Dia 14 - Lazaro e Semper

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A frase que eu já tinha ensaiado tantas vezes agora estava pronta para ser usada.
Não consiguia parar de tamborilar os dedos naquela maca branca, meus olhos passeavam pelas paredes brancas,mexia as pernas com a pele tão branca, tão pálida.
De fato a única coisa que não estava branca naquela sala era minha mente.
Os passos da enfermeira ecoaram no corredor vazio, o som melancólico tinha distorcido a ordem cronológica do tempo, os sons iam e voltavam na minha mente me deixando louco.
Cada ideia brincava de pegar dentro da minha cabeça, as visões passavam rápido pelos meus olhos, turvas e aleatórias, mas todas tinham algo em comum: aquela viagem, aquela garota de olhos cor-de-mel que tinha mudado tudo.
Uma a uma as peças iam se encaixando formando aquela horrenda verdade. Eu estou morrendo, e a Beatrice não estava ali para me dizer adeus.

-Sr.Fireberg, você recebeu alta. Está livre para sair do hospital. - a voz assustadoramente sem emoção da enfermeira tinha me trago de volta ao mundo.

-Alta? - estava tentando assimilar tudo aquilo, de repente nada fazia mais sentido algum. - Como assim alta, se eu estou morrendo?

- Você entrou no hospital com queixas sobre suas pernas. Elas já estão perfeitas, senhor.

Olhei para minhas pernas incrédulo, tinha me esquecido completamente que em algum momento elas estiveram totalmente ferradas.

Foi então que notei que a minha pergunta que eu estava tão ansioso para fazer tinha sido perdida em algum lugar da conversa.
Decidi retoma-la do mesmo jeito, afinal ela não tinha sentimentos mesmo.

-Enfermeira, o que aconteceria se eu tivesse um coração artificial,a doença me mataria do mesmo jeito?

- Senhor, seu sangue ainda seria o mesmo. Estaria contaminado do mes....

-Sim , mas eu morreria? - a interrompi.

- VIRAE só afeta o coração de acordo com os estudos, se ele não pode adoecer então... - ela parou, e vi ela expressar a primeira emoção desde que a vi pela primeira vez : surpresa. - o paciente não sofreria nenhum sintoma.

Eu não pude deixar de sorrir, aquilo foi música para meus ouvidos, agora eu tinha certeza. Podia dar certo, Armando tinha me salvado mais um vez.

-Mas o senhor precisaria de um coração artificial senhor, não temos essa tecnologia na I.S.L.A. - a enfermeira mostrava entusiasmo e estranhamente um pouco de tristeza.

- Eu arranjo um. - disse em súbito.

- Senhor....

- Eu posso conseguir um! - elevei minha voz , mesmo não sabendo exatamente o motivo - Eu só preciso saber de uma coisa.

- Qual seria senhor? - ela tinha perdido a postura robótica, ela se apoiava no final de minha maca com as duas mãos , um mecha de cabelo caiu sobre seu rosto.

- Quando eu consegui-lo vocês poderiam fazer a operação?

Ela sorriu, um sorriso melancólico e ao mesmo tempo entusiasmado.

- Se ele se mostrar funcional e seguro. O hospital terá o prazer de faze-lo.

....

Eu não tinha nem sequer deixado eles me darem minhas antigas roupas, andar era dificil mesmo assim. Minhas pernas pareciam fracas e brancas demais, mas estavam realmente muito boas a unica coisa coisa que tinha sobrado dos cortes horriveis que Madame Navalha tinha deixado em minha carne era grandes cicatrizes.

A cada passo que eu dava em direção ao porto era um passo mais perto da minha própria existência.
Uma mescla de emoções se formava dentro de mim a medida que o sol da tarde esquentava minha pele.
Quando cheguei no Secret Teller ele parecia estranho , sem sentido.
Sem a Beatrice aqui , aquele pedaço flutuante de madeira, metal, fibra de vidro e lembranças parecia nada mais nada menos que uma casca vazia.

A Ilha da Felicidade : O PactoOnde histórias criam vida. Descubra agora