Capítulo 17

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- Então, Lotte... o que os professores têm passado?
- Ah... a professora de gramática está grávida.
- Oi? A Lauren?
- Sim.
- Nossa... ela que não queria ter filhos.
- Aham... ela pegou licença já faz uma semana, e não temos essa aula. A de literatura viajou. As únicas matérias que estão firmes é cálculo, física, química, filosofia e inglês. Ah, e o professor Caio, de filosofia, pediu demissão. Ele vai ficar até semana que vem, depois vai entrar uma tal de Carla.
- Hum...
Ela tira 5 cadernos da bolsa, e me entrega. Os deixo em minhas pernas, e escuto limparem a garganta. Levanto o olhar, e o homem que havíamos dado nossos pedidos está com os sorvetes. Pego o meu, Charlotte o dela, e ele se vira sem dizer nada. Apenas dou de ombros, e deixo uma pontinha do sorvete entre os lábios. Tomo o sorvete demoradamente, e, quando termino, me levanto, sendo seguida pela Charlotte. Pego os cadernos, e me despeço dela, que vai ficar aguardando o táxi por aqui. Vou até o hospital prestando atenção em tudo que há nas ruas. Fazia um tempo que não saía de casa, pra dar uma volta, ver como a cidade está, se continua a mesma de antes do acidente e da minha descoberta do câncer, que foi quando passei a ficar trancada em casa, sem ir para o colégio, fazer compras, ir em festas, e fazer tudo que fazia antigamente. Quando saio dos pensamentos, percebo que estou na frente do hospital. Passo pela porta, e aqueles barulhos de ambulância, ruídos de choro, as macas passando rapidamente. Me direciono ao quarto em que Kaleb está, e entro. Deixo os cadernos em uma mesinha, e sento na poltrona que há perto da janela. Encosto a cabeça no vidro, e fecho os olhos.

[...]

Escuto algo batendo na janela com força, e abro os olhos. Viro o rosto ainda meio grogue por conta do sono, e vejo que são gotas de água. Olho pras nuvens carregadas que agora ficaram laranjas no céu escuro sem estrelas. Olho na direção da maca, e o Kaleb ainda não acordou. Levanto, e aproximo-me dele. O toco lentamente, e abaixo meu rosto pra ficar mais perto dele.
- Kaleb...
Aperto os olhos, e sinto ele se mexer. Passo a segurar a mão dele, e a aperto com toda minha força.
- Ai... - a voz dele sai baixa e fraca.
Abro os olhos, e encaro Kaleb, que faz esforço pra manter os olhos abertos.
- Meu amor... até que enfim.
- Minha cabeça... - a expressão dele é de dor - dói.
- Vai doer por um tempo... você a bateu na sala de exames.
- Ah...
- Você se lembra de algo?
- Lembro de um homem vestido de enfermeiro se aproximando de mim, me pegando nos braços, e depois me jogou. Não lembro de mais nada que aconteceu após isso, além de você cantando pra mim.
Não digo nada, apenas me aproximo e o abraço sem por muita força.
- Ai.
- O quê foi?
- Dói.
- Onde?
Ele aponta para as costelas. Dou algumas apertadas leves, e ele solta um grito.

A força do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora