Dia 17 - Beatrice

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Porque eu não saio da chuva?

A pergunta tinha me assombrado ontem a noite, mas eu ainda tentava achar a resposta em algum lugar da minha mente.
Meu café da manhã já não tinha sabor, e pela primeira vez na viagem me senti mareada.

- Que foi Bia? Você parece abatida.

- Pra onde estamos indo mesmo?

- Para a pessoa que o prisioneiro mais ama no mundo. Quem sabe seja outro criminoso.

- Ele tem nome! É Frido!

- Pega leve com o Kras, Beatrice. Ele é meio babaca com essas questões.

- Que tipos de questões Hodie? - Kras tamborilava nervoso na mesa de madeira maciça.

- Com os sentimentos dos humanos com outros, você não sabe o que é a amizade,amor,afeição, rancor,ódio.

- Do que importa? Pode ser que amanhã esses sentimentos por ele nem existam mais.

- Nossa.... - deixei escapar.- E quando chegarmos lá? O que acontece?

- Não sei ao certo, talvez executar, prender os que não tem ficha.

Era exatamente o que Frido havia dito, será que... ele já tinha passado por algo assim?

-E o prisioneiro?

- Bem, ele tem livre arbítrio. Ser usado como bússola até seus comparsas é um vergonha até para os mais terríveis dos criminosos. Ele teoricamente está livre depois de chegarmos lá.

- Se ele está livre, por que manter ele dentro de uma maldita cela?

- É um bom ponto. - Hodie balançava o bacon no seu garfo.

- Tirem frido da cela então,  não vamos fazer Beatrice ficar chateada conosco, vamos? - Semper apareceu de súbito na cozinha , ela andava descontraída e sua voz era apenas infantil , sem nenhum tipo de autoridade, mas mesmo assim Hodie e Kras ficaram paralisados e responderam um "Afirmativo" em uníssono. Ainda estou tentando entender porque essa pequena garota ruiva era tão imponente para eles.

...

- Como você conseguiu com que eles aceitassem isso? Pegou o de cabelo grande foi?

- Muito engraçado Frido, mas não. Eu usei uma coisa chamada conversar, coisa que você não sabe o que é pelo jeito.

Os grilhões cairam no chão de madeira envelhecida quando eu girei a chave.

- E o que me impede de fugir?

Parei de me mexer, apenas para encara-lo bem no fundo dos seus olhos.

- Eu.

Cultivava uma certa raiva dele, mas não sabia muito bem porque. De repente me deu uma saudade do Lazaro...

- Você não é tão forte assim Bia.

- Sinceramente,  eu acho que sou sim.

-Sempre te achei o tipo "convencida".- e sorriu.

- Hmm, legal.

As pernas dele agoram estavam livres.

- Descobriu a resposta?

- Pra falar a verdade, ainda não.

Aquela vêm sendo a charada mais desafiadora da minha vida, o mais estranho é que no fundo você sabe que é uma resposta óbvia,  mas ela não aparece. Ela parece não existir até que aconteça com você.

- Sabe, acho que nem você sabe Frido.

Ele riu, segurou nas barras de metal da cela, agora ele estava mais livre ali dentro. Liberdade para alguem dentro de uma cela, contraditório.

A Ilha da Felicidade : O PactoOnde histórias criam vida. Descubra agora