Então aqui estou eu, finalmente. Começou afinal tudo que eu havia sonhado desde pequeno. A viagem já tinha de fato começado e eu podia ver a alguns metros atrás o porto de Sadonto , maldito lugar. Que bom que já estávamos distanciando-se dele.
"Estávamos" , plural, quase tinha me esquecido.
A garota estava ali ... qual é o nome dela mesmo ? Acho que não importa desde que os guardas de Felitia a vejam quando chegarmos, está tudo bem pra mim. Ou talvez não esteja. Ela está cabisbaixa? Será que está com dor? Era só o que me faltava, uma companheira doente.
- Hey... Ta tudo bem aí?
Ela levantou a cabeça bem lentamente, como quem diz: "me deixa em paz moleque chato.".
- Acho que estou sim - murmurou.
Queria acreditar nela, mas dava pra ver na cara que era mentira. Vou encher o saco dela até ela me falar o que é.
-Acha? - indaguei com uma sobrancelha levantada. Todo mundo me dizia que aquilo irritava as pessoas, mas eu fazia do mesmo jeito. - Não posso sair navegando com uma pessoa que "acha".
- Eu estou bem sim, ta legal? Só to me sentindo meio culpada - respondeu ela, deixando a frase no ar.
Meio culpada? Essa garota deve ser louca. Melhor jogar ela na água, e arranjar um espantalho pra ser meu companheiro. Tomara que os guardas de Felitia não notem a diferença.
-Do que? - realmente estava curioso, mas minha voz soou como indignação.
- Não sei ao certo... Não acha errado deixar eles pra trás? - ela perguntou olhando para trás fazendo com que seus cabelos ondulados caíssem no seu ombro.
Deixar eles para trás? Não fazia muito sentido, eles estão lá porque querem. Se não quisessem, estariam em um barco indo para Felitia também.
- Quer voltar por acaso? - perguntei em tom de raiva
- Uma parte de mim sim, eu acho. - mumurrou ela, tocando na água com os dedos.
Coloquei a mão no rosto escondendo a boca. "Que diabos?" eu pensava. "Porque querer voltar agora depois de todo esse trabalho que tivemos para zarpar?"
Decidi puxar assunto, assim pelo menos ela esquecia essa idéia burra de voltar.
-Então a gente nem se conhece direito não é? - eu falei bem baixinho, temendo ser ruim em puxar assunto.
-Do que você esta falando a gente se vê desde os sete anos - ela falou com impaciência.
É eu sou ruim mesmo eu puxar assunto.
- Sim eu sei, mas... - eu parei no meio da frase como se perdesse as palavras na brisa que o mar soprava atrás de mim.
- "Mas...?" - ela continuava mexendo na água com os dedos.
- Todas as vezes que nos vimos, ou estávamos com fome, ou sujos, ou sem vontade de falar - o que era verdade, por mais que eu não gostasse - só nos cumprimentávamos e despedíamos, na maioria das vezes.
- E mesmo assim tínhamos uma relação mais saudável que muita gente que conheço. - ela falou sorrindo.
Nos olhamos, e rimos.
-Tem razão. - afirmei voltando a uma voz calma - mas por isso nem sei seu nome.
- Pode me chamar de Bia, já disse - ela falou como se já tivesse falado isso a mim 500 vezes, o que não era verdade.
- Okay então, Bia - falei em tom de deboche - Posso saber ser sobrenome?
- Por que é importante? - ela voltou os olhos pra mim.
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A Ilha da Felicidade : O Pacto
FantasyE se eu te dissesse que do outro lado do oceano tem uma ilha onde todo mundo é feliz? Lazaro e Beatrice são dois adolescentes que decidem abandonar sua cidade natal em uma viagem de barco sozinhos em busca de uma terra prometida . Uma ilha onde todo...