Dia 10 - Lazaro

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Talvez hoje de manhã tenha sido um pouco agitado demais.
É mais ou menos meio dia agora, e eu estou pendurado no mastro pelas mãos, Beatrice está no meu lado na mesma situação.
Pelo menos vou ter uma companhia de morte. Vai ser divertido.
Como isso aconteceu? Nada demais.

Nós dois só tentamos fugir com a ajuda de Rives, mas um marinheiro sóbrio, o que eu achei muito estranho, nos viu e saiu correndo para contar a capitã.

O plano tinha quase dado certo. Tinhamos convencido Rives a ajudar...está bem, Beatrice tinha convencido Rives a ajudar.
Mas eu estava presente, ok?

Tinhamos passado a manhã inteira planejando para sermos frustados pela unica coisa que não pensamos direito. A tripulação desobediente do navio.

A multidão de bêbados se abriu para a passagem da Madame Navalha que começou a falar enquanto passava os dedos na sua espada.

- Ora ,ora,ora. O que temos aqui?

Um marujo se pôs a gritar o mais rápido possivel. Acho que ele não entendia o significado de "pergunta retórica".

- Traidores minha capitã. O que faremos com eles?

- Primeiramente, você não vai fazer nada marujo.

Um burburinho de risos se deu no convés.

- Só eu que vou fazer qualquer coisa aqui. Minha tripulação, minha punição.

Ela caminhou sem pressa ao mastro, seu rosto na altura de minhas canelas.

- Logo você meu timoneiro? O que foi,não gostou da estadia?

Fui estúpido dando uma resposta sem pensar, tinha mesmo de parar com aquele hábito.

- Na verdade achei o chão bem sujo. A tripulação fede, e suas roupas são ridículas!

Pelo canto do olho vi Beatrice sorrindo, ela estava com os olhos fechados e no lugar onde levou uma pancada com um cabo de espada um filete de sangue escorria. Pelo menos estava viva o suficiente para ouvir as burrices que eu falava.

A cara da Madame Navalha tinha se fechado , vi uma das suas mãos erguendo-se rápido, num movimento que não consegui ver muito bem. Como quando agitados as mãos rapido demais e parece por alguns instantes que ela não existe.
Uns segundos depois senti um ardência muito forte nas canelas, olhei para baixo e minhas calças preferidas possuiam cortes muito grandes, sangue era tudo que se via no lugar onde deveria ser pele.
Um grito muito grave saiu de minha garganta em resposta.
Ela havia me cortado e eu nem tinha percebido.

-Deixe o garoto em paz! - A voz de Rives ritumbou pelo convés, grave e imponente.

Um soco na barriga foi tudo que ele ganhou em troca.
Suas mãos estavam amarradas atrás das costas por cordas, como algemas. Os pés seguiam a mesma ordem, estava ajoelhado e quatro homens o seguravam com força.
Mesmo assim dava a impressão de que ele podia sair dali a qualquer momento, mas algo o impedia de agir, alguém.

- Cale-se Rives, ou eu corto cada pedaço desse navio!

Não tinha entendido muito bem aquela ameaça, mas ele tinha arregalado os olhos. Pensei em como o apelo pelos bens materiais pode ser doentio.

Ela se dirigiu devagar até Beatrice, e ergueu a espada bem devagar passando ela gentilmente sobre suas coxas.

- Não toca nela! - disse em imediato.

Navalha prendeu a atenção em mim curiosa ,semicerrou os olhos encarando Beatrice e depois um sorriso brotou no canto de sua boca.

Ela se afastou de Beatrice caminhando em minha direção, a dor em minhas canelas tirava minha visão de foco por uns instantes.

A Ilha da Felicidade : O PactoOnde histórias criam vida. Descubra agora