Capítulo 32

55 4 0
                                    

Depois de ouvir tudo aquilo, vim pro quintal. Não sei realmente o quê se passa em minha cabeça, nem se o quê estou sentindo é nojo, raiva, mágoa. Não vou chorar, porque já chega disso. Mas... eu quero chorar, porque alivia um pouco a dor. Então... só que tanto faz, chorar ou não, não vai mudar o que acabou de acontecer.
Paro em baixo de uma palmeira, perto da pequena mesa redonda, apoio o cotovelo no vidro e a cabeça na mão. Fecho meus olhos, e volto no ano que posso dizer que foi o pior da minha vida e que não desejo isso a ninguém.
"- Vai logo, Kaleb! Sua avó Antonia está te esperando no carro!
- Eu já estou indo, mãe!
Dou o último nó no cadarço do tênis, pego meu celular e saio pela porta da frente. Minha mãe está conversando com a dela, enquanto eu me aproximava. Paro ao seu lado, e ela se vira.
- Qualquer coisa você me liga, Kaleb. Toma cuidado, e obedeça.
- Mãe, eu tenho quase dezesseis anos.
- Eu sei. Agora vai.
Ela me beija na testa, e eu entro no banco da frente. Minha avó acelera, liga o rádio, e nós vamos conversando e cantando, até eu sentir um baque, que me faz apagar.
Acordo sentindo minha cabeça estar prestes a explodir, e meu corpo, da cintura pra cima, doer. Abro meus olhos e olhei a minha volta. Estou em um quarto completamente branco. Minha mãe está deitada no sofá dormindo, e eu estou vestindo uma camisola verde.
- Mãe... - minha voz sai baixa.
Minha mãe abre os olhos e vira o rosto ainda sonolenta. Quando me vê, ela dá um pulo e corre até mim.
- Kaleb! Que saudade que estava de você!
- Mas, mãe, eu saí ontem com a vó...
- Meu amor... isso aconteceu há mais de quatro meses.
- Como assim? - a olho confuso.
- Kaleb, vocês sofreram um acidente. Sua avó morreu na hora, e você ficou em coma.
- Mãe... isso é verdade mesmo?
- Sim, filho. E daqui a pouco seu pai e o médico responsável por você virão aqui para darmos uma notícia não tão boa...
Assinto e encosto a cabeça no travesseiro novamente, olhando para o teto branco. Logo, escuto a porta se abrir, e me sento desajeitado. Meu pai e um senhor passam por ela, e param ao meu lado.
- Olhem só quem acordou!
- Tá, fui eu. Agora me conta o quê tem pra contar.
- Tudo bem. Posso, pais?
- Sim. - olho nos olhos da minha mãe, que lacrimejam.
- Kaleb, você não pode se desesperar, senão pode fazer mal a si mesmo.
- Ok, conta logo!
- Você teve uma lesão na coluna, o quê fez com que ficasse paraplégico.
- Hã? Como assim? Mãe, não pode!
- Mas aconteceu, meu filho...
- Mãe... - solto soluços."
Sou tirado do transe com a voz da Clarie chamando por mim.
- Kaleb, responde!
Ergo o olhar, e a encaro.
- O quê você quer? Volta lá com o Kaique, entra no melhor abraço que existe, Clarie!
- Amor da minha vida, aquilo nunca aconteceu!
- Então por quê vocês falaram?
- Pra deixar você com ciúmes.
A fuzilo com os olhos, e ela gargalha.
- Tá rindo do quê, Clarie?!
- Da sua cara!
- Nossa, muito engraçado. Não tá vendo o quanto estou rindo? Ha ha ha!
- Nossa, grosso!
- Sou mesmo!
- Tá, tá. Foi mal. Agora me dá um beijo senão eu fico de mal.
- Criança. Só dou porque sou legal.
- Agora não quero mais.
- Ah, por quê?
- Porque sou difícil.
- Sei. Vem cá.
Ela se senta nas minhas pernas, e eu a puxo, colando nossos lábios. Ela mexe em meu cabelo, enquanto nossas línguas batem uma na outra. Clarie para o beijo, e encosta a testa na minha.
- Eu te amo.
Olho no fundo de seus olhos negros, e seguro suas mãos.
- Eu te amo.
Sorrimos juntos, e ela repousa a cabeça em meu ombro.
- Vou voltar pro colégio semana que vem.
- Que bom, Clarie. Eu vou tentar voltar a estudar também.
- É bom mesmo. Você fica muito em casa.
- É. E porque assim vou ocupar minha cabeça com outras coisas enquanto você não está por perto.
- Mas vê se não ocupa beijando outras.
- Deixa comigo.
- Bom... vamos entrar?
- Vamos.
Ela se levanta, e nós vamos pra dentro.

A força do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora