpo, tudo.
- Deixa eu ver isso. Deita.
- Não, eu quero sentar.
- Deita, Kaleb. - a voz dela sai firme.
Me deito, e fito o teto. Ela para ao meu lado, e põe a mão na minha testa, que logo sai em um pulo.
- Você está pelando. Vou te dar remédio, e você vai ficar aí.
- Ah não, mãe.
- Ah sim, Kaleb.
- Mãe!
- Kaleb!
Bufo, e cruzo os braços na altura do peito. Aguardo minha mãe relembrando alguns momentos com a  Clarie.
- Filho. KALEB!
- Quê?
- Deixa eu pôr o termômetro. - fala, colocando o copo e um comprimido na mesinha, e enfiando o termômetro embaixo do meu braço.
Logo apita, e ela o puxa.
- 39,1. Ok, você está com mais febre do que eu havia imaginado.
- Mãe, eu tô bem.
- Não, você não está. Toma esse remédio.
A encaro, e pego o comprimido e o copo com água que ela me oferece. Tomo o comprimido com água, e devolvo a ela, me deitando novamente.
- Descansa mais um pouco, se daqui um tempo essa dor, e a sensação de estar com febre não passar, me chama.
- Tá.
- Eu amo você.
- Também te amo, mãe. Agora para disso.
- Ok. Qualquer coisa me grita. - me beija a testa.
Assinto, e ela sai. Fecho meus olhos, e, quando estou prestes a dormir, a porta é aberta, me despertando. Abro os olhos novamente, e vejo que é meu pai.
- Como você está?
Chacoalho os ombros, sem conseguir assimilar o que ele perguntou-me, por conta do sono.
Ele senta ao meu lado na cama, e sorri, tentando me passar confiança, e deixar-me feliz. Mas, realmente, nada é capaz de me deixar assim.
- Fiquei sabendo o que aconteceu, e, Kaleb, deixa o tempo passar, não fica chorando, mostra que pode ser forte, e que aguenta esperar o tempo certo da Clarie.
- Mas, pai, isso me dói, como se tivesse levado um tiro no peito.
- Eu sei o que você tá passando, eu e sua mãe já passamos por isso, e deixamos com que o tempo passasse. Olha onde estamos.
Assinto, já sentindo as lágrimas vindo.
- Não chora, vai. Logo vocês vão estar bem.
- Tá.
- Vou deixar você dormir. - e sai, me deixando sozinho no quarto.
Nem um dia sem ela, e já sinto falta. Como será que ela está? Será que se alimentou? Tomou banho? Está dormindo? E, assim, pensando, durmo.

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