A Ilha da Felicidade : O Pacto

Dia 11 - Beatrice

Ontem foi de longe o dia mais assustador da minha vida.

Tanta coisa aconteceu ao mesmo tempo que até agora não consigui absorver tudo, não sei se por frescura ou por simples má vontade de absorver.

Mas hoje as coisas vão se encaminhar, Frido pode chegar a qualquer momento para nos ajudar. E eu sei que ele faz parte da frota do Adamantium e que aqueles caras nos prenderam e quase nos mataram mas algo me diz que vai ficar tudo bem quando ele chegar, que Frido é que está no controle.
Ou não também, sempre me disseram que sou ingenua demais.

Um barulho me acordou de súbito, um tipo de movimentação muito rápida para ser pacífica.
Abri os olhos e vi Lazaro montado sobre Marcelo, uma faca sobre sua garganta e um sanduiche no chão.
Marcelo estava com as mãos levantadas em rendição, mas Lazaro pressionava a faca em seu pescoço como se ele estivesse lutando para sair do lugar.

- Calma aí Lazaro, estamos bem? - Marcelo, não parecia assustado como se já estivesse esperando por aquela situação.

- É claro que não seu verme! - baforou Lazaro. - Vocês acham mesmo que podem nos trair e voltar com os braços abertos achando que está tudo bem?!

Marcelo não mudou de expressão nem um segundo, mas eu tinha visto a habilidade de Lazaro com aquela faca, mesmo machucado ele foi incrível. Eu teria medo por ele.

- Na verdade, não.Não acho . - a faca foi pressionada sobre seu pescoço. - Mas isso pode ser resolvido não pode? - completou rápido e cauteloso.

Uma porta se abriu, e Thomas tinha saído do banheiro. Ao ver a cena sua expressão foi igual a de Marcelo, fria e sem preocupação. Eu deveria ser a única apavorada ali.

-Como é Lazaro? Vamos fazer isso do jeito fácil. Você está machucado - a voz grave e forte de Thomas tomou a situação sob controle.

Lazaro parou de pressionar a faca, e a guardou em um movimento rápido da mão mas ainda continuava montado em Marcelo pronto para voltar a mesma posição se fosse necessário.

- Vocês tem até o 12:00, se não me convencerem que são meus amigos, O lourinho morre. - Mesmo ferido e irritado, Lazaro ainda conseguia inspirar liderança, senti um pouco de raiva, talvez inveja.

Marcelo bufou,Thomas assentiu, confiante.

-Querem saber nossa história então?

Thomas me olhou, e eu percebi que não tinha falado uma palavra ainda, aquilo não era do meu fetio, mas aquela situação estava estranha e eu não queria que alguma bobagem que eu dissese piorasse as coisas. Simplesmente assenti para Thomas, e ele sentou no balcão, pigarreou e tamborilhou os dedos. Lá se vinha um desabafo.

- Eu e Mac , moravámos em Felitia. Na verdade, nascemos lá. - e meu coração gelou, nunca tinha conseguido ninguém de Felitia, mas tinha uma lenda que dizia que as pessoas que nasciam lá eram especiais, que sempre possuiam algo sobre-humano, como ter nascido lá fosse uma benção. De repente a mira absurda de perfeita deles fazia sentido, mesmo a resposta sendo um pouco lúdica demais. - Crescemos juntos, nossas famílias eram grandes amigas. Foi quando tinhamos 12 anos que começaram a aparecer nossas ....habilidades. - pelo canto do olho vi Marcelo sorrir, mas mantinha toda a atenção em Thomas. - Chegavamos em casa com 10,15 passarinhos, todos mortos pelos nossos estilingues, minha mãe os fritava para gente. Foi uma época muito boa. - Por um instante Thomas ficou letargico, relembrando o passado como um filme rápido diante dos seus olhos.

- E daí? - Lazaro o tirou do transe, a voz já não tão irritada como antes.

- E daí, que quando a mãe de Mac descobriu nossa habilidade com o estilingue , ela nos colocou em uma escola de tiro. Um ou dois meses depois, estavam no nosso primeiro campeonato, e vencemos. Bem, eu venci - e sorriu.